Mulheres na Luta: 150 anos em busca de liberdade, igualdade e sororidade

Cinthia Quadrado
Lado M

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No mês passado, a Marcha das Mulheres em São Paulo me emocionou profundamente. Realizada no dia 8 de março, ela foi um marco pelas reivindicações feitas pelo público feminino: por direitos iguais, pelo #EleNão, pelo fim do feminicídio, pela memória da vereadora Marielle Franco. Os temas, a força e a dança fizeram com que a marcha (que passou pela Avenida Paulista e desembocou na Praça Roosevelt) tivesse uma força descomunal. Moças, jovens, idosas, mães e crianças andavam, dançavam, gritavam e sorriam, lado a lado, fazendo a história acontecer ali à minha frente.

Nesse dia, chorei, sorri e senti um frio na espinha ao enxergar tudo o que acontecia: todas estávamos lá pelos nossos corpos/ideais, pelas amigas, tias, irmãs e outras tantas que não puderam marcar presença. Senti muito medo por termos que lutar, enfrentar patriarcado, preconceitos, pessoas que pareciam muito mais fortes que eu. Mas, depois de andar pelo centro da cidade, um alívio e muita esperança vieram à tona porque percebi que não estava sozinha nessa jornada. “Somos nós que vamos dar um jeito nisso”, pensei.

Você deve se perguntar por que retomo esse evento passado. Situações como esta são marcantes não só para aqueles que vivenciaram a manifestação naquele dia, mas também servem de pano de fundo para momentos históricos. E estes fazem parte, também, das histórias contadas em Mulheres na Luta: 150 anos em busca de liberdade, igualdade e sororidade (128 páginas, selo Seguinte, da Editora Companha das Letras).

O livro Mulheres na Luta

Da escritora norueguesa Marta Breen e da quadrinista Jenny Jordahl, o quadrinho retoma os 150 anos de luta das mulheres por seus direitos. De um jeito lúdico, criativo e acessível, o livro se mostra um jeito leve e, ao mesmo tempo, didático de trazer a trajetória de grandes figuras femininas, como Elizabeth Cady Stanton, Lucretia Mott, Harriet Tubman, Sojourner Truth, entre outras tantas.

Ao contar a história dessas figuras, as autoras conseguem passar à leitora — seja ela uma estudante do ensino médio, uma empresária ou uma senhora aposentada — tudo o que essas moças tiveram que fazer para garantir seus direitos básicos, o que tiveram que abrir mão e como foram vistas pela sociedade na época. Não bastassem as histórias mais antigas, há também relatos mais recentes, como o da jovem Malala Yousafzai.

Cor e traço

Além da linguagem acessível, as cores e traços da quadrinista Jenny Jordahl também chamam muito a atenção. Ao marcar tons fortes, ela consegue dar ainda mais força aos relatos, deixando mais clara a sua intenção. Não é à toa que tons de vermelho, roxo, preto, rosa, azul e verde fazem parte de sua paleta e cada história tem a sua cor predominante. A cor mais evidente nas páginas destinadas a Clara Zetkin e Rosa Luxemburgo, por exemplo, são avermelhadas.

Em relação ao traço, o jeito peculiar e bem elaborado mostra também como o humor e a ironia fazem parte do quadrinho. Esses elementos reforçam a linguagem do livro, que pretende ser também divertido. Além disso, mostram como o quadrinho pode, e deve, ser uma forma de expressão a ser considerada na hora de contar histórias e transmitir ideias/sentimentos às pessoas — o que me remete aos quadrinhos das meninas do Políticas, que fazem isso muitas vezes.

O posfácio

A socióloga Bárbara Castro é responsável pelo posfácio de Mulheres na Luta. Ao retomar a história das brasileiras que atuaram no Brasil e fizeram de tudo para obter condições de vida melhores, ela reforça a importância de conhecermos a história das mesmas e os seus ganhos. Ao traçar uma breve trajetória da luta das mulheres no Brasil, Castro ainda reforça como os movimentos atuais ganharam fôlego nas redes sociais e tomaram as ruas.

Há quem acredite que após tantas conquistas já não há razão para mulheres seguirem lutando. Mas a despeito da igualdade que conquistamos nas leis, com o direito ao voto, à participação política e sindical, ao trabalho, a salários iguais aos dos homens, e aos mesmos direitos entre cônjuges, ainda temos muitos desafios pela frente. (p. 126–127).

Depois de lê-lo, senti novamente o frio na espinha que havia sentido lá na manifestação no começo de março. Toda aquela noite, a marcha, as lágrimas, os protestos retornaram à minha mente e as palavras da socióloga ecoaram pela minha cabeça.

É preciso honrar o árduo trabalho que elas fizeram, multiplicando essa luta e não deixando essa chama apagar. Assumamos um compromisso com as mulheres retratadas neste liro e as outras que estão fora dele: a nossa luta continua.

Temos, sim, que continuar reivindicando, indo às ruas, debatendo. “Somos nós que vamos dar um jeito nisso”, disse ao fechar a última página do livro.

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