Filme Não Vamos Pagar Nada. Créditos: Divulgação

Não Vamos Pagar Nada é uma comédia para rir com a mão na consciência

Cris Chaim
Lado M

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Um bom resumo de Não Vamos Pagar Nada seria: um filme que seria muito mais engraçado do que é se mostrasse uma realidade completamente fictícia. Em um bairro, que aparenta ser uma periferia de cidade brasileira, algumas mulheres se revoltam com o aumento abusivo de preço do único mercado local e causam uma rebelião esvaziando as prateleiras sem pagar nada. Demissões diárias, atraso nos pagamentos e falta de oportunidade completam a receita para a indignação popular.

A protagonista Antônia participa da tomada do mercado, mas ao chegar em casa entra em uma crise ética se deve contar ou não ao marido, já que questiona a legalidade da ação.

Créditos: Divulgação

A Obra

O filme foi inspirado na peça de teatro “Non si paga! Non si paga!”, de 1974, do escritor italiano Dario Fo, ganhador do Nobel de Literatura de 1997, e sua esposa Franca Rame. Na época, foi taxada como marxista, por “incitar” a distribuição de bens entre todos.

O texto já teve algumas adaptações para o teatro brasileiro desde os anos 1970. E agora, ganha um longa metragem, que a princípio, pode ser confundida como uma comédia despretensiosa, por seu elenco e direção, vindos de programas como Vai Que Cola e Zorra Total. Mas em Não Vamos Pagar Nada o riso vem como um engasgo e até falta de ar.

A Mulher

Entre diversos diálogos das personagens, fica evidente que são as mulheres as responsáveis pelo malabarismo necessário para acomodar as contas no (reduzido) orçamento. O marido, às vezes, pouco sabe se a conta foi paga ou não: o que importa é que tenha comida no prato e luz acesa.

Outra questão apresentada nos diálogos é que as mulheres revoltadas do mercado são descritas como “histéricas” e “irracionais”. Mas, pensando bem, será que não são elas as corretas por ficarem indignadas com a irracionalidade do dono do mercado e do policial que decide invadir as casas, sem mandado judicial, para procurar pelas mercadorias roubadas?

A Polícia

As autoridades são chamadas para conter a revolta. São a ferramenta de opressão do Estado e de garantia de segurança do burguês. Só que polícia também é gente e também está sofrendo. O policial militar, personagem sem nome próprio, representa essa classe e tem uma evolução maravilhosa. Interpretado por Flávio Bauraqui, foi a minha personagem favorita do filme.

Rir para não chorar e com a mão na consciência. Se a situação do filme já era real em 2019, quando foi filmado, hoje, outubro 2020, com todas as mudanças sócio-econômicas causadas pela pandemia e políticas do governo atual, Não Vamos Pagar Nada chega a parecer mais um reality show, sem cortes ou edições.

A estreia nas telonas deveria ter sido em maio, mas foi adiada para essa semana. O filme será exibido em cinemas selecionados entre os dias 08 e 14 de outubro, com lançamento marcado para o dia 15 de outubro pelos serviços de streaming da Telecine e no canal Telecine Premium, às 22h de quinta-feira.

Assista ao trailer de Não Vamos Pagar Nada

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Cris Chaim
Lado M

Empoderamento feminino, aceitação corporal, drinks e livros