Girlboss pode ser chamada de feminista e girl power?

Cris Chaim
Lado M
3 min readMay 29, 2017

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Um emprego medíocre apenas para ter seguro-saúde, uma relação péssima com o pai, uma amiga parceira, um (ou dois) paqueras e o sonho de ser rica: essa é a fórmula de Girlboss, série da Netflix lançada em abril que vem sacudindo o mundo da moda. A série é baseada no bestseller homônimo do New York Times e autobiografia de Sophia Amoruso, fundadora do que já foi um dos maiores e-commerces de moda feminina e que inclusive teve lojas físicas em pontos disputados de Los Angeles.

Britt Robertson, que aos 27 anos já fez mais de 25 filmes e programas de televisão, ficou morena para a série e cortou uma franjinha fofa que me fez ir até o banheiro no meio da noite e arriscar um corte caseiro (não deu certo, não tente em casa). A atriz interpreta a protagonista Sophia como uma menina arrogante, mimada e egoísta e isso traz alguns problemas para sua vida. Sem limites e com poucas noções de moral a garota tenta passar a imagem de uma menina sensível que quer ser independente realizando o sonho de seu e-commerce.

Sophia vive de subempregos e bicos, mas por uma jaqueta de couro, comprada por poucos dólares em um brechó e revendida online por centenas, se anima com sua lojinha no eBay, até então sem grandes vendas. A partir daí, ela passa a garimpar peças antigas e personalizá-las. Em pouco tempo, a loja começa a se destacar e a vida de Sophia vira de ponta cabeça.

“Feminismo” de Sophia

Alguns críticos veem Girlboss como uma série sobre empoderamento feminino e Sophia com um símbolo do movimento feminista. Realmente, ela passa por muitas dificuldades, mas mesmo assim persevera em seu empreendimento e acaba tendo muito sucesso. Porém, o respeito a outras mulheres, a sororidade e a própria luta por direitos iguais entre homens e mulheres são nulos.

Ela faz piadas sobre uma manifestante feminista na rua que a aborda, ridiculariza e desdenha de sua chefe, não valoriza a amizade de Annie, sua melhor amiga que se desdobra em mil para atendê-la, e outras colegas, também donas de lojas online, são debochadas e desrespeitadas. Até o namorado, Shane, e o pai são vítimas de seus ataques. Sophia não se importa com ninguém e quer passar por cima de todos, sendo homem ou mulher. Ela age conforme seu interesse e usa as pessoas como lhe podem ser úteis no momento. Empatia e respeito são coisas que passam bem longe.

O grande problema disso tudo é que essa personalidade rebelde sem causa é vendida como algo descolado e divertido que poderá te levar ao sucesso. Sophia no final é uma menina branca, de classe média, bonita, magra e orgulhosa demais para assumir seus erros. E, na vida real, a empresaria já é conhecida por ter construído seu império, agora falido, por meios não tão éticos e corretos.

Sim, para empreender e ser bem sucedida você precisa enfrentar desafios, bater de frente com algumas pessoas e ter um tanto de auto-confiança. Entretanto também precisa engolir muito sapo, ter empatia com seus colegas de profissão e concorrentes e respeitar quem te ama.

Girlboss não é uma série feminista, tão pouco empoderadora. Também não é comédia nem drama. É um amontoado de cenas que contam a história de uma menina chata que atropela todo mundo para provar que não precisa provar nada para ninguém, quando ela podia ao menos atender os telefonemas de seu pai.

O máximo que tirei da série foi a franja, algumas dicas de moda e principalmente como não me comportar. Afinal, se alguém não tem nada de bom, serve pelo menos como mal exemplo.

P.S.: Agora uma coisa que precisa ser dita é que muitos protagonistas homens têm a mesma postura de Sophia e, mesmo assim, são admirados e chamados de fodões. Se você concordar com a crítica feita à Sophia, não esqueça de avaliar a sua postura em relação aos personagens homens de outros seriados também.

Originally published at www.siteladom.com.br on May 29, 2017.

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Cris Chaim
Lado M
Writer for

Empoderamento feminino, aceitação corporal, drinks e livros