Minha História é o respiro que precisamos em tempos difíceis

O novo documentário sobre Michelle Obama pinta um futuro um pouco mais esperançoso

belle
Lado M
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5 min readMay 18, 2020

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O filme tem os elementos necessários para compor um documentário sobre a turnê de uma rockstar: estádios lotados, fãs emocionados e nomes gigantes do entretenimento envolvidos nas produção — como Oprah, Stephen Colbert e Sarah Jessica Parker. Mas com uma pequena diferença: a personagem principal não vem acompanhada de banda e no máximo arrisca alguns passinhos para acompanhar um verso do Drake.

Em Minha História (Becoming), o novo documentário da produtora Higher Ground em parceria com a Netflix, acompanhamos a turnê de lançamento da autobiografia Minha História e vemos sua autora — um nome provavelmente familiar — a escritora e advogada Michelle Obama, em intimidade como nunca antes.

Michelle Obama em conversa com Sarah Jessica Parker na turnê de divulgação em Nova Iorque

Bastam as primeiras imagens em tela para quebrar o gelo e desmanchar qualquer inacessibilidade da aura de pessoa mundialmente famosa de Michelle. Seja porque já logo nos minutos iniciais a vemos fazer uma das coisas mais mundanas possíveis — colocar música animada para tocar no trajeto até o trabalho — ou porque, ao longo do documentário, ela se aprofunda, de maneira muito honesta em sentimentos facilmente identificáveis — especialmente se você for uma mulher.

O longa, apesar de seguir o fio condutor do livro, não é uma adaptação e sim uma obra complementar: ele dá as informações necessárias para que o espectador entenda como ela chegou onde chegou. Para isso, resgata-se um pouco da infância dela no sul de Chicago e a relação com a família, a graduação em Pricenton e o trabalho nas firmas de advocacia, seu relacionamento com Barack Obama e, atualmente, a vida pós Casa Branca.

Um dos temas que aparece com mais frequência ao longo do documentário é a relação bastante próxima que Michelle cultiva com a juventude e a posição que ela assume, como uma espécie de mentora para as pessoas mais novas.

Em diversos momentos, vemos as conversas que ela desenvolve com os estudantes — em salas de aula e livrarias — e que surpreendem, ao se descolarem do senso comum sobre a geração atual, e adentrarem discussões profundas, que vão desde as desvantagens que a população negra encontra antes mesmo de tentar ingressar na universidade — espaço que, ela mesma menciona, ser ainda majoritariamente branco — até a famosa síndrome do impostor, e a sensação de que sentirmos que muitas vezes não merecemos ocupar os espaços em que estamos.

Há um momento em especial, em que ela pergunta à uma mesa de alunos da comunidade indígena do Gila River, no Arizona, o que os desmotiva, e um dos alunos diz que “ir à universidade sendo parte de uma minoria e ter de conviver com eleitores do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump”. Ao qual Michelle responde:

“Eu não imagino como isso deve ser difícil para vocês, mas quero que vocês coloquem tudo isso em perspectiva e não deixem esse momento marcar exclusivamente o que vai ser daqui para frente. Às vezes tudo que nós [ela e seu marido, Barack Obama] podíamos fazer era seguir trabalhando e deixar o nosso trabalho falar por nós mesmos.”

Michelle em visita aos estudantes da comunidade indígena Gila River

Ela ainda comenta o que é estar na posição da presidência de um país e como esse momento pode ficar marcado no futuro:

“Quando se é presidente, as palavras importam. Você pode iniciar guerras e afundar economias. É poder demais para ser tão negligente.”

Outro ponto alto do documentário é que a proposta de mostrar os bastidores da turnê se estende a todos os envolvidos naquilo de alguma forma. Assim, conhecemos os personagens responsáveis por fazer o show acontecer: dentre eles estão Melissa Winter, sua chefe de equipe e Allen Taylor, do serviço secreto. É com eles que acontecem os momentos mais humanos de Michelle e é interessante ver como a relação entre eles através da convivência diária acaba extrapolando o profissional, em um misto de amizade e respeito mútuo.

Michelle e Allen em uma cena do “Minha História”

O momento com Meredith Koop, sua estilista, é especialmente poderoso, já que nele fala-se sobre sua imagem e como diversos veículos ao longo do tempo se utilizaram de estereótipos — principalmente o da mulher negra raivosa — para criar ideias pré-concebidas sobre ela. E como nesses momentos, a escolha de suas roupas teve um papel importante: se sua imagem iria ser objeto de discussão, que ao menos servisse como veículo de ideias em relação à diversidade e uma plataforma para juventude — como já assinalou a editora chefe da Vogue norte-americana, Anna Wintour:

“Em todas as decisões que ela fez sobre moda, ela apoiou jovens estilistas e designers do mundo todo”

O filme, de maneira geral, deixa a vontade de buscar no livro mais detalhes sobre a vida dessa mulher com ideias tão poderosas. Mas talvez, as sensações que realmente ficam ao final são duas: o lembrete de com o que uma boa liderança se parece e a inevitável inspiração ao ver o empenho que Michelle coloca nas gerações seguintes — e que pode fazer até o mais pessimista acreditar que talvez o dia de amanhã possa ser sim um pouco melhor.

Assista ao trailer

O documentário está disponível na Netflix

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Lado M
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estou sentida e portuguesa, agora não sou mais, veja, sou mais severa e ríspida: agora sou profissional.