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Garotas, podemos nos desconstruir e reconstruir juntas

Lado M
Lado M
Published in
2 min readNov 28, 2016

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Nem sempre entendi o feminismo. Nem sempre achei a maioria das coisas que acho hoje. Mas pude me desconstruir e me reconstruir de novo. Ainda bem.

Lembro pouco das experiências de quando eu tinha 8 anos de idade, mas se tem uma coisa que nunca me saiu da memória era a minha insegurança e culpa. Tudo o que os outros faziam, pensavam e o modo como agiam comigo era culpa minha. Caso tirassem sarro de mim na escola, eu pensava: “Devo ter feito algo para merecer isso.”

Eu me culpava. Muito. Por tudo. Não sei como explicar isso.

Com o tempo, veio a competição feminina. Fui crescendo e vendo meninas com corpos mais esbeltos, peitos mais fartos e bundas mais empinadas que a minha. Tinha raiva delas. Era uma coisa inexplicável, que me fazia olhá-las das cabeças aos pés e imaginá-las como seres horríveis, sem ao menos tê-las conhecido. E ainda, de alguma forma, jogava a culpa em mim por não ter desenvolvido uns peitos dos quais tivesse orgulho.

Foi ficando pior: eu não via outras mulheres como amigas — fossem da minha idade, mais velhas ou mais novas — e acreditava quando escutava que mulheres são invejosas, maldosas.

Passei por algumas situações tensas no colégio. Um dia, em uma foto da turma para o dia de sei lá o que, não sai como deveria no frame — e as outras crianças não se calaram:

“Seu nariz é muito grande”.

“Seu dente parece o da Mônica”.

“Você tem que ficar no fundo da foto, sua girafa”.

E então, minha professora me abraçou. Nela, uma mulher, eu pude ver uma amiga..

Aquele abraço me tocou pra além da pele. Por que eu era daquele jeito? Por que eu levava a sério tudo aquilo que escutava?

Seria culpa dos filmes que assistia ou dos casos de família que rodavam na televisão? Seria culpa da propaganda sexista e da objetificação da mulher? Seria culpa dos meus ídolos, das músicas que tocavam nas rádios, do machismo e de todo mundo que reproduzia o machismo?.

Não sei quais são as respostas exatas, mas agora eu tento ser a pessoa que está ao lado daquela mina que também acha que a culpa é dela. Que acha que as mulheres devem brigar entre si por um “lugar” quando, na verdade, há espaço para todas. Sou aquela que briga, que luta, e que acredita que nunca é tarde demais para ver onde se errou — e consertar.

Aos poucos, eu estou me desconstruindo. E tudo começou graças a uma mulher.

Originally published at www.siteladom.com.br on November 28, 2016.

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