#GiveElsaAGirlfriend: Elsa pode ser lésbica?

Lado M
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3 min readJun 13, 2016

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Texto por Clara de Araújo e Gabriella Feola

O filme Frozen — Uma Aventura Congelante, lançado pela Disney em 2013, ergueu a bandeira feminista ao demonstrar a independência de Elsa, quebrando com o ideal de felicidade alcançado apenas por meio do casamento com um príncipe encantado. Além disso, a música Let It Go, interpretada pela personagem, tornou-se um hino para a comunidade LGBTQ+, já que sua letra fala sobre liberdade e aceitação.

A princesa não só quebrou estereótipos, como também, recordes. O filme se tornou tão popular que, pela primeira vez na história, Barbie não foi a boneca mais vendida do ano. Contudo, é preciso lembrar que Elsa não inovou sozinha. Valente, produção da Pixar de 2012, também apresentava uma protagonista forte e ousada. A princesa Merida, que recusava a ideia de casamento, lutou por sua autonomia, provando-se mais capaz de cumprir tarefas (consideradas masculinas) que seus pretendentes.

De fato, Merida fez diferença no cenário da cultura pop, mas não chegou a conquistar o público como Frozen. Em Valente, o conflito gira em torno da relação entre família e suas tradições. A mãe é vista como a figura repressora por tentar enquadrar Merida na sociedade machista da época, enquanto o pai é o homem compreensivo que se omite em discussões. Já em Frozen, o foco está no afeto entre irmãs, e as possíveis relações românticas sugeridas durante o enredo ficam sempre em segundo plano, isto é, o final feliz — que também quebra a ideia de que o “beijo de amor verdadeiro” só pode ser entre um casal heterossexual — não depende do príncipe.

Todos esses fatores fizeram com que, a partir do anúncio do lançamento de sua continuação, previsto para janeiro de 2018, fãs se mobilizassem e criassem a hashtag #GiveElsaAGirlfriend, na esperança de que Elsa fosse a primeira princesa lésbica dos contos de fada. A própria Idina Menzel, sua dubladora original, demonstrou apoio à ideia de “saída do armário” em Frozen 2. Esta é uma possibilidade polêmica, considerando que, enquanto o público LGBT torce para que se torne realidade, oferecendo visibilidade às lésbicas, os conservadores afirmam que não gostariam que esse tipo de conteúdo atingisse seus filhos. Além disso, outra questão deve ser levada em conta: será que Elsa precisa mesmo de um par romântico?

Esse questionamento reflete tanto um conservadorismo enrustido, quanto uma preocupação sobre a possibilidade de a sequência perder o tom do primeiro filme, voltando-se ao ponto de que a felicidade só existe com o casamento. Manifesta-se com o intuito de garantir que o público que aceitou uma princesa “solteirona” não a rejeite ao concluir que ela só escolheu ficar sozinha porque, na verdade, ela não gostava de homens. Ainda que não tenha essa intenção, a negação de uma namorada para Elsa em favor da independência dela, acaba reforçando o discurso homofóbico que rejeita a ideia.

O impasse e a solução estão justamente na forma como o tema será abordado. Por se tratar de um filme infantil, especulamos que, caso a namorada de Elsa realmente seja incluída no roteiro, a relação seria mostrada de forma didática e até mesmo pedagógica, com indícios subliminares de lesbianidade — como uma amizade que dá abertura para outras interpretações, por exemplo.

Para que o relacionamento de Elsa com outra mulher não seja visto como o fim de sua jornada independente, é preciso que seja colocado num plano paralelo, em que a relação não é o ideal de felicidade da personagem, mas configura um companheirismo que ajuda na busca de tantos outros objetivos. Precisamos ter em mente que é completamente possível uma personagem poderosa e independente como Elsa se casar, afinal, lesbianidade não é sobre depender emocionalmente de outra mulher, mas sim, sobre amá-la.

Originally published at www.siteladom.com.br on June 13, 2016.

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