Meryl Streep, uma atriz em prol do empoderamento feminino

Natália Sanches
Lado M
Published in
4 min readApr 27, 2017

--

Segundo uma pesquisa do New York Times, Meryl Streep já foi mais citada do que Deus nas premiações do Oscar. Levando em consideração sua influência na academia e a dimensão que essa cerimônia representa, Meryl ganha destaque por ser uma atriz incrível, mas também por levar a imagem feminina há lugares e discursos que pertencem, até hoje, ao sexo masculino.

Descendente de alemães, Meryl nasceu em Nova Jersey em 1949. Foi introduzida no mundo das artes pela mãe que trabalhava com cultura e em 1971 ingressou no curso de Artes Dramáticas, concluindo seus estudos com um mestrado na consagrada Universidade de Yale. É fato que sua origem não chama atenção como uma história de superação, mas o que diferencia Meryl não é o que ela foi, mas sim o que escolheu ser a partir de seus papéis no teatro, na televisão e, principalmente, no cinema.

Já na sua primeira indicação, pelo filme Franco Atirador (1978), Meryl faz papel de Linda, uma garota que sai de casa por causa da violência que sofria do pai. Logo em seguida, já protagoniza Kramer X Kramer, um filme que discute um difícil divórcio e o processo de guarda dos filhos. Neste longa, Streep faz Joanna, uma mulher infeliz no casamento que resolve sair de casa, deixando o filho com o marido (interpretado por Dustin Hoffman). O filme revela todo o processo árduo que uma mulher naquela época sofria ao “abandonar” um casamento. No contexto do longa, a mulher não merece ficar com a guarda da criança, por ser uma mulher quem saiu de casa. Mas Joanna vai até às últimas consequências para voltar a ser mãe e mostrar que teve seus motivos para tal atitude. Na época, Meryl pediu para trocar todo o olhar do roteiro, que revelava uma mãe má e inconsequente, quando na verdade era uma mulher desesperada diante da pressão e do compromisso de se sentir extremamente solitária, mesmo com uma família. Assim, mudou-se a visão do enredo para o de uma mulher como protagonista de sua história, fazendo com que Meryl conseguisse sua primeira estatueta com o louvor da Academia.

Além deste papel memorável, Meryl faz outro filme que a consagra como atriz completa, ou seja, que aceita seu trabalho não como mera profissão, mas como representante da realidade. No filme A Escolha de Sofia (1982), sua personagem é uma prisioneira de guerra judia que se vê diante do maior desafio de sua vida: escolher um dos filhos para encarar a morte. Assediada pelos guardas nazistas, Sofia sofre com a violência psicológica e quase é agredida para apressar-se na sua decisão. São 5 minutos agonizantes em que vemos uma mulher resistir ao máximo e lutar para manter seus filhos para si. Sua atuação lhe rendeu seu segundo Oscar e a adoração total do público, pois representou a realidade das mulheres neste período.

No entanto, não é só no cinema que Meryl concretiza sua força. Casada desde 1978, ela criou os filhos e conciliou a carreira com muitas dúvidas a respeito da educação das crianças, sendo que tal questionamento é comprovado em uma entrevista logo após receber seu terceiro Oscar, na qual ela comenta:

“Mesmo quando ainda era jovem e sem dinheiro, trabalhava direto durante quatro meses e ficava desempregada de novo. Então meus filhos nunca sabiam quando eu estaria em casa. Isso foi muito valioso, mas é uma luta contínua. As mulheres têm de fazer tudo isso. E também, quanto mais flexível o trabalho fica, mais os pais se envolvem”

Co-fundadora de uma associação que protege a saúde infantil, apoiadora de uma campanha intitulada “Equality Now”, que defende os direitos das mulheres e meninas pelo mundo, Meryl sabe do seu papel de influência em uma causa como a feminista. Uma curiosidade que fecha seu papel como ativista na luta, foi o fato de doar todo o seu cachê do filme Dama de Ferro (2012) para o Museu Nacional da História das Mulheres, a fim de resgatar a memória de todas as mulheres que marcaram a luta feminista.

Em 2015, aplaudiu de pé sua companheira de trabalho Patricia Arquette, quando esta ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante e em seu discurso pediu igualdade salarial e direitos para as mulheres dos Estados Unidos. Arquette em seguida afirmou emocionada ao saber do apoio de Meryl Streep: “Ela é a rainha de todas as atrizes, então, foi incrível”, enaltecendo mais uma vez a sororidade constituída naquela noite.

Meryl Streep no discurso de Patricia Arquette

Homenageada no Globo de Ouro de 2017, Meryl mostra-se mais uma vez uma mulher corajosa e única ao proferir seu discurso sobre a cultura estadunidense, enaltecendo a imigração como elemento que só contribui para um país melhor, ao contrário do que o presidente eleito Donald Trump propõe em seu novo governo conservador e misógino.

Assim, não há somente uma palavra que define toda a vida e obra de Meryl Streep. Ela é uma mulher que dedicou a sua vida ao mundo da arte com papéis fortes e únicos, a fim de provar que lugar da mulher é, também, no cinema. Além disso, sua coragem ultrapassa a quarta parede e chega até a sociedade que a consagra como um ícone de luta e inspiração, essencial para todas as gerações de mulheres.

Originally published at www.siteladom.com.br on April 27, 2017.

--

--

Natália Sanches
Lado M

é Natit. Professora especializada em Estudos Brasileiros, paulistana de nascença, mas catarinense de coração. 17 tatuagens e cabelo curtinho. Gosta de tulipas.