Lily é o grande motivo para você assistir Penny Dreadful

Vanessa Panerari
Lado M
4 min readOct 10, 2017

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Atenção: este texto contém spoilers!

Penny Dreadful terminou em junho de 2016. Desde então, muitos fãs ficaram órfãos daquela que era considerada uma das melhores séries de terror e fantasia, por mesclar a origem de vários personagens da literatura de terror, como o doutor Victor Frankenstein, Dorian Gray e o Conde Drácula. A protagonista que roubava a cena era Vanessa Ives (Eva Green), uma mulher incrivelmente forte, mas sempre perseguida por fantasmas do passado ou pelas obsessões alheias. Porém, apesar de Vanessa ser considerada a grande estrela de Penny Dreadful, uma outra personagem merece nossa atenção: Brona/Lily (Billie Piper).

A história de Brona/Lily em Penny Dreadful

Todo o arco narrativo de Brona, desde antes de sua morte até seu “renascimento” como Lily, é permeado de machismo e de violências. Suas cenas retratam os abusos que toda mulher pode sofrer, de diversas maneiras e até mesmo partindo dos homens mais próximos.

A personagem foi introduzida ao enredo de Penny Dreadful como uma mulher que se prostituía para sustentar a filha. Depois de ver a criança morrer graças a uma tuberculose causada pelas condições precárias em que vivia, Brona também morre e é trazida de volta à vida pelo doutor Frankenstein, chantageado pela primeira criatura a quem deu a vida. A criatura exigia ter uma companheira que dividisse com ele sua vida miserável. Assim nasce Lily, que logo vira objeto de obsessão de Frankenstein.

Negando-se a servir como mero artefato de desejo da criatura ou de seu criador, Lily se une a Dorian Gray. Ele, a princípio, parece compreender sua necessidade de aproveitar a vida e a liberdade. No entanto, assim que decide promover uma revolução para mostrar o poder das mulheres, Lily é traída por uma inesperada união entre Gray e Frankenstein. Eles até então não se gostavam, mas formam uma clássica aliança machista quando percebem que o objeto de seus desejos contraria as suas expectativas.

Por que Brona/Lily é tão importante?

A trajetória de Brona/Lily nos traz elementos muito significativos, a começar por sua vida antes da tuberculose. Brona é abandonada à própria sorte por ter engravidado sem estar casada. Ao decidir criar a filha, ela se submete a uma vida cheia de humilhações, violência e precariedade para poder sustentá-la.

Nem em sua morte Brona pode desfrutar de alguma dignidade. Ainda recém morta, a personagem é trazida de volta por um homem que brinca de criador e joga com vidas. Agora como Lily, ela precisa usar toda a sua força para escapar de Frankenstein, da criatura que a deseja e também do homem que lhe prometeu uma eternidade de poder e liberdade, mas apenas se fosse do jeito dele.

Interessante notar que, durante toda série, tanto Frankenstein quanto a criatura demonstram máximo respeito e admiração por Vanessa Ives. Eles são muito caros a Vanessa, são seus amigos. No entanto, esses mesmos homens que tratam Ives com tanto esmero são os que objetificam Lily. Isso nada mais é do que um fiel retrato da nossa sociedade. O homem mais próximo de você, que sempre te tratou bem, pode já ter sido abusivo, violento ou desnecessário com outra mulher por pensar que existem mulheres que merecem respeito e outras que não. Enquanto Vanessa Ives podia contar incondicionalmente com seus fiéis amigos, Lilly precisava sobreviver a eles.

Outro ponto importante é que, em determinado momento, Lily passa a ser vista como louca, agressiva e sem limites. Que mulher nunca foi taxada de coisas semelhantes ao discordar de um homem? Ao se impor ou ao tentar mudar um status quo?

Lily é cada uma de nós

Lily foi traída e explorada mesmo depois de se tornar uma poderosa criatura. Sua trajetória evidencia que qualquer mulher está vulnerável ao machismo em suas mais diversas formas. Ela não representa apenas alguém que se tornou um monstro de Frankenstein. Ela é mais do que as expectativas de um homem. Por isso é uma personagem complexa, subjetiva e cheia de nuances. Não precisamos adorá-la, mas prestando atenção em seu percurso, é impossível não admirá-la.

Originally published at www.siteladom.com.br on October 10, 2017.

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