Métodos Contraceptivos mais efetivos são os menos acessíveis

Lado M
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5 min readOct 26, 2020

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Para muitas pessoas, métodos contraceptivos e vida sexual caminham juntos. O famoso “medo de engravidar” abala tanto mulheres que tiveram a primeira relação recentemente como aquelas que não se sentem preparadas ou não desejam filhos. Contudo, os cuidados para previnir a gravidez não fazem parte da rotina de todas brasileiras: segundo o Ministrério da Saúde, 32,2% das mulheres em idade reprodutiva não utilizam qualquer método contraceptivo.

Ainda hoje, o uso de métodos contraceptivos fica principalmente com as mulheres. Em fevereiro de 2020, falou-se sobre o lançamento do primeiro anticoncepcional masculino, mas até agora sem previsão para algo do tipo no Brasil.

A falta do conhecimento sobre os métodos contraceptivos e até o desinteresse em usá-los têm como resultado a temida gravidez indesejada. Os dados da Prenatal care in Brazil do Cad Saúde Pública, coletados entre 2011 e 2012, mostram que das mulheres atendidas no parto, 55,4% não haviam planejado a gravidez e 29,9% das gravidezes eram indesejadas.

Além disso, o Brasil ainda apresenta alto índice de gravidez na adolescência: a média de 18,1% de nascimentos oriundos de mães adolescentes, apesar de uma baixa taxa de fecundidade geral, de acordo com dados do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Ao menos 24 mil bebês são de mães com idade entre 10 e 14 anos.

Falhas dos Métodos Contraceptivos: qual é o mais seguro?

Existem três categorias de métodos contraceptivos: os de curta ação, os reversíveis de longa ação e os irreversíveis, como a laqueadura e a vasectomia.

Quando analisada a eficácia de cada método, os contraceptivos de longa ação (LARCs) atingem as melhores taxas, por isso, são considerados mais efetivos. Também são recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a inclusão na lista básica de medicamentos ofertados pelos sistemas públicos de saúde.

Segundo o professor James Trussell em seu artigo Contraceptive failure in the United States, o implante subdérmico de etonogestrel é o método anticoncepcional mais eficaz. Esse implante é um bastonete flexível de 4 cm de comprimento, inserido no braço da mulher. Com ele, um hormônio é liberado gradualmente no organismo e tem a função de inibir a ovulação, impedindo a gravidez por até 3 anos.

Preço e disponibilidade dos Métodos Contraceptivos

Algumas opções de métodos de curta ação podem ser facilmente encontrados em farmácias, como o preservativo, a pílula diária e o anel vaginal. Já os métodos reversíveis de longa ação dependem do plano de saúde ou do SUS. Atualmente, existem duas opções disponíveis no plano de saúde: o DIU de Cobre e DIU hormonal.

Para colocar o DIU através de atendimento particular, o preço não é dos mais acessíveis: o hormonal ou Mirena custa entre R$800 e R$900. Já o DIU de cobre fica entre R$100 e R$300. É preciso acrescentar o honorário do médico nesse valor.

Já no caso dos implantes, o preço fica ainda mais alto. Considerando o procedimento médico e o implante, o preço médio pode chegar a R$ 4 mil. Essa opção não está presente no SUS, que atualmente disponibiliza preservativo masculino e feminino, pílula combinada, anticoncepcional injetável mensal e trimestral, DIU de cobre, diafragma, anticoncepção de emergência e minipílula.

Para a Dra. Ana Derraik, médica ginecologista, diretora geral do Hospital da Mulher Heloneida Studart (RJ) e diretora médica da ONG Nosso Instituto, ter o implante subdérmico no SUS ampliaria a oferta dentro da classe dos contraceptivos de longa ação e diminuiria o número de brasileiras que engravidam sem planejamento: “os métodos de curta ação têm sua indicação, mas têm menor eficácia quando comparados aos métodos de longa ação. Mais da metade, 56%, das brasileiras que engravidam, não planejaram duas gestações. Isso mostra a ineficácia da política contraceptiva no país. Quando pensamos nas mulheres mais vulneráveis, adolescentes, portadoras de HIV, usuárias de drogas, esse percentual ainda é maior”.

Importante lembrar que apenas as camisinhas previnem as infecções sexualmente transmissíveis.

Gravidez não planejada: problemais sociais e financeiros

Com base nos dados do DATASUS, o custo médio de uma gravidez não planejada no sistema público de saúde brasileiro para o ano de 2010 foi de
R$ 2.293, considerando tanto a gravidez com um nascido vivo quanto a gravidez com a ocorrência de abortos e possíveis complicações neonatais. O custo total anual atribuído às gravidezes não planejadas foi de R$ 4,1 bilhões.

Dra. Ana Derraik ressalta que o problema vai além do prejuízo financeiro: “adolescentes grávidas abandonam as escolas, crianças não planejadas tem mais chances de sofrerem abandono e maus tratos. Há um custo social incalculável nessa situação”.

Questão de saúde pública, o planejamento reprodutivo é um dos investimentos mais custo-efetivos que um país pode fazer. Um estudo da UNICAMP avaliou gestações não planejadas no Brasil entre 2010 e 2014 e concluiu que reduções nas taxas de gravidez não planejada não só diminuem gastos como também as taxas de morbidade e mortalidade materno-fetal.

Através do planejamento, é possível que as mulheres tomem decisões sobre se e quando querem ter filhos, podendo reduzir a mortalidade materna e de recém-nascidos, além de aumentar as oportunidades para as mulheres e gerar famílias e comunidades mais saudáveis e prósperas.

Ampliação da cobertura de Métodos Anticoncepcionais pelos planos de saúde

A atualização do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, que é listagem mínima obrigatória de exames, consultas, cirurgias e demais procedimentos que os planos de saúde devem oferecer aos consumidores, está em curso. Neste momento, a sociedade pode contribuir, enviando opiniões sobre a ampliação da cobertura de métodos anticoncepcionais pelos planos de saúde.

A consulta pública está disponível até o dia 21 de novembro de 2020 para participação da sociedade no processo de tomada de decisão. As opiniões podem ser enviadas pelo site da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

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