Nossa Casa está em Chamas: o livro sobre a vida de Greta Thunberg

Mariana Miranda
Lado M
5 min readApr 16, 2021

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O dia 20 de agosto de 2018 tinha tudo para ser como mais um qualquer na Suécia. O país nórdico possui uma economia altamente desenvolvida, ocupa o quarto lugar do mundo no Índice de democracia e apresenta um dos mais baixos níveis de desigualdade de renda do mundo. Com tantos marcos dignos de comemoração, não há mais nada com o que se preocupar, certo? Errado. Ainda faltava avanços significativos em um dos pontos mais cruciais dos nossos tempos: lidar com a crise climática. E foi por esse motivo que Greta Thunberg se sentou sozinha nas escadarias do parlamento sueco com um cartaz onde se lia “greve escolar”.

Greta Thunberg liderando a greve escolar sentada fora do Parlamento sueco, em um esforço para forçar os políticos a agirem sobre a mudança climática. Fotografia: Michael Campanella / The Guardian

Oito meses depois, o protesto solitário da jovem de até então 16 anos se tornou uma marcha histórica pelo clima, o #schoolstrike4climate, que levou às ruas mais de 1,5 milhões de estudantes de mais de 100 países, incluindo o Brasil. Greta Thunberg se tornou uma das mais conhecidas ativistas pelo clima do mundo, é considerada pela revista Time uma das líderes da próxima geração e foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz.

“Nós, crianças, geralmente não fazemos o que vocês mandam. Nós fazemos o que vocês fazem. E como vocês, adultos, estão se lixando para o futuro, eu também vou me lixar. Meu nome é Greta e estou no 9º ano e estou em greve pelo clima até o dia das eleições.”

Greta Thunberg e o autismo

O livro Nossa Casa está em Chamas: ninguém é pequeno demais para fazer a diferença, trazido para o Brasil pela editora Best Seller, conta a história da infância e da adolescência de Greta. Antes de virar o fenômeno que é hoje, ela e sua família passaram por diversos desafios. Um dos mais difíceis aconteceu quando a garota, aos 8 anos, parou de comer repentinamente. A depressão fez com que Greta perdesse dez quilos em dois meses. Seus pais, Melena Ernman e Svante Thunberg, viram suas vidas viradas de cabeça para baixo.

Eles começaram a travar uma batalha contra os sistemas de saúde e escolar suecos, que não conseguiam lidar com sua filha. Depois de tentativas para conseguir o diagnóstico e tratamento adequados, por fim Greta é diagnosticada com Síndrome de Asperger e alguns outros transtornos neuroatípicos. Tempos depois, Beata, a irmã caçula de Greta, também é diagnosticada com Asperger, TOC, TOD e TDAH.

Foi em meio aos dramas familiares, narrados nos livros por Melena, que Greta começa a entrar em contato com a crise climática e com a falta de atenção que o tema recebia por parte da sociedade e dos políticos.

“Tem gente que caçoa de mim por causa do meu diagnóstico. Mas Asperger não é uma doença, é um dom. Tem também os que dizem que, como tenho Asperger, eu não poderia ter me colocado nessa posição. Mas é exatamente por isso que me coloquei nessa posição. Porque, se eu fosse ‘normal’, e social, eu teria me afiliado a uma organização ou começado uma sozinha. Como não sou boa em socializar, fiz isso. Eu estava muito frustrada porque nada estava sendo feito em relação à crise climática e senti que tinha que fazer alguma coisa, qualquer coisa.”

Nossa Casa está em Chamas e ninguém está fazendo nada

Aos 8 anos, Greta assistiu na escola a um documentário sobre a crise climática. Provavelmente eu, você e tantas outras crianças já assistiram algo do tipo durante nossos anos letivos. O filme, que provavelmente passou batido para diversas pessoas, levantou diversas questões para Greta: como ninguém falava a respeito disso? Como os políticos e outros adultos não se preocupavam com algo tão catastrófico e ligado à nossa sobrevivência acontecendo?

Foi a partir desse momento que Greta começou a estudar sobre a crise climática e como é apresentada na mídia. Ela começou com seu poder de influência em casa ao convencer seus pais a mudarem o estilo de vida. Na medida do possível, Greta troca o avião pelo trem, não consome carne e laticínios, repensou os hábitos gerais de compra e segue a regra do reduzir, reutilizar e reciclar. Porém, a mudança precisa ser feita em uma escala muito maior para conseguirmos reverter o problema.

“Você imaginaria que todos os nossos líderes e a mídia estariam falando apenas disso — mas ninguém nem menciona esses fatos. Assim como ninguém mencionou nada sobre os gases de efeito estufa que já estão bloqueados no nosso sistema, ou que a poluição do ar esconde um aquecimento. Isso quer dizer que, quando paramos de queimar combustíveis fósseis, já temos um nível extra de aquecimento, talvez e 0,5 º a 1,1ºC. E ninguém menciona que estamos no meio da sexta extinção em massa, com cerca de 200 espécies sendo extintas a cada dia. E que a taxa de extinção natural hoje é entre mil e dez mil vezes maior do que o normal.”

Em 334 páginas, mergulhamos na vida de Greta e de sua família. Dividido em quatro partes, Nossa Casa está em Chamas mostra a trajetória da família em meio a diagnósticos e o ativismo climático. Essa é uma leitura mais do que essencial para os tempos atuais. Afinal, a cada dia que passa, menos tempo temos.

Abertura do Encontro de Cúpula sobre Ação Climática. Greta diz que “o mundo está despertando” para o problema da emergência climática e que os jovens ficarão de “olho nos políticos e líderes internacionais”

Sobre a autora

Melena Ernman cresceu em Sandviken. Ela é cantora de ópera formada pelo Royal College of Music e pela Academia de Ópera de Estocolmo. Ernman percorreu o mundo e se apresentou em Tóquio, Roma, Madri, Paris, Londres e Los Angeles. Ela vive na capital sueca com o marido, o ator Svante Thunberg, e as duas filhas, Greta e Beata.

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Mariana Miranda
Lado M
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Formada em Jornalismo pela ECA-USP e cofundadora do Lado M