Modelo Mariana Mendes | Foto: Rodney Pedroza

Modelo com pinta de nascença dá aula de autoconfiança

Larissa Lima
Lado M

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Antes que pudesse entender a importância de sua pinta, Mariana Mendes não se escondeu por traz de tratamentos que pudessem remover sua principal marca registrada. Desde pequena, nunca se viu com a vontade de retirá-la e tampouco a estranhava.

Sua singularidade não está apenas desenhada em seu rosto, mas sim à maneira que lida com a situação. Desde pequena busca acima de tudo se reconhecer. E com suas experiências pessoais consegue estender a mão para aqueles que nunca se viram representados. Hoje, ela carrega o significado de sua marca, consegue transcender e conquistar esse público.

Marca registrada

O pigmento em seu rosto, também chamada de Nevo Melanocítico, acomete cerca de 1 a 20.000 recém-nascidos. Quando pequena, aos 6 anos, os médicos a indicaram um tratamento a laser e falavam sobre a possibilidade de clareament. Sua mãe decidiu tentar.

Com três sessões, o tratamento era imperceptível, sendo necessárias outras aplicações, mas isso não indicava que a pinta sairia completamente. A decisão veio quando sua mãe percebeu que Mariana nunca reclamou da pinta e carregava consigo a leveza de quem não se importava com opiniões alheias e tampouco se sentia envergonhada.

Minha pele desenha sem régua aquilo que sou
Corpo
Cores
Vivências
Formas sem formas que nos tornam singulares
A minha pele é minha morada.
Minha ponte e proteção.
E é por baixo dela que está o meu universo por conhecer.
Por dentro ou aqui por fora,
as formas pouco importam,
mas sim o quão único é ser.

por Mariana Mendes

A mineira, que é natural de Pato de Minas e que trabalha como assistente de estilista, tem participado de projetos que assimilam à moda novos modelos e biótipos, conseguindo alcançar aqueles que possuem marcas de nascença.

Fez seu primeiro trabalho como modelo aos 24 anos. A oportunidade surgiu quando um jornalista britânico a reconheceu como inspiração para pessoas que compartilhavam das mesmas semelhanças, mas apesar disso, ela tinha um diferencial: não tentava cobrir a pinta com maquiagem e sequer escondê-la. Foi a partir daí que começou a ser conhecida no exterior. Sua história chamou atenção no Reino Unido e passou a ser contatada por outros fotógrafos da Europa.

Um dos projetos que participou, à título de exemplo, foi a da campanha #InYourOwnSkin realizado por uma marca de roupas inglesa, Missguided, que promoveu a representatividade da pele e trouxe diversidades em suas coleções. Em 2017 e início de 2018, a marca parou de usar Photoshop nas estrias de modelos e, criou manequins com estrias, sardas e vitiligo, com o objetivo de celebrar a diversidade corporal e étnica.

Modelos para a campanha #InYourOwnSkin | Foto via Missguided

Sua pinta não é prejudicial à saúde, — embora há casos em que devem ser removidas. O acompanhamento ao médico é fundamental para mantê-la saudável. Mariana podia se esconder por traz de intervenções, mas decidiu fazer o que mais a despertava: inspirar outras pessoas e fortalecer a auto aceitação.

“A intuição sempre foi dar exemplo às pessoas, de que elas podem sim se amar como são e se sentirem confortáveis sendo exatamente quem são”, declara em seu Instagram.

Que muitas mulheres possam ser mais Mariana’s. Limitar o eu é uma das formas de se martirizar. Aprender a se amar e a respeitar suas limitações, é o primeiro passo para se auto conhecer, não ultrapassando a linha entre os padrões impostos e o modo como realmente se vê.

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