Série Guerreiros da floresta apresenta a luta indígena para defender a floresta amazônica

Camilla Freitas
Lado M
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4 min readFeb 20, 2019
Série estreia na noite desta quarta-feira (20) no Canal Futura. Foto: divulgação

A série Guerreiros da Floresta conta a história de três indígenas de comunidades distintas que buscam defender-se da presenças de madeireiros, grileiros e fazendeiros que anseiam ocupar a terra que pertence aos indígenas e, por consequência, desmatar a floresta Amazônica.

Para a construção da série, a diretora Andrea Pilar Marranquiel esteve imersa durante 3 meses com esses povos, junto com sua equipe. Os Yanomamis, representados por Davi Kopenawa, vivem em Roraima; os Huni Kuin, apresentados por meio do líder indígena Ninawa Huni Kuin, estão no Acre; enquanto a comunidade dos Paiter Suruí, localizada no estado de Rondônia, nos é apresentada por Almir Suruí.

Questões ligadas aos direitos humanos — ou a falta deles, como é o caso dos Povos originais — sempre estiveram presentes em meu trabalho como jornalista e na minha vida como cidadã. Portanto não foi uma escolha de gênero, mas sim um reconhecimento sobre as ações desses indígenas que se tornaram meus amigos. Andrea Pilar Marranquiel

A série contará com 13 episódios com duração de 26 minutos cada e as imagens são de tirar o fôlego. De pequenos detalhes da floresta e das comunidades à grandes ângulos abertos que nos colocam a dimensão territorial do ambiente tratado, tudo é colocado não só de maneira ilustrativa, para ser belo, mas como componente de uma narrativa: a de que a floresta é imensa, linda e rica, mas que está, sim, sendo destruída e ameaçada constantemente.

Trailer da série Guerreiros da floresta

A narrativa escolhida pela diretora é imersiva e sensível. Os narradores de suas histórias são os próprios indígenas, eles são colocados em primeiro plano, contando sobre si e sobre o ambiente onde estão, não há a intervenção do repórter em questão. Por mais desafiadora que seja, essa escolha narrativa nos dá uma ideia mais humanizada e íntima do tema.

Não são apenas indígenas defendendo a sua terra, são indígenas, de comunidades distintas, de ambientes distintos, com técnicas distintas, cada um fazendo o que está a seu alcance para proteger a Amazônia de quem quer destruí-la.

O fato de serem apenas três personagens, cada um colocado em um momento (os episódios são divididos em três blocos, cada um com um personagem) não atrapalha o andamento da série e a curiosidade de quem a assiste.

Líderes mulheres?

O ponto negativo da série é a falta de protagonistas feminina. São três comunidades apresentadas e em nenhuma a líder é uma mulher. Em reportagem de março de 2018, a jornalista Thais Lazzeri, da Repórter Brasil, publicou um texto cujo o título se assemelha ao da série, “Guerreiras da floresta” enfrentam madeireiros em defesa de terra indígena. A matéria mostra a luta de mulheres indígenas para proteger a Amazônia. Logo, não se trata estritamente de algo que não acontece nas comunidades indígenas brasileiras, muitas patriarcais.

As mulheres estão presentes, sim, na luta pela preservação da maior floresta tropical do planeta e poderiam ter sido mostradas. Contudo, à imprensa foi apresentado apenas dois episódios, as lideranças femininas podem aparecer ao longo da série, mas, infelizmente, devido a escolha narrativa, não como protagonistas.

Também yanomami, Ehuana é outra indígena que protagoniza transformações. É pesquisadora indígena, ajudou a criar um livro sobre menstruação e dedicamos um bloco inteiro a sua história. Nos huni kuin as mulheres são extremamente ativas, não só no trabalho diário. Andrea Pilar Marranquiel

O portal Amazônia Real também fez uma reportagem sobre mulheres indígenas que defendem seu território.

A transmissão da série no Canal Futura é fundamental para entender qual seu objetivo, principalmente no contexto político atual, no qual a Funai sai do Ministério da Justiça passando a fazer parte do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e deixa de ter o papel de demarcação de terras indígenas ao mesmo tempo em que, em discurso de campanha, o atual presidente Jair Bolsonaro, alegou que, em seu governo, nenhuma terra indígena seria demarcada.

“A série estreia num momento de transição política das mais importantes de nossa história recente. Esperamos que os temas aqui abordados promovam, de alguma forma, um debate consciente e tão necessário para as demandas indígenas e a relação harmoniosa entre todos os povos”, contou o produtor Marcelo Braga, da Santa Rita Filmes, produtora da série.

Por sua vez, a gerente de conteúdo do Canal Futura, Debora Garcia, entende que o papel educacional do canal é importante para que a série, e o conteúdo que ela traz, sejam discutidos nas escolas.

Guerreiros da floresta é uma série que vale a pena tirar um tempinho para assistir. Em meio ao bombardeio de notícias locais e políticas, esquecemos das populações do campo e, em meio a eles, os indígenas, que estão constantemente em ameaça de perda de território sendo que, este território, faz parte de biomas fundamentais para a manutenção do equilíbrio climático e biológico do nosso país e, de maneira mais macro, de todo o planeta.

Esse texto foi atualizado no dia 05 de março de 2019 para acrescentar as aspas da diretora da série Andrea Pilar Marranquiel.

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