Sobre se comparar: o sucesso da outra não é o seu fracasso
Quando a melhor amiga da minha amiga conseguiu aquele emprego incrível, foi que eu comecei a pensar sobre isso. Na verdade, foi a atitude da minha amiga perante tudo isso que me fez parar para refletir um pouco sobre esse mundo doentio no qual a gente vive buscando aprovação, sucesso e primeiros lugares.
Era como se minha amiga nunca mais fosse arrumar um emprego. Era como se ninguém no mundo pudesse ser feliz com seu trabalho ou coisa do tipo porque aquela outra conseguiu. Aquela outra chegou lá antes de todas nós e conquistou o emprego dos sonhos. Não havia espaço para mais nenhuma porque a vaga era dela. E isso doeu na minha amiga. E doeu em mim ver a dor dela.
Em que momento da nossa vida fomos ensinadas a não sentir felicidades genuínas pelas outras? Em que momento nos disseram, e nós acatamos, que, se fulana tem algo incrível, você é pior que ela? Em que momento passamos a acreditar que, se a outra é linda, então nós somos feias? Tudo bem, sei que a resposta para essa pergunta está em anos de uma sociedade estruturalmente montada para que a gente seja competitiva uma com a outra. Mas por favor, você, mulher, provavelmente estudada, que lê e se informa: vamos tentar tirar essa erva daninha do coração?
Mais do que um discurso de “mais amor por favor”, saber ficar feliz com as conquistas alheias nos aproxima de sentimentos bons e aumenta a sororidade existente entre nós. Eu diria até que ficar feliz pelo sucesso da outra é uma forma genuína de revolução. Revolução por gostar de algo que não te afeta, não te traz benefícios, só felicidade pelo outro, assim, de graça mesmo. Revolução é poder levantar a cabeça e não se sentir menor por não ter o emprego dos sonhos que a amiga tem, ou aquele namorado incrível e atencioso que sua prima arrumou. Revolução é olhar para si e enxergar que apesar de tudo, você tem coisas incríveis, qualidades únicas e momentos extremamente felizes que só você viverá. E que sua amiga tem tudo isso também. E tá tudo bem. Sabe por quê? Porque o emprego dela ser incrível não deixa o seu mais chato. Porque ela ser linda não te deixa feia. Porque ela ter sucesso não te faz fracassar.
Eu sei que te disseram que a vida adulta é uma competição. Sei que colocaram na sua cabeça que fazer inveja nas amigas é algo bom. Mas na real mesmo? Não é. Você não quer ser invejada moça, e se sua amiga quer, ela não deve saber muito bem do que está falando. Você quer é conquistar suas coisas, ser feliz com suas escolhas, ser livre para tomar suas decisões. E sabe o que eu espero que você queira para a sua amiga? As mesmas coisas. Conquistas, felicidade, liberdade. Sucesso. Para todo mundo. Essa hora chega, né? Um dia a gente tá tristinha vivendo uma crise enorme e achando que nunca mais vai arrumar um emprego. No outro a gente tá lá, onde quis estar. E se sua amiga está onde ela quer estar a mais tempo do que você, não se preocupe. Não existe uma cota de sonhos alcançados, tá? O próximo sempre pode ser o seu, acredite em mim.
Que muitas vezes a vida adulta será uma competição, eu posso te dizer que é verdade. Vestibular, emprego, intercâmbio. Tudo isso depende do seu desempenho, do desempenho dos outros. Um eterno quem vai se dar melhor. Mas, por que então não deixar esse lado competitivo só para essas coisas inevitáveis? De resto, eu garanto que faz um bem danado a gente sentir felicidade pela outra do que achar que seremos fracassadas por qualquer que seja o motivo.
A sociedade fala todos os dias para competirmos com nossas amigas. Fala sempre que mulheres não cultivam amizades verdadeiras e que no fundo querem ver a outra se dando mal. Não deixe isso atingir você. Saiba que todas nós somos diferentes em aspectos incontáveis. E que isso é lindo. Mais lindo ainda é fazer essa revolução interna e externa de ser feliz pela outra: você nem pede nada em troca, mas acaba ganhando uma paz de espírito que não tem preço.
Originally published at www.siteladom.com.br on April 25, 2016.