MAIA, a inteligência artificial contra relacionamentos abusivos

Eloane Berto
Lado M

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Nessa semana do Dia dos Namorados as redes sociais estavam repletas de declarações, presentes elaborados e fotos de casais celebrando ao amor. Mas em uma época dedicada ao romantismo, se faz ainda mais necessária uma reflexão sobre nossas próprias relações e a de outras meninas e mulheres que podem não viver uma realidade tão mágica assim. Muitas delas estão em relacionamentos abusivos e, em grande parte das vezes, não conseguem identificar os sinais ou ainda encontrar apoio para saírem dessa situação.

Prazer, MAIA

Através da necessidade de mudar esse cenário é que no dia 12 de Junho, justamente no Dia dos Namorados, nasceu a Minha Amiga Inteligência Artificial, ou MAIA, desenvolvida pela Microsoft, Elo Group e IlhaSoft com o apoio da Revista Capricho e a ONU Mulheres. Essa inteligência foi desenvolvida com o objetivo de criar uma amiga e mais que isso, uma boa conselheira, para meninas que gostariam de identificar os sinais de um relacionamento abusivo e até mesmo obter ajuda para sair de um. Ao acessar a página do Facebook e iniciar uma conversa pelo Messenger, as jovens podem conversar sobre todas as suas dúvidas e questões com a MAIA, através de uma linguagem jovem e interativa, bem longe de ser apenas uma resposta padronizada.

A ideia surgiu a partir da Doutora Diez Scarance Ferandes, coordenadora do Núcleo de Gênero do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) que, ao estar em contato com pesquisas sobre reações abusivas e perceber que cada vez mais meninas e adolescentes estão nesse tipo de situação, decidiu fazer um experimento: com a ajuda de seu filho, elaborou dicas de relacionamentos no formato de cartões de amor com uma linguagem informal e acessível, que acabou viralizando nas redes sociais.

Essas dicas deram origem à cartilha #NamoroLegal, que tem como objetivo alertar jovens sobre comportamentos não tão saudáveis em um relacionamento. A linguagem utilizada não foca em palavras como “violência” e “agressão”, mas em uma aproximação das leitoras através de conversas sobre os sinais de abuso que estão nos detalhes do cotidiano, quase sempre despercebidos.

É nessa linha de pensamento que a MAIA atua: seu objetivo é criar uma relação de amizade e acolhimento com as meninas com quem conversa, trabalhando com a ideia de um “território seguro”. Em uma simulação feita, foi possível perceber que a inteligência artificial atua por meio da identificação com a experiência das jovens.

Se alguém escreve “estou insegura no meu relacionamento”, MAIA responde com sua própria experiência, para que haja uma associação entre essas situações de abuso.

O foco está na prevenção de relacionamentos abusivos, mas o mecanismo está preparado para identificar o estágio de violência em que a jovem se encontra. Embora não substitua a ajuda psicológica, MAIA traça um mapa de acolhimento e, dependendo do caso, aconselha as jovens a conversarem com um adulto sobre a situação e até mesmo a encaminha para centros de apoio através de aplicativos como o PenhaS, lançado pela Revista AzMina.

Fase de testes

Nessa primeira fase do projeto, MAIA ainda está em “aprendizado”, ou seja, irá interagir com algumas meninas e, através desses diálogos, entender cada vez mais como lidar com cada situação. Assim, na segunda fase poderá atender de maneira mais ampla e significativa todas as mulheres, principalmente meninas e adolescentes que necessitem de um “ombro amigo” para desabafar e receber ajuda em relação aos seus relacionamentos.

A iniciativa do projeto MAIA demonstra de maneira positiva como a tecnologia pode ser utilizada a fim de colaborar para ações contra a violência de gênero, principalmente na identificação inicial dos sinais de um relacionamento abusivo. Ao fortalecer a rede de apoio das jovens e mostrar que determinados comportamentos não são saudáveis, cada vez mais meninas e mulheres podem fortalecer os laços com seus próprios corpos e mentes, afinal, como uma das dicas da cartilha #NamoroLegal aconselha: “Seu espaço é só seu”.

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