O Outro Lado do Paraíso traz debates sobre a violência contra a mulher
O Outro Lado do Paraíso é a nova novela da faixa das 21 horas da Rede Globo. A obra substitui A Força do Querer, que, entre outras questões, abordou a transexualidade. Seguindo a linha de abordar temas que estão em foco na sociedade, a nova novela de Walcyr Carrasco traz um assunto que ganhou destaque nos últimos anos e cujas discussões a respeito se mostram cada vez mais necessárias: a violência contra as mulheres.
O drama de Clara em O Outro Lado do Paraíso
Em O Outro Lado do Paraíso, os abusos contra as mulheres têm sido abordados, principalmente, por meio da personagem Clara, vivida por Bianca Bin.
Jovem simples do interior do Tocantins, Clara é uma mulher sem muitas ambições. É professora em uma comunidade quilombola quando conhece Gael, um homem misterioso que viajava sem destino. Romântica, Clara acaba cedendo às investidas daquele que parece ser um príncipe em um cavalo banco — no caso, uma motocicleta -, e em pouco tempo se vê totalmente envolvida.
No entanto, também não demora muito para que Gael apresente um comportamento abusivo. Em uma crise de ciúmes, ele quase joga Renato, médico apaixonado por Clara, do alto de um penhasco. Mais tarde, ao pedir Clara em casamento, ele afirma que é o homem que irá fazê-la feliz. Dias depois, na noite de núpcias, depois de outra crise de ciúmes, Gael a estupra, na cena que é a mais chocante da novela até agora.
Pelo fato de O Outro Lado do Paraíso ainda estar na primeira semana, é cedo para saber se Clara conseguirá se livrar de Gael. No entanto, o próprio Walcyr Carrasco já afirmou que a protagonista ainda vai passar por outras agressões. A ideia é ilustrar as diversas formas de violência pelas quais passam as mulheres em relacionamentos abusivos. Haja estômago para seguir até o final da trama viu, Bianca?
A repercussão
Estupro dentro do casamento
Acompanhando as discussões sobre a novela nas mídias sociais, é possível notar que grande parte do público conseguiu finalmente entender que, sim, há estupros dentro de um casamento. Conseguiu entender que não é porque uma mulher está inserida em um vínculo matrimonial que ela é obrigada a ceder a uma transa. Se uma relação não é consentida, independentemente de qual seja o motivo para o não consentimento, é estupro. E também não importa como seja o ato sexual (se é oral, anal, vaginal): se não é consentido, é estupro. Ponto.
Compreensão sobre as vítimas
Também foi possível notar que a novela abriu espaço para a desconstrução de equívocos sobre relacionamentos abusivos. Enquanto muita gente chamava a Clara de burra por não notar os sinais de agressividade de Gael, muita gente também se esforçava para explicar que as vítimas não devem ser julgadas, mas sim compreendidas e acolhidas. E por que? Porque os sinais de abuso podem estar claros para quem está fora do relacionamento, mas não para quem está dentro. Há toda a estrutura de violência psicológica montada pelo agressor, de modo que as agressões seguidas de carinhos montam uma armadilha que levam a um estado de negação. Para sair dessa situação, é preciso suporte, apoio, para que a vítima tenhas forças para se livrar de seu agressor.
Mitos sobre relacionamentos abusivos
Outro ponto que chamou a atenção do público é que Gael não é abusivo apenas com a esposa. Em uma determinada cena, ele aperta o braço da irmã, Lívia. Em outra age de maneira rude com Raquel, amiga de Clara.
Também foi observado como o mito do príncipe encantado foi fundamental para a situação abusiva. Mesmo tendo consciência de que o relacionamento aconteceu muito rápido, a protagonista se deixou levar pela ideia do amor à primeira vista, constantemente reiterada nas promessas de Gael.
O que esperar
Como todo homem abusivo, Gael acredita que pedir desculpas é o suficiente para compensar as suas atitudes. Até agora, Clara tem relevado. Porém, esperamos que a novela incentive as mulheres a não aceitarem os abusos de seus parceiros. Para escrever a novela, Walcyr Carrasco tem se apoiado na obra Um Soco na Alma — Relatos e Análises Sobre Violência Psicológica, de Beatriz Schwab e Wilza Meireles, e pela maneira como a trama tem corrido, tudo leva a crer que o autor tentará uma abordagem responsável do tema.
Por outro lado, quem não tem sido responsável é o próprio intérprete de Gael, o ator Sérgio Guizé. Guizé, em algumas entrevistas, descreveu seu personagem como “uma pessoa que age por amor”. O público tem aprendido e esperamos todo o elenco também entenda que amor não motiva violência.
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Originally published at www.siteladom.com.br on October 25, 2017.