Nova campanha contra a Violência Doméstica foca em homens cristãos

Lado M
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4 min readNov 9, 2020

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A sociedade brasileira é marcada pela violência. Segundo dados do Ministério da Saúde (2019), a cada quatro minutos uma mulher é agredida, sendo que em 80% dos casos os agressores são namorados, maridos ou ex-maridos. E os homens católicos e evangélicos também contribuem para a alta dos casos.

O Brasil é um país laico, mas majoritariamente cristão (IBGE, 86,8%). Dados da Pesquisa DATAFOLHA (2020) mostram o aumento de homens cristãos no país, com mais de 103 milhões de homens que se declaram católicos (49%) e 89 milhões evangélicos (42%).

Segundo o Conselho de Proteção à Vítima de Violência Doméstica, mais de 66% das ligações para o 190 são denúncias de violência doméstica, e os dias de maior reportação são às quartas-feiras, dia conhecido como o do “futebol”, o que acentua atos agressivos. Aos domingos, além do futebol, é o dia que o “irmãozinho” se empodera com o machismo estrutural na Igreja, e quando chega em casa, bate na mulher.

As alarmantes estatísticas e as crescentes denúncias de violência doméstica indicam que, a despeito das recentes conquistas femininas, o país ainda vive mergulhado por um machismo estrutural, legitimado por instituições, como a própria Igreja brasileira (Católica Romana e evangélicas), onde muitas mulheres ainda enfrentam um cotidiano de medo, violência e sofrimento, muitas vezes, submetidas por homens que se dizem “cristãos”.

Campanha Homem de Deus não bate em Mulher

Pensando nesse cenário, o Projeto Preciosa lança nesta segunda-feira, 9 de Novembro, a campanha Homem de Deus não bate em Mulher.

Inspirados em uma campanha da ONU, mas segmentada para o público evangélico, a iniciativa pretende fomentar o debate sobre o tema e ampliar a conscientização sobre essa situação. O objetivo é conscientizar homens cristãos sobre o seu verdadeiro papel de ir contra todo e qualquer tipo de violência contra a mulher.

“Recebemos diariamente pedidos de socorro de mulheres cristãs, evangélicas e católicas, vítimas de violência doméstica cometidas por homens cristãos, o que prova que essa realidade não está aquém das instituições religiosas, muito pelo contrário, por vezes, é cometido por líderes e pastores. Logo, é importantíssimo que o debate e o diálogo de conscientização contra a violência doméstica seja estabelecido na comunidade cristã brasileira — tendo em vista que, a própria Bíblia condena o homem violento”, disse Mariana Domin, idealizadora do Projeto Preciosa.

A campanha será lançada no Canal oficial do Projeto Preciosa no Youtube, convidando internautas católicos e evangélicos a se engajarem por meio das mídias sociais.

Sobre o Projeto Preciosa

Atualmente, de acordo com a ONU, a taxa de feminicídios no Brasil é a 5° maior do mundo. A cada 1h30, uma mulher é violentada no país. A cada 2h uma mulher é morta por seus companheiros ou ex-maridos.

No Brasil existem quase 100 milhões de mulheres adeptas da crença, entre católicas e evangélicas, segundo o IBGE. Em uma pesquisa de doutorado feita pela teóloga Valeria Cristina Vilhena, foi constatado que 40% das mulheres em abrigos são evangélicas.

Aprofundando essas pesquisas e apuração, principalmente de notícias midiatizadas, a jornalista e missionária Mariana Domin constatou que muitas dessas mulheres atingidas por opressões físicas e psicológicas são cristãs e, em sua maioria, silenciam os abusos e atos cometidos pelo agressor em razão de orientações da religião ou de líderes religiosos.

Consternada com este panorama, o Projeto Preciosa nasce com o ensejo de revelar que essas mulheres não são estatísticas. Todas elas têm histórias, sonhos e projetos que, fatalmente, são estilhaçados pela violência ou feminicídio. Um dos objetivos é incentivar e conscientizar a Igreja Cristã Brasileira a desenvolverem a acolhida, escuta e abrigos para vítimas de violência cristãs.

O projeto atende diferentes graus de violências, desde sequelas psicológicas, queimaduras, paraplegia e feminicídios. As três missões são:

Empoderar: mulheres vítimas de violência com ensinos sobre sua identidade e valor, além de revelar que elas continuam Preciosas para Deus e revelar sua beleza e poder através do “Dia de Preciosa”.

Denunciar: além das “denúncias espirituais” através de orações, o projeto quer ajudar as mulheres a também denunciarem as agressões fisicamente, estimulando a mulher que sofre esses crimes a não somente orar, mas denunciar aos orgãos competentes seus agressores.

Acolher: incentivar a criação de uma “Cultura de Combate e Enfrentamento da Violência Doméstica” em espaços religiosos, especificamente igrejas evangélicas e católicas, além de direcionar mulheres vítimas de violência para igrejas que possam ajudá-las. Tendo em vista que, a cada 14 minutos abria-se uma Igreja no Brasil, o que denota que há mais igrejas do que abrigos, que já estão superlotados.

O que motive o Projeto Preciosa é buscar o apoio da sociedade como um todo e de líderes religiosos, pois para as mulheres cristãs, as comunidades de fé é a instituição que elas mais confiam, o que acreditamos que deve ser um lugar de apoio e abrigo para as mesmas.

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