Manifesto da campanha #NãoSouObrigada: chega de machismo!

Lado M
Lado M
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6 min readMar 2, 2017

#NãoSouObrigada: Você pode ser tudo — mas não é obrigada a nada!

A cada 11 minutos, uma mulher é agredida no Brasil. A cada 1h30, uma mulher é assassinada por algum colega, companheiro, namorado, parente ou ex-marido inconformado. Desde 1890, o salário das mulheres corresponde a apenas 70% do salário dos homens, mesmo quando elas e eles têm a mesma capacitação e ocupam o mesmo cargo. E, desde os primórdios da humanidade, somos constantemente violadas, agredidas, desrespeitadas, humilhadas, culpabilizadas, estereotipadas e objetificadas.

Porém, em todo dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher, o mundo tenta nos tratar como se nada disso acontecesse. Ignorando que essa data surgiu a partir da luta das mulheres por seus direitos, homens de todos os tipos tentam transformar a data em uma forma de silenciamento: como nos casos de violência doméstica, seremos cobertas por flores, chocolates e elogios, mas, poucos minutos depois, seremos alvo de piadas machistas, abusos e todo o leque de agressões possíveis.

No entanto, não somos obrigadas a conviver com tanta hipocrisia. Não somos obrigadas a tolerar assédios, abusos e nem a aceitar que nos subestimem. Valorizando a nossa história e a de todas as mulheres que nos trouxeram até aqui, e para ajudar a libertar todas aquelas que vivem em opressão, chegou a hora de usar a nossa voz e dizer em alto e bom som, na web e fora dela: NÃO SOU OBRIGADA!

#NãoSouObrigada a acreditar que é normal ser assediada na rua e ter que encarar isso como um elogio. #NãoSouObrigada a conviver com o medo de ser estuprada a todo o momento por eu ser mulher, inclusive dentro de casa.

#NãoSouObrigada a educar as meninas para que elas cresçam com medo de serem quem são e também #NãoSouObrigada a acreditar que é normal que uma menina de 10 anos já seja esposa de alguém.

#NãoSouObrigada a aceitar a impunidade dos meus agressores e nem a ficar calada por ter passado por um episódio de abuso. Também #NãoSouObrigada a mudar o meu comportamento, os meus hábitos e o meu jeito somente porque alguém diz que eu peço pra ser estuprada. Não sou eu que tenho que mudar: são os homens que têm que aprender a respeitar.

#NãoSouObrigada a aturar homens que não entendem o significado da palavra “Não” e pensam que, só porque estou desacompanhada, podem fazer o que quiserem.

#NãoSouObrigada a aceitar que é normal estar desamparada pelo Estado nem a aturar ser ignorada e culpabilizada pelas instituições que deveriam defender a justiça e os meus direitos.

#NãoSouObrigada a tolerar estupros corretivos por ser lésbica ou ouvir comentários acerca da minha sexualidade por eu não ser estritamente heterossexual. Também #NãoSouObrigada a aceitar ser considerada objeto sexual pelos homens apenas por eu beijar uma outra mulher.

#NãoSouObrigada a acreditar que preciso de um homem do meu lado para me sentir segura e protegida. Também #NãoSouObrigada a acreditar que sou inferior ou mais frágil apenas e tão somente por ser mulher.

#NãoSouObrigada a fingir orgasmo para não ferir ego de macho e também #NãoSouObrigada a tomar pílulas que mudam todo o meu organismo só porque você se recusa a usar camisinha.

#NãoSouObrigada a saber a escalação de 1980 do meu time pra provar que gosto de futebol.

#NãoSouObrigada a tolerar a falta de conhecimento em biologia dos homens ao meu redor, que não acompanharam a evolução da ciência e ainda acreditam que o cérebro feminino é inferior ao masculino.

#NãoSouObrigada a esconder o meu sucesso para satisfazer homem com ego ferido e também #NãoSouObrigada a ter minha inteligência subestimada, meu trabalho desvalorizado e nem a aceitar um salário menor mesmo sendo mais qualificada.

#NãoSouObrigada a aceitar ser taxada de louca só por discordar de algum ponto de vista masculino. #NãoSouObrigada a tolerar ser interrompida quando eu estiver falando, #NãoSouObrigada a aceitar ser tratada como idiota e também #NãoSouObrigada a aceitar ser inferiorizada, subestimada e ridicularizada quando eu estiver em posições de liderança.

#NãoSouObrigada a mudar a cor da minha pele só porque você não fica com negras. #NãoSouObrigada a tolerar ser hiperssexualizada pela minha cor ou ter menos oportunidades no mercado de trabalho por conta da minha etnia. #NãoSouObrigada a ter que alisar meus cabelos ou mudar minhas roupas e meu comportamento para esconder minha cultura, minha religiosidade e minhas raízes porque elas fogem dos padrões norte-americanos e europeus.

#NãoSouObrigada a ser magra e a aceitar ser julgada pela minha aparência, pelas minhas roupas, por causa do meu peso e do formato do meu corpo. #NãoSouObrigada a me enquadrar em nenhum padrão de beleza e nem a estar sempre depilada, maquiada, alisada ou com uma bunda sem celulite e empinada. Também #NãoSouObrigada a ser meiga, fofa, doce, submissa ou qualquer um dos adjetivos que as pessoas atribuem ao que é ser uma mulher “feminina”.

#NãoSouObrigada a utilizar o banheiro masculino só porque nasci com um corpo que não corresponde com o gênero com o qual me identifico. Não sou obrigada a estar sujeita a humilhações, xingamentos e até estupros só porque não nasci com um útero. #NãoSouObrigada a me encaixar na triste expectativa de vida de 35 anos de idade só por eu ser uma mulher trans e #NãoSouObrigada a tolerar ser sujeitada à violência sexual, física e emocional por ser uma mulher trans.

#NãoSouObrigada a me podar e me anular somente por conta do que os outros pensarão de mim. #NãoSouObrigada a querer ser mãe e #NãoSouObrigada a querer casar.

#NãosouObrigada a fazer papel de mãe e pai, #NãoSouObrigada a dar confete pra pai que não faz mais do que a obrigação e também #NãoSouObrigada a achar que é só minha a tarefa de largar o meu expediente de trabalho para ir socorrer as crianças na escola.

#NãoSouObrigada a fazer algo que eu não queira e #NãoSouObrigada a ser algo que eu não sou. Na verdade, minha única obrigação é comigo. É de ser feliz e me sentir livre, na minha própria mente, no meu próprio corpo. Eu #NãoSouObrigada a concordar com o que tentam me impor goela abaixo, assim como #NãoSouObrigada a me forçar a estar em relacionamentos que me fazem mal.

#NãoSouObrigada a permanecer em relacionamentos abusivos por conta da pressão social de não estar sozinha e também não preciso me sujeitar a ninguém por medo de não ter uma independência financeira ou por conta da impunidade que protege meus abusadores.

#NãoSouObrigada a tolerar ser agredida física, psicológica e financeiramente, e também #NãoSouObrigada a ouvir que ninguém mais vai me amar além do meu abusador. Eu sou melhor e eu posso me amar mais do que qualquer outra pessoa, em qualquer outro relacionamento. Porque eu #NãoSouObrigada a mendigar por atenção ou amor, simplesmente porque eu valho, sim, muito a pena.

Neste Dia Internacional da Mulher, eu #NãoSouObrigada a aturar nenhuma forma de violência ou constrangimento. E você também não é! Você merece ser respeitada, reconhecida, estimada, celebrada e valorizada — e devemos lutar por isso em todos os dias do ano. Todas nós devemos isso às 130 mulheres que, no dia 8 de março de 1857, morreram carbonizadas enquanto reivindicavam que todas as mulheres daquela e de outras gerações que recebessem o mínimo: respeito.

É por essas mulheres que, neste dia 8 de março e nos demais 364 dias do ano, devemos reivindicar os nossos direitos, até que mais nenhuma mulher seja desrespeitada. Para isso, levante o seu grito: #NãoSouObrigada!

Originally published at www.siteladom.com.br on March 2, 2017.

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