Mãe!, com Jennifer Lawrence, é um filme inesquecível — por bons motivos

Graci Paciência
Lado M

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Alguns filmes se tornam clássicos por dividirem opiniões. Ao mesmo tempo em que são vaiados em festivais importantes, provocam seu público de maneira positiva e conseguem deixá-lo pensativo. Mãe!, o novo filme de Darren Aronofsky, conhecido por Cisne Negro, Pi e Réquiem Por um Sonho, tem essa característica.

O enredo

Mãe! é um filme em que a maioria dos personagens não têm seus nomes mencionados na narrativa. Ele é protagonizado por Jennifer Lawrence, que está absolutamente arrasadora no papel de uma esposa dedicada de um escritor premiado que não consegue escrever nada há algum tempo. Ela passa dia após dia reconstruindo a grande casa em que vive com o marido, interpretado por Javier Bardem. Eles vivem tranquilamente na região rural, afastados de tudo.

A rotina do casal é alterada com a chegada de um médico, interpretado por Ed Harris. Ele chega no meio da noite e é convidado pelo marido a passar a noite na casa. Este é o primeiro momento em que podemos perceber que, enquanto esposa, Lawrence não tem voz ativa na casa. Ela não é consultada antes de qualquer decisão ser tomada. A presença do médico incomoda a mulher, mas a situação piora quando a esposa deste (Michelle Pfeiffer, que também arrasa) chega à casa. Além de ter uma postura intrusiva, ela exibe sua sensualidade e a paixão presente na vida sexual com o marido, enquanto aponta falhas na relação do casal protagonista.

O machismo como personagem em Mãe!

Nessa situação, podemos perceber algumas das consequências de um modelo de sociedade em que as vontades do homem são prioridades. A personagem de Lawrence (vamos chamá-la de Mãe) está insatisfeita com a situação em que foi colocada pelo marido, mas direciona toda a sua desconfiança na mulher desconhecida.

Trata-se mesmo de uma mulher que incomoda. No entanto, o que chama atenção é a ideia de que o marido nunca pode ser contrariado. Suas vontades devem ser sempre aceitas, além de ele, supostamente, sempre ter o controle da situação. Ele tem seus tesouros materiais e a privacidade de um escritório próprio, mas não sabemos o que é importante para ela, além do casamento.

A partir desta estadia não planejada, a vida do casal protagonista muda de maneira que eles não poderiam imaginar. Mãe! se revela uma narrativa que aborda passagens importantes da Bíblia, sacrifício, esperança, o machismo presente na sociedade e o papel de cada um dos indivíduos no casamento, tudo isso pesando nas costas da personagem de Jennifer Lawrence. Os closes transmitem a sensação de que Lawrence está à mercê dos acontecimentos e que não há escapatória.

Palmas para Lawrence

Percebemos também que o Oscar recebido por Jennifer Lawrence por seu trabalho em O Lado Bom da Vida não mostra todo o seu potencial. Porém, em Mãe!, Lawrence mostra que é sim uma das atrizes mais talentosas de sua geração e que tem competência para ser muito mais do que ídolo de franquias adolescentes. Sua personagem exige grande esforço e ela se entrega de maneira admirável ao papel. Ela é o pilar do filme, o ponto de partida para que toda a narrativa aconteça.

As atrizes Michelle Pfeiffer e Kristen Wiig também merecem elogios. Enquanto Pfeiffer encarna a intromissão e incômodo, a segunda interpreta a agente literária do personagem de Javier Bardem. Wiig é a evidência de como todos o admiram de maneira semelhante a um Deus. Sua participação no filme é pequena, mas essencial e marcante.

Mãe! é um daqueles filmes que, com o tempo, se tornam amados e odiados por muitos, pois sua narrativa complexa não facilita a conquista do espectador. É um filme brilhante e provocante, mas difícil para quem gosta de produções fáceis de digerir. Ele exige muita atenção e uma mente aberta para que seja possível uma avaliação razoável. Quem estiver disposto a ter uma experiência cinematográfica inesquecível pode ter uma boa surpresa.

Originally published at www.siteladom.com.br on September 21, 2017.

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Graci Paciência
Lado M
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Gosto terror e rock. Criadora e apresentadora do programa Soul do Rock, na Antena Zero. BlueSky: @gratona https://medium.com/@cronicasdagraci