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Como lidar com as atitudes machistas de um amigo

Eloane Berto
Lado M
Published in
4 min readJun 9, 2016

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Um rapaz se aproximou de mim em um momento muito difícil da minha vida. Eu tinha acabado de sair de um relacionamento e estava me sentindo completamente traída. Já esse rapaz, traía a namorada. De uma forma dialética e inesperada, nos tornamos amigos, já que eu, de algum modo, espelhava meu ex nele e ele, a atual em mim.

No fundo, eu acreditava que, estando próxima desse rapaz e contando minha história, ele iria entender o quanto fazia mal não só para a namorada — mesmo que ela não soubesse do que estava acontecendo -, mas também para a outra menina com quem ele se relacionava, que nutria esperanças em um relacionamento que ele mesmo dizia ser impossível.

Porém, o tempo foi passando. Acabei me recuperando daquele momento de fragilidade, mas nada mudou nele. Inclusive, percebi que até mesmo algo piorou, já que seu ego inflamava cada vez mais ao saber que duas meninas estavam apaixonadas por ele. Minhas críticas eram motivos de riso e eu comecei a me sentir cansada, cansada de ele rir de uma mulher na minha cara. Por mais que ele tivesse me ajudado quando precisei e eu nutrisse um carinho enorme por ele, eu não poderia deixar que ele agisse desse modo do meu lado, porque, mesmo não sendo comigo, eram mulheres enganadas, como também fui e como todas nós podemos ser.

Em um primeiro momento, eu não sabia ao certo o que fazer, já que eu não conhecia as meninas envolvidas, então optei por uma decisão aparentemente boba: dei um prazo para que ele resolvesse essa situação ou eu cortaria relações. Não achei que surtiria efeito, mas pelo menos eu não iria compactuar mais com aquilo. Uma semana depois, ele terminou o namoro.

Eu nunca tinha passado por essa situação antes, porque sempre tive mais amigas mulheres, mas daí fiquei pensando na quantidade de meninas que têm amigos e colegas homens e que são obrigadas a passar por situações complicadas como essas todos os dias. Por mais que o cara seja bacana, como lidar quando ele dá em cima de você mesmo namorando? Se ele trai a namorada? Se ele tem atitudes escrotas com outras meninas? É claro que a resposta óbvia é: “Devemos nos afastar, claro!”. Porém, na prática não é tão fácil assim quando há a questão emocional envolvida.

O principal ponto a ser pensado é qual é o nosso limite para lidar com esses caras, já que, muitas vezes, através da maternidade compulsória, temos a tendência de cuidar do outro e aceitar tudo que dele advém. Afinal, fomos criadas como símbolo de conforto e confiança. Só que é desgastante para nós mulheres essas tentativas de “desconstrução” dos homens, seja no quesito amoroso quanto em relação à amizades. Acredito sim que devemos dialogar com eles, já que há muitos que nem imaginam o que é o feminismo (o que é assustador). Porém, até que ponto será que vale mesmo a pena sentarmos com o coleguinha para explicar tudo e ele rir da nossa cara? Será que nossas forças não seriam melhor direcionadas conversando com outras meninas sobre o feminismo? São questões e questões.

Uma coisa é certa: tanto meninas heterossexuais quanto qualquer mulher que seja amiga ou próxima de um homem, vai passar por situações que as farão ficar abismadas de quanto o machismo está intrínseco neles. Daí vamos ficar tão abaladas que provavelmente acharemos que estamos loucas e que essas questões problemáticas são coisa da nossa cabeça. Afinal, ele é tão legal, bacana, atuante em movimentos sociais, meu amigo, meu brother. Quanto mais houver proximidade, mais complicado é encarar que a pessoa está sendo escrota e mais há a tendência de dar um voto de confiança de que ela vai mudar, mas é preciso levar em consideração que talvez ela não mude nesse momento. Ou talvez nunca.

Uma solução para meu impasse (se for mesmo uma solução), é saber selecionar quem está ou não disposto a ouvir. Tenho sim amigos que sempre estiveram dispostos a conversar e até perguntar sobre essas questões, enquanto outros apenas riram, e esses sim não merecem o meu tempo.

De qualquer forma, mesmo nesse ano eu tendo me aproximado de vários homens, o maior aprendizado que tive foi em minha relação com mulheres. A cada amiga de amiga apresentada, eu me fortaleço porque a vejo em mim. Contar uma história que te envergonha e olhar nos olhos da outra e ver que ela também passou por isso e que estamos juntas é impagável. Essas relações sim nos fortalecem na raiz do feminismo e mostram que devemos nos proteger, seja de desconhecidos distantes ou do nosso próprio colega machista, ali do lado.

Originally published at www.siteladom.com.br on June 9, 2016.

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