Ginecologia Natural, um Podcast por Bel Saide

“Só com mulheres você retira uma função fisiológica básica e acha que isso é uma coisa razoável.”

Aline Fabre
Lado M
Published in
3 min readAug 4, 2020

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Ginecologia natural está muito longe de ser apenas sobre “tratar doenças com plantinhas”, e essa é uma das questões que Bel Saide esclarece para nós.

A carioca feminista é médica formada pela UERJ, especializada em ginecologia e obstetrícia, e é uma das primeiras a trabalhar com ginecologia natural no Brasil.

Sua página no Instagram e seu blog têm diversos conteúdos sobre ciclo menstrual, contracepção, cuidados naturais, distúrbios, além de cursos oferecidos de forma online. Neste ano, ela lançou seu programa de podcast “Ginecologia Natural — Por Bel Saide”, disponível no Deezer e no Spotify.

Nos 9 episódios produzidos até então, ela aborda com profundidade e exatidão tópicos sobre hormônios, corrimento, HPV, papanicolau, contracepção e por aí vai. Bel é comunicativa, coerente e objetiva, o que a permite desdobrar os assuntos em rápidos episódios de 20 a 30 minutos sem fazer com que a gente fique afogada em uma enxurrada de informações — pelo contrário, ela explica tin tin por tin tin todos os pontos e qual o posicionamento da ginecologia natural perante o tema. Como ela mesma descreve, a ginecologia natural é “essa nova visão sobre a saúde da mulher, com autonomia, libertação, autoconhecimento e empoderamento”, que olha a mulher de forma mais humanizada e “leva a gente ao entendimento mais profundo, e ao mesmo tempo mais sutil, e ao mesmo tempo mais diferenciado, do processo de adoecimento e de cura. O que é que leva aquela mulher a desenvolver determinados desequilíbrios ginecológicos? Por que que aquela mulher tem cólicas menstruais?”

Bel não força a barra para convencer a todas nós de que a ginecologia natural é o caminho que todas deveriam tomar — pelo contrário, ela balanceia muito bem os argumentos apresentando os pontos de ambos os lados, e destaca várias vezes que o importante é garantir que a mulher tenha conhecimento de todas as opções possíveis que possui para, então, decidir livremente o que ela julga melhor para si mesma (seja a respeito de um tratamento ou de métodos contraceptivos). O que acontece na maioria dos consultórios ginecológicos hoje é um automatismo na forma como as pacientes são direcionadas, com pouca troca médico-paciente e praticamente nenhuma humanização.

“Vamos contra uma indústria muito poderosa [farmacêutica], conceitos arcaicos que muitos jamais abandonarão, colegas de profissão que por não compreenderem ou não concordarem talvez tentem reprimir ou ridicularizar, sociedade patriarcal e machista que não tolera o feminismo e seus desdobramentos.”

Com o passar dos anos, a ginecologia natural tornou-se um tema hypado (encontra-se facilmente infinitas páginas no Instagram tratando do assunto), mas muitas vezes abordado de forma superficial, não responsável e por pessoas não suficientemente capacitadas. Exatamente por isso o podcast de Bel Said é não só esclarecedor como necessário! É muito importante ouvir uma médica da própria área falando, pois ela sabe embasar suas explicações com dados científicos, clínicos e biológicos, traduzindo-os numa linguagem de fácil entendimento e que conversa com a realidade palpável de quem convive com uma rotina ginecológica.

“A alopatia, infelizmente, ela tá muito relacionada à indústria farmacêutica. À indústria farmacêutica interessa essa perpetuação dos sintomas, interessa que a pessoa alivie o sintoma com o medicamento e daqui a pouco aquele sintoma vai retornar porque você não encontrou a causa, você não combateu a causa, então aquilo cedo ou tarde retorna, e a pessoa vai voltar a buscar um medicamento, até que ela vai acreditar realmente que ela é dependente daquele medicamento […] porque se ela para de tomar, ela volta a apresentar o sintoma. […] Há uma indústria que lucra com isso. E a ideia das medicinas integrativas de uma forma geral e das medicinas naturais é que você vá mais a fundo e busque o porquê isso tá acontecendo. Não é pra ser assim: menstruação não é pra doer, não é pra todo mês você ter candidíase.”

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