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Jovens estão 22% mais estressados e menos felizes do que há três anos

Lado M
Lado M
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6 min readJun 8, 2021

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A pandemia de covid-19 foi responsável pelo impacto em diversos aspectos da vida dos jovens, tanto no presente como as perspectivas para o futuro: relacionamentos, viagens, economia e finanças, trabalho, educação, saúde, política e questões sociais.

É o que mostra a pesquisa da ViacomCBS, “Beyond 2020 — Vozes e Futuros”, realizada em setembro de 2020 e em 15 países, entre eles EUA, Argentina, Austrália, Brasil, China, França, Alemanha, Itália, México, Holanda, Portugal, Singapura, África do Sul, Espanha e Reino Unido. Ao todo, foram 8.174 jovens entrevistados com idade entre 16 e 24 anos.

Dos entrevistados, 91% afirmaram que tiveram muitos planos interrompidos em 2020 (82% globalmente) e 92% disseram que 2020 fez com que eles repensassem o futuro (80% globalmente). Dentre as áreas impactadas estão saúde mental (66%), educação (62%), tempo com os amigos (59%), finanças (58%), trabalho (54%), viagens e férias (45%), tempo com a família (42%) e relacionamentos amorosos (30%).

E não foi apenas a pandemia que impactou a vida dos jovens: 75% também foram impactados por algo além dessa situação (73% globalmente), incluindo movimentos como Vidas Negras Importam, a morte de George Floyd nos Estados Unidos (52%), desastres naturais, protestos relacionados à mudança climática (43%) e eventos políticos (40%).

O estudo mostra que os jovens estão cada vez mais estressados e menos felizes: 55% dos entrevistados estão estressados; em 2017, eram 33%. Já em 2020, 51% dos entrevistados estão felizes, contra 73% em 2017. O ano de 2020 também foi usado como um período de reflexão: 55% responderam que estão ativamente envolvidos em movimentos sociais e campanhas por mudanças (54% globalmente).

A saúde mental dos jovens

As áreas mais impactadas variam em cada país. Passar o tempo com os amigos foi um dos assuntos mais sensíveis, ocupando o topo do ranking daAustrália, França, Holanda, Portugal, Singapura e Estados Unidos. No caso do Brasil e Reino Unido, saúde mental foi a área que mais se destacou, seguida por Educação.

Não à toa, 2020 definitivamente colocou a saúde no radar dos jovens — 87% dos entrevistados responderam que a saúde, tanto física como mental, será um foco maior na vida das pessoas (84% globalmente). 87% dos entrevistados acreditam que a saúde mental será um grande problema na sociedade (75% globalmente); 87% dos entrevistados acreditam que haverá mais abertura e aceitação nas questões relacionadas à saúde mental (83% globalmente).

Para o Dr. Junior Silva, psicanalista e especialista no assunto, no Brasil o percentual de preconceito para tratamento da saúde mental é grande e a depressão ainda é vista como frescura ou fraqueza: “Sabemos que é uma doença grave que só aumenta. O crescimento no meu consultório de jovens e adolescentes aumentou 200% com sintomas de depressão e ansiedade e por eles serem um dos mais atingidos nesta pandemia consegue ver esta realidade com mais maturidade. Acredito que vamos viver pós Convid-19 uma pandemia da saúde mental, as pesquisas nos têm sinalizado isso, porque não estávamos preparados para o que vivemos e as consequências estão vindo infelizmente”.

Segundo Rogéria Sprone, diretora pedagógica do Colégio Joseense, muitos jovens tiveram dificuldades para organizar rotina de estudo e manter o equilíbrio emocional: “Nesse último ano, devido a pandemia, todos os alunos enfrentam novos desafios, independente de qual ciclo de ensino ele está. Os principais desafios dos alunos não são propriamente o aparato tecnológico disponível ou falta de tempo, mas sim a ausência do equilíbrio emocional, de um ambiente tranquilo em casa e a dificuldade de organização para o estudo à distância. Muitos sinalizam a falta que sentem do professor, do ambiente escolar, dos amigos e falam que valorizam isso mais que antes da pandemia. Parece que precisavam estar limitados para que pudessem entender que, sozinhos, tudo fica mais difícil de se conseguir”.

Educação é motivo de orgulho para os jovens

Para os jovens, a educação é um motivo de orgulho: 71% dos entrevistados afirmam que sua geração será mais educada do que as gerações anteriores (76% globalmente). O aprendizado formal ainda será importante, mas a universidade não é o único caminho para o sucesso: 61% dos entrevistados acreditam que a educação escolar/universitária será menos importante do que é hoje (59% globalmente) e 52% dos entrevistados acreditam que os diplomas universitários serão cada vez menos requisitados para muitas carreiras (54% globalmente).

“Passamos muito tempo da nossa vida na escola e ela constitui uma experiência organizadora central na vida da maioria dos adolescentes. Além de obtermos informações e conhecimentos importantes, é na escola que também aprendemos novas habilidades, participamos de atividades, sejam elas esportivas ou artísticas, e ainda fazemos muitas amizades. A escola tem grande importância na aquisição de conhecimentos, mas também tem a função da socialização, já que ocupa grande parte do tempo na vida. Por se tratar de um ambiente coletivo, é onde eles aprendem a conviver em sociedade e adquirir valores, além dos já inseridos pela família”, conta Rogéria Sprone.

Empregos e finanças preocupam os jovens

A crise econômica causada pela pandemia colocou o tema emprego e trabalho em evidência: 57% dos jovens afirmam sentir que terão dificuldades financeiras no futuro (60% globalmente) e 50% dizem que os níveis de desemprego serão mais altos do que são hoje (56% globalmente). Diante desse cenário, ter estabilidade no emprego tornou-se a prioridade para os jovens brasileiros nos próximos 10 anos.

Para Dr. Junior Silva., a ansiedade tem um papel fundamental no pessimismo dos jovens com o futuro: “Para eles ainda é difícil ver que dificuldades são temporais e que tudo pode mudar. Sem contar que existe a cultura que tudo está ruim e pode piorar”.

Para Rogéria Sprone, é preciso que o jovem esteja sempre antenado e conheça os desafios o esperam no mercado de trabalho: “O ideal é já entender quais são as principais dificuldades e como se preparar para elas. Dessa maneira, será mais fácil trilhar um caminho de sucesso. Para isso é indispensável selecionar uma formação adequada. Estar na faculdade pode até não ser o único passo necessário, mas é o que vai ensinar a profissão que pretende seguir”.

Para a diretora, networking também é um ponto importante: “Como muitas vagas nem sequer chegam aos anúncios tradicionais, você deve se preocupar em fazer boas conexões. O jovem no mercado de trabalho precisa ter olhos no futuro, isso é especialmente importante por causa da grande concorrência e dos avanços acelerados. Novidades em termos de tecnologia, métodos e exigências surgem o tempo inteiro. Se você não ficar ligado, será deixado para trás e não conseguirá alcançar. Por isso, é fundamental se atualizar de maneira constante”.

Para os jovens, o ano de 2020 foi desafiador. No Brasil, a prioridade dos jovens é o combate ao crime e à violência. A saúde, especialmente a saúde mental, também precisa de maior atenção e apoio. Educar-se sobre questões sociais é fundamental e os jovens se sentem responsáveis pelas mudanças futuras.

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