Ninguém vira adulto de verdade, de Sarah Andersen

Isabela Borrelli
Lado M
2 min readDec 21, 2016

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Um dia, meu namorado me mandou um quadrinho de uma menina com cabelos desgrenhados e falou “esses quadrinhos se parecem muito com você”. Fui pesquisar e não consegui evitar a identificação imediata com a personagem e sua sinceridade hilária. Mas quanto mais eu me divertia com os quadrinhos, mais eu percebia que ela não se parece só comigo: ela se parece com todas nós mulheres ou jovens adultas começando a ser independentes. O livro Ninguém vira adulto de verdade, lançado pela Companhia das Letras esse ano, é uma junção dessas tirinhas

A sacada das tirinhas de Sarah Andersen é mostrar as inseguranças, trapalhadas e até a infantilidade que habita em nós — apesar de às vezes querermos esconder isso ao máximo. Afinal, quem nunca resolveu fazer um dia de faxina para não resolver aquele problema urgente ou foi num encontro com o crush e fingiu que não sabia nada sobre a vida dele quando na verdade já tinha dado aquela stalkeada e descoberto absolutamente tudo?

Ninguém vira adulto de verdade é uma compilação de quadrinhos, acima de tudo, sincera. Mas não aquela sinceridade estilo tapa na cara (alô, Black Mirror), mas uma acolhedora, na qual a personagem revela que nossas neuras e até hábitos (como tirar a roupa da secadora e, ao invés de dobrá-las, só ficar abraçada nelas para aproveitar o quentinho) são mais normais do que parecem.

O recado de Ninguém vira adulto de verdade é claro: somos todas garotas-mulheres que enfrentam dilemas diários, alguns mais importantes e outros mais superficiais. Pode ser que algumas inseguranças como ir à praia com a depilação vencida tenham passado e a gente até tenha começado a lavar as próprias roupas, mas certas coisas como ganhar o salário e torrar tudo em um dia, ou guardar aquele bichinho de pelúcia da infância são uma realidade.

Basicamente, o tempo pode passar e a gente pode até crescer e ganhar novas responsabilidades, mas por trás das selfies estilosas e da pose de autossuficientes, temos uma criança interior que pensa e faz muitas bobagens (nem que seja só dentro da nossa cabeça).

Originally published at www.siteladom.com.br on December 21, 2016.

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