Gordofobia: um neologismo ou um preconceito?

Lado M
Lado M
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3 min readJul 6, 2014

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Muitos podem até não aceitá-lo, mas a gordofobia é um preconceito é real e diário. Esta pauta me deixou mais apreensiva do que as demais porque trata de um assunto muito próximo a mim, e por isso seria muito difícil manter a imparcialidade. Pela falta de tratamento jurídico, o texto de hoje passa a ser muito mais biográfico, quase um texto de blog do que propriamente sobre Direito. Entretanto, antes de começar, gostaria de deixar bem claro que usarei a palavra “gordo” durante o decorrer do texto, já que ela é só um adjetivo que identifica uma característica como qualquer outra, seja “alto” ou “fino” e, portanto, não deve ser associada tão fortemente a aspectos negativos.

Assim como a maioria das pessoas, eu sou uma pessoa normal. Sou uma filha amiga, uma filha, uma namorada e uma estudante. O que me difere é o fato de eu ser gorda. Sou uma das milhares, senão milhões de pessoas, que têm seus pesos e alturas quantificados numa conta que gera o IMC. E o meu é superior à 30, obesidade já. Ok, leitoras e leitores, não vou falar que a minha vida é um drama porque eu sou gorda, senão estaria mentindo. Eu, a Mamah que reside em outra página do facebook, tenho uma vida normal e até encontro roupas legais.

Infelizmente, não é o caso dos outros gordoluchos da “classe” plus size. O preconceito e a pressão saem do campo da preocupação com a saúde da pessoa quando ela se depara com a imagem de um personagem gordo sendo ridicularizado na mídia ou quando todas as imagens vinculadas às pessoas gordas são associadas à doenças. Saímos do campo do aceitável quando nos deparamos com a ideia de que um corpo grande, independentemente da genética ou de qualquer outra interferência, é taxada de ruim.

Só para vocês terem uma ideia, segundo algumas pesquisas que andei fazendo, pessoas gordas (imagino que as muito obesas), precisam fazer cerca de 40 entrevistas a mais que os magros até encontrarem emprego. Sinceramente, eu não enfrentei tantas dificuldades assim, mas exemplos não faltam.

Diante de frases como “Que horrível, não é saudável viver assim!”, “Faz a dieta da proteína, você vai enxugar rapidinho” ou “O segredo é comer menos e gastar mais”, podemos identificar aqueles que se preocupam com a pessoa e aqueles que têm a intenção de criticar porque se incomodam com a gordura alheia. A gordura é associada à doença, à preguiça, à moleza e, até mesmo, à falta de caráter.

Ok, mas e o que isso tem a ver com o Direito? Por enquanto, e infelizmente, nada. Diante de um grupo que vem crescendo e sofrendo preconceito em massa há décadas, não houve nenhuma criação ou projeto de lei que versasse sobre a proteção da dignidade das pessoas gordas.

Fazendo uma comparação com os negros, por exemplo, os gordos não possuem nenhuma proteção jurídica específica. Após séculos de escravidão, os negros ganharam proteção constitucional na forma do crime de racismo. Outros grupos, como idosos, crianças, mulheres e, futuramente, gays ( Projeto de Lei 122, analisado na edição anterior), possuem leis específicas que os protegem de agressões físicas, morais ou verbais.

Os gordos não. Sob a redoma do discurso da saúde, muitas pessoas se dão ao direito de hostilizar e agredir pessoas gordas. Muitos consideram que os gordos são menos merecedores de uma vida normal em sociedade e se dão o direito de praticar bullying ou fazer exclusões em processos seletivos sem nem verificar as qualificações da pessoa para aquela vaga, porque o candidato, por estar acima do peso, é visto como doente ou preguiçoso, por exemplo.

Se um grupo está cada vez mais em evidência e sofre hostilizações veladas ou explícitas em grande escala, por que o Direito não atua? Talvez o próprio mundo jurídico seja retrógrado ou gordofóbico o suficiente para não aceitar as diferenças, independentemente de serem saudáveis ou não.

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Originally published at www.siteladom.com.br on July 6, 2014.

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