Iniciativas do feminismo nordestino: ninguém segura as Marias Bonitas!

Lado M
Lado M

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No imaginário do preconceito popular os nordestinos são frequentemente associados à imagem da pobreza, da fome, da falta d’água e, por fim, da ignorância. A verdade, contudo, e aqui me permito parafrasear Euclides da Cunha, é que o sertanejo é, antes de tudo, um forte. E as mulheres nordestinas, mais do que tudo, a própria força.

Se você que está lendo este texto é paulista, gaúcha ou carioca, talvez pense que vive ali o antro do machismo brasileiro. Sinto lhe desapontar: o Nordeste é feminista sim. Muito mais do que nós, que estamos na outra ponta do mapa tupiniquim, podíamos imaginar. Descubra agora algumas das iniciativas feministas nordestinas que vem revirando a cultura do Lampião para dar luz às mais arretadas Marias Bonitas desse Brasil.

O feminismo pernambucano

Casa da Mulher do Nordeste

Uma das mais antigas iniciativas feministas ainda em vigor no solo pernambucano, a Casa da Mulher do Nordeste divide com a SOS Corpo a alcunha de ter sido fundada ainda nos tempos da Ditadura. Com o objetivo de contribuir para a autonomia econômica e política das mulheres através do feminismo, a CMN realiza projetos educativos de formação econômica, assessorias técnica e social, acesso a recursos financeiros e auto-organização política das mulheres.

Hoje, com dois escritórios, um em Recife e outro em Afogados de Ingazeira, no sertão, a CMN possui parceiros e recursos que ajudam a levar para as mulheres da cidade e do meio rural pernambucano, conhecimentos que impulsionam sua busca por autonomia e independência financeira. A ONG já tem diversas publicações em seu nome e pode ser considerada a primeira organização brasileira a incorporar à sua missão as questões da relação da mulher com o trabalho.

SOS Corpo

Fundada em 1981, a SOS Corpo — Instituto Feminista para Democracia está entre as mais importantes organizações feministas de Pernambuco. Atuando em três áreas principais, educação, pesquisa e comunicação, a SOS Corpo é responsável, dentre outros, por um estudo de mais de trinta páginas sobre os impactos da Copa de 2014 na vida das mulheres pernambucanas.

Realizando seminários, pesquisas e ações educativas, o Instituto é hoje um dos pilares do feminismo no Nordeste, recebendo até mesmo o apoio da ONU Mulheres. Sua sede é centro de debates sobre as questões da mulher brasileira em Pernambuco.

Agenda Feminista

Em um estado cada vez mais repleto de iniciativas feministas, Jaqueline Pinheiro sentiu que organizar os eventos e debates em uma agenda se tornava cada vez mais necessário. Foi então que surgiu, há três meses, a Agenda Feminista PE, uma página no Facebook voltada para a divulgação de seminários, oficinas, manifestações e demais iniciativas ligadas ao feminismo no calendário das pernambucanas.

“A Agenda Feminista PE surgiu apenas para sanar uma necessidade que já existe, foi criada para ser mais uma ferramenta de mobilização para a luta, sem nenhuma pretensão de criar nada extraordinariamente inédito”, comenta a idealizadora, que assistiu seu projeto atingir 500 curtidas no Facebook apenas nos três primeiros dias de existência. Se antes Jaqueline precisava “garimpar” os eventos, agora já consegue ver surgir inboxs e e-mails que anunciam as datas para a agenda: “ela só é possível assim [com a colaboração dos demais projetos]”.

No sertão cearense, Feministas do Cariri

A região de Cariri, no sertão do Ceará, viu nascer, em uma tarde de sol, um polêmico ensaio fotográfico em frente à Igreja da Matriz, em Juazeiro do Norte. Da necessidade de realizar ações educativas em Direitos Humanos na região, Jarid Arraes teve a ideia de criar o Feministas do Cariri, ou FEMICA, que, agora inativo, agiu de 2011 até meados de 2015. O ensaio, de apoio às causas feministas, tocava também nas questões dos direitos LGBT e raciais.

“Com o FEMICA a gente realizava ações de rua envolvendo intervenções e panfletagem educativa, como uma ação Anti-Estupro e uma panfletagem que fizemos pelo Estado Laico. Também participávamos de eventos em universidades e faculdades, onde a gente também fazia intervenções e colagens”, conta a militante feminista. O coletivo teve sua mobilização diminuída com a ida de Jarid para São Paulo, onde ela atua agora na ONG Casa de Lua.

Do Rio Grande do Norte: Centro Feminista 8 de Março

Em 1993 não havia nenhuma Delegacia Especializada em Defesa da Mulher (DEAM), no município de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Para resolver o problema, as mulheres potiguares iniciaram ações que resultaram na criação naquele mesmo ano, do Centro Feminista 8 de Março.

A partir da auto organização de mulheres articulando feminismo com agroeocologia, economia solidária e convivência com o semiárido, o Centro Feminista realiza desde formação de grupos de mulheres para produção nos quintais à mobilização social através do movimento Marcha Mundial das Mulheres”, fala a comunicação do Centro. Antes pautada essencialmente na sensibilização da sociedade com a questão da violência contra a mulher, o Centro oferece hoje diversas atividades com a finalidade de proporcionar o fortalecimento das organizações de mulheres nos espaços sociais, em especial as trabalhadoras rurais, que passam por questões delicadas no que diz respeito ao machismo no campo, inserindo as mulheres deste espaço no movimento feminista nacional.

Das baianas, Instituto Odara

Falar em feminismo baiano requer falar também de feminismo negro. O Instituto Odara, de Salvador, busca através de seus programas superar a desigualdade racial e de gênero, bem como alternativas que proporcionem a inclusão sociopolítica e econômica das mulheres negras e seus familiares na sociedade.
Assim, promove ações com ênfase na formação política das negras, como a incorporação destas na Marcha Mundial pelas Mulheres e em debates sobre a educação quilombola.

Originally published at www.siteladom.com.br on December 18, 2015.

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