Desnuda, um das três revistas do Projeto Quadrada, de Lila Cruz

HQ’s Femininos: conheça Lila Cruz

Maria Alice Gregory
Lado M
Published in
5 min readMay 12, 2015

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Diretamente de Salvador, na Bahia, a Aline Cruz (ou Lila, como é conhecida entre os amigos) é uma jornalista e quadrinista. Ela expõe suas ilustrações em galerias na vida real e produzir zines super interessantes.

Um dos projetos é o Projeto Quadrada. Como a própria Lila explica em seu projeto:

“ano passado comecei a escrever várias histórias de uma vez. É tanto que demorei horrores para terminá-las (e olha que ainda falta mais uma), e até que enfim terminei. Ufa!”

Trata-se, a rigor, de três revistas de histórias em quadrinhos produzidas pela Lila, com propostas bem diferentes entre si, mas igualmente interessantes. De memórias da infância à descobertas pessoais sobre ansiedade, relacionamentos abusivos e outras reflexões pessoais, Quadrada acaba passando por toda uma gama de temas e sentimentos com os quais você pode se identificar (e eu sei que eu me identifiquei com vários deles!).

As três revistas são intituladas Desnuda, Nostálgica e Ansiedade(s).

Abaixo, você pode conferir um pouco sobre cada uma nas palavras da própria Lila:

“A Desnuda tem 24 páginas e conta com várias histórias curtas: fala de constrangimento, desilusão amorosa, de rir de si mesma, de terminar, recomeçar, de bagunçar tudo e se tornar power ranger”

“A Nostálgica tem 16 páginas e é uma junção de quatro histórias de quatro páginas, que falam da maluquice que foi a infância no meu bairro, a diversão de ser uma criança com acesso a um bocado de coisas que crianças — já quando eu era criança — , não tinham muito, como apostar pra ver quem sobe na árvore mais alta, tomar banho de fonte, correr e se estabocar na lama, quebrar o óculos jogando bola…enfim, nostalgia mesmo, pura”

“A Ansiedade(s) é uma revista de 16 páginas, com vários quadrinhos curtos que tratam de um tema comum a todo mundo — a Ansiedade. E por outro lado, trata também da versão piorada deste tema, o transtorno de ansiedade, coisa com a qual tive que conviver toda a infância e adolescência, já que só tive diagnóstico aos 20 anos de idade, após um relacionamento abusivo que piorou o transtorno. Decidi falar sobre o tema depois de muito tempo porque abuso e transtornos são dois assuntos muito difíceis de encarar de frente. Então demorei até tomar coragem, mas tomei, e tá aí — quem sabe ajude alguém que passa por isso”

Quadrinho presente na revista “Ansiedade”

Para entender um pouco mais sobre o projeto e sobre a própria Lila, o Lado M teve uma conversinha rápida com ela, que você pode conferir abaixo:

Conte-nos um pouco sobre você. De onde você é? Com o que você trabalha? Como entrou em contato com o mundo dos quadrinhos? Há quanto tempo você desenha?

Me chamo Aline, mas todo mundo me chama de Lila. Sou de Salvador, Bahia, e trabalho com jornalismo, ilustração e quadrinhos. Desenho há mais ou menos uns quinze anos, mas comecei a levar a sério mesmo, estudar e tal, na faculdade de jornalismo, quando o pessoal passou a me pedir pra desenhar pra jornal isso, revista aquilo…

Você mencionou que já expôs algumas de suas ilustrações. Como foi isso?

Minhas primeiras exposições foram em coletivos que participei, em algumas galerias de Salvador. Depois fiz uma exposição solo, que era uma história em quadrinhos que montei nas paredes da galeria, sobre o surgimento de gnomos de jardim. Era uma exposição pra crianças, e foi bem divertido, mas foram mais de 40 quadros em aquarela, foi bem cansativo! Esse ano fiz a curadoria de uma exposição de mulheres cis e trans artistas, também aqui em Salvador. Já mais pro fim do ano vou ter outra solo, mas dessa vez vai ser uma coisa meio com temática espacial, hehe, pra criança também.

Qual foi a principal motivação pra dar um gás nesses projetos do Desnuda, Nostalgia e Ansiedade(s) na forma de um projeto só? Como tem sido a sua experiência com o crowdfunding até agora?

Ó, a minha motivação foi parar de acumular projeto e terminar logo tudo, porque eu sempre fico nessa de fazer os quadrinhos e não dou encaminhamento. Queria ter algo produzido, físico, que pudesse levar também pra feiras e festivais. E crowdfunding é um teste pro psicológico, pro corpo também, porque é uma batalha! Você fica sempre no limite entre “estou calmo” e “vou surtar”. Você sempre se inspira em coisas do seu dia a dia e de sua vida pessoal para produzir suas HQs? Ou procura abordar temas mais abrangentes? Eu sempre me inspirei no cotidiano. E especialmente depois do transtorno de ansiedade, achei que isso podia ser representado, e podia também ajudar alguém a identificar, caso esteja passando pela mesma situação, e buscar ajuda. O mesmo pra abuso em relacionamentos. Mas também tento misturar meu cotidiano com outras coisas, e às vezes busco dar uma viajada nas histórias, fugir completamente da minha vida. Agora, essas são mais difíceis pra mim, porque saem da minha zona cotidiana. rs. Essas só vou publicar mesmo mais pra frente. Agora acho que é o momento de fechar um ciclo também.

Como tem sido recebido o seu trabalho na página do facebook e no catarse? Teve algum feedback que te chamou atenção?

Nossa, sim, um monte de feedback legal! O mais divertido pra mim é notar quando há identificação das pessoas com assuntos que abordo, especialmente quando são cotidianos, constrangedores, engraçados. Quando vejo alguém dizendo pros amigos “nossa, sou eu!” ganho o dia. Hoje mesmo um pessoal compartilhou uma história minha onde falo que queria ser uma power ranger, pra morfar nas horas difíceis. Todo mundo dizendo em caixa alta “Hora de Morfar!”e escolhendo que ranger queria ser. Fiquei me divertindo na frente do computador.

Você se considera feminista? E além disso, acha que a mulher é bem representado no mundo dos quadrinhos atualmente?

Sim, com certeza. Sou feminista, e procuro trabalhar com isso sempre, tanto quando sou a artista de uma exposição, quanto quando escrevo sobre algo, quando faço curadoria, quando edito uma revista. Especialmente porque o espaço para mulheres cis, travestis, transexuais, pra toda a diversidade que existe ainda é muito privado. O meio dos quadrinhos, em pleno 2015, ainda é dominado por homens e pela heteronormatividade. E existe um trabalho muito forte de mulheres quadrinistas e ilustradoras para abrir caminho, crescer, reivindicar espaço. Espero estar contribuindo também.

Não deixe de conferir mais sobre a Lila e suas produções acessando sua página no twitter e, se você curtiu a proposta do Projeto Quadrada, dá uma passadinha no Catarse pra ver como você pode ajudar!

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Originally published at www.siteladom.com.br on May 12, 2015.

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