Malibu Renasce traz intrigas familiares, surfe e os anos 80

belle
Lado M
5 min readAug 11, 2021

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A autora do aclamado “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” sai em uma viagem pelos traumas da família Riva, banhada pelas ilusões da fama

ATENÇÃO: o texto abaixo pode conter spoilers!

Se o seu algoritmo do TikTok está calibrado para recomendações literárias, você com certeza já passou pelos títulos Os Sete Maridos de Evelyn Hugo e Daisy Jones and The Six. As duas histórias fazem parte do universo ficcional da autora americana Taylor Jenkins Reid — e a palavra “universo” aqui, cabe melhor do que nunca, porque os personagens podem cruzar entre as publicações.

“Vai ser uma leitura rápida sobre uma superestrela dos anos 50! Vai ser divertido!”

A narrativa de Malibu Renasce segue os irmãos Riva — Nina, Jay, Hud e Kit — em duas linhas temporais: a do passado, que transita pelos anos 1950 a 1970, e a do presente, no dia 27 de agosto de 1983, data da sua aguardada festa anual. A primeira, apresenta o tema mais recorrente do livro, a família, a partir do encontro dos pais, June Costas e Mick Riva — um breve conhecido dos leitores de Jenkins Reid — enquanto a segunda dá corpo às consequências das escolhas feitas no passado, ao mesmo tempo que se aprofunda nas personalidades e questões de cada um dos irmãos.

“As histórias de nossas famílias são apenas narrativas. São mitos que criamos sobre as pessoas que vieram antes de nós, para que nossa existência faça sentido.”

Diferentemente das outras obras, este é um livro mais descritivo. A presença de Malibu, uma cidade costeira no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, está entrelaçada com a história: a medida que a cidade se desenvolve de uma pequena vila pesqueira para um badalado ponto de encontro de surfistas e celebridades, a história dos Riva igualmente avança e se torna mais complexa.

É quase como se o leitor, através das lentes da autora, pegasse um carro rumo à uma viagem pela maior rodovia costeira dos Estados Unidos — a também personagem da história — Pacific Coast Highway, famosa por conectar as cidades de San Francisco, San Diego e Los Angeles.

Mapa que mostra a extensão da rodovia Pacific Coast Highway, com pontos nas cidades de San Diego, Los Angeles, San Jose, San Francisco e Sacramento.
Algumas cidades conectadas pela PCH (Fonte: VisiteOsUSA)

Por conter elementos específicos da cultura local, como as estradas norte-americanas, ao surfe, os incêndios na Costa Oeste e o sonho hollywoodiano — por vezes artificial — em alguns momentos, a história pode se tornar cansativa. Mas Jenkins Reid consegue inserir questões — como abandono parental, casamentos falidos, brigas entre irmãos, a carga mental de mulheres e o descobrimento da sexualidade — que, apesar de acontecerem geograficamente distantes, são extremamente relacionáveis em qualquer parte do globo.

A narrativa foca especialmente no tema dos ciclos familiares e como os filhos, afim de lidarem com as consequências de escolhas feitas pelos pais, podem encontrar dificuldade para quebrá-los — isto fica claro nas figuras de June, Mick e Nina. A camada adicional da fama, e suas implicações, é adicionada já que, dentro da narrativa, Mick é um consagrado músico e Nina torna-se, ao longo da história, uma importante modelo. Sobre o assunto, Jenkins Reid comenta em entrevista para o Hollywood Reporter.

Há uma complexidade na vida de pessoas famosas, que me permite falar sobre as pressões que exercemos sobre outras pessoas. A fama é um espelho da nossa cultura, do que valorizamos e por que o valorizamos. Apesar de tudo, essas pessoas são reais e têm suas próprias mágoas. Este mundo da fama me permite investigar o que algo aparente ser, versus o que é a verdade — e isso é um espaço realmente fértil para mim.

Outro ponto alto, e divertido, do livro é a caça às referências da vida real, que ajudaram a autora a construir este universo. Se em Daisy Jones and The Six as grandes inspirações foram as brigas épicas da banda Fleetwood Mac, e em Os Sete Maridos de Evelyn Hugo são casamentos de faixada da era de ouro, aqui os exageros, os tabloides machistas e as festas épicas da década de 1980 — como freneticamente descrito na segunda parte do livro — têm seu espaço.

“Farrah… Nas roupas de banho mais quentes da estação!” (Fonte: Flashbak.com)

Algumas referências, não confirmadas pela autora, também parecem fazer parte da história. O roqueiro Mick Riva e sua relação de abandono com a paternidade — em uma possível referência ao vocalista dos Rolling Stones — Mick Jagger; e até o pacato restaurante da família de June, o Pacific Fish, que pode ter no Neptune’s Net, tradicional lanchonete de frutos marítimos localizada na Pacific Coast Highway, seu correspondente da vida real. Na mesma entrevista para o Hollywood Reporter, Taylor Jenkins confirma algumas de suas inspirações:

Quando penso em qual espaço [a personagem] Nina pode ter ocupado nos anos 80, penso em Brooke Shields, Farrah Fawcett e Cheryl Tiegs. Aqui, estou pesquisando essas mulheres e tentando aprender como elas foram tratadas, como foram consumidas. Estou tentando aprender a colocar minha própria abordagem nisso e criar algo diferente, ou pelo menos um pouco novo para tudo isso.

Malibu Renasce vale o burburinho e, assim como suas antecessoras no universo de Jenkins Reid, merecem a leitura, seja pela escrita fluida, pela fácil relação com as questões dos irmãos Riva, pela vontade de se perder nas paisagens salgadas da Califórnia ou pela saudade de uma boa festa. Conhecer a escrita de Reid é deixar-se levar — deliciosamente — pelo brilho, glamour e escândalos que, juntos, tornam as celebridades tão mortais e viciantes.

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Lado M
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estou sentida e portuguesa, agora não sou mais, veja, sou mais severa e ríspida: agora sou profissional.