#MisMedidasSon: Miss Peru 2018 foi centrado na violência contra a mulher

Helena Vitorino
Lado M

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As 23 candidatas ao concurso de Miss Peru 2018 tomaram os microfones do evento nacional para denunciar, em cifras assustadoras, a violência contra a mulher que ocorre regional e nacionalmente no país. No palco, no momento das apresentações pessoais, as candidatas trocaram suas medidas físicas (altura e peso) pelos números de agressões físicas, psicológicas, assédios e feminicídios registrados em todo o Peru.

A hashtag “mismedidasson”, que em português significa “estas são minhas medidas”, logo tomou a internet, com uma onda de denúncias para que as estatísticas de violência não sirvam apenas para decorar os jornais, mas para a tomada de medidas sérias de justiça e de conscientização em todo o país.

Quem puxou o discurso foi a primeira candidata, que se apresentou da seguinte forma “Meu nome é Camila Canicoba, represento o departamento de Lima, e minhas medidas são: 2.202 casos de feminicídios reportados nos últimos nove anos em meu país”. Os números alarmantes foram trazidos por cada uma das presentes, e relatavam todo tipo de violência veiculada contra mulheres e meninas no Peru.

Alguns dos dados incluem: 13 mil meninas sofrem de abuso sexual no país, sendo que a cada 10 minutos uma delas morre, vítima de tráfico e turismo sexual; 65% das mulheres universitárias são agredidas por seus companheiros; 32% das denúncias de mulheres à polícia são feitas por violência doméstica; 19% de meninas de 0 a 5 anos são abusadas sexualmente por seus pais; 60% das mulheres que sofrem violência física e psicológica no Peru são mães.

A repercussão do Miss Peru 2018

Os dados, assustadores, foram recebidos pela plateia do evento com espanto e timidez nas palmas; aos poucos, no entanto, ao perceberem que a mensagem contra violência tomaria o evento de forma geral, a plateia se animou em acompanhar a apresentação que, apesar de dura, foi necessária e abrangente. As candidatas também não se diferenciavam apenas pela beleza física, mas pelas contribuições que realizam pelo empoderamento da mulher na sociedade peruana. A jovem mais votada pelo público geral para vencer o evento, Andrea Moberg, é diretora de um grupo de apoio emocional a meninas que sofreram violência sexual no departamento de Loreto, sua região natal.

A mensagem foi abordada durante todo o programa, transmitido ao vivo nos canais locais. Durante a apresentação solo, em que desfilam de biquíni de maneira individual, cada candidata teve como fundo de palco a imagem ampliada de uma matéria de jornal, onde casos de feminicídio foram retratados na mídia. As perguntas classificatórias, comumente conhecidas pelo nonsense, foram específicas em quesitos de atenção à mulher e a suas condições de sobrevivência básica no Peru, e sobre leis de proteção contra violência feminina. As ex-misses do país também gravaram um vídeo de empoderamento às mulheres peruanas, instigando que as mulheres reajam e se apoiem em situações de violência e de assédio.

Apenas um rostinho bonito?

O papel das misses vem, aos poucos, deixando de estar engessado no verniz da aparência, na medida em que questões políticas, sociais e intelectuais fazem parte da vida das mulheres. Para representarem seus países, as misses do mundo inteiro vêm espalhando mensagens de que a beleza, por si só, não causa as transformações sociais necessárias para mudar o mundo.

Um dos casos mais conhecidos é da Miss Carabobo, da Venezuela, que, em 2014, foi assassinada durante um protesto de oposição ao governo venezuelano. A necessidade da comunidade do mundo da beleza em se posicionar sobre o ocorrido fez surgir entre todas as Misses do mundo a necessidade de expor que a representação feminina dos concursos deveria ser cada vez mais de empoderamento pela educação, pela participação política, pelo trabalho livre de estereótipos de gênero, e pelo respeito à vida das mulheres no mundo todo.

Originally published at www.siteladom.com.br on October 31, 2017.

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