Onde estão as mulheres que fizeram a História?

Isabela Borrelli
Lado M
6 min readNov 30, 2015

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Até hoje me lembro do dia em que, estudando para uma prova de Ciências, por volta dos 13 anos, me deparei com um quadrinho de curiosidades no final da página: foi a primeira vez que eu ouvi falar de Marie Curie, ganhadora duas vezes do Prêmio Nobel, um de física (1903) e outro de química (1911). Além de ter sido a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel, era a primeira mulher que eu via naquelas páginas de ciências. Fiquei fascinada. Nunca esqueci seu nome e esperei pelo momento em que fosse estudar sua pesquisa: talvez nas aulas de Química ou Física, quando chegasse ao colegial?

No entanto, essas aulas sobre Marie Curie nunca chegaram. Vi muitos nomes (o que mais lembro é o de Lavoisier), mas todos masculinos. Isso não se restringiu às exatas: a Princesa Isabel, responsável por assinar a Lei Áurea, foi uma figura feminina na qual me agarrei enquanto estudava História, mas, depois, as explicações que eu tive sobre seu feito resumiam-na a uma simples marionete que só fez o que já ia ser feito de qualquer jeito.

Outro nome que me deparei recentemente foi o de Dandara dos Palmares, guerreira negra que lutou contra a escravidão de negros e negras. Aparentemente, ela dominava a capoeira e participou de várias lutas, sendo considerada uma heroína. Dandara se suicidou para não voltar a ser escrava e, apesar de ter lutado durante grande parte de sua vida, sua existência muitas vezes é resumida à sua relação com Zumbi dos Palmares, seu marido.

Essa inexistência ou diminuição do papel das mulheres é recorrente e acredito que, como eu, muitas de nós mulheres se surpreendem ao ver notícias — mais caracterizadas como curiosidades — sobre, por exemplo, a irmã de Mozart, Maria Anna, descrita como tão talentosa ou até mais que Wolfgang. Ou até que a primeira pessoa a programar tenha sido uma mulher, Ada Augusta Byron King, Condessa de Lovelace, criadora do primeiro algoritmo.

Esses nomes não estão nos nossos livros na escola e, se estão, ficam no rodapé ou no quadro de curiosidades. Agora, se existem milhares de nomes de mulheres que fizeram história por suas descobertas ou feitos, por que continuam no anonimato? A resposta é um tapa na cara: a partir do momento em que crescemos sem conhecer essas grandes mulheres, que atuaram em TODOS os campos do conhecimento, passamos a acreditar que também não somos capazes.

Mas somos.

Então, se a escola não nos ensinará sobre as mulheres que fizeram história, não seremos nós que deixaremos esses nomes caírem no esquecimento. Aqui, somente alguns — porque, obviamente, a lista é muito maior — nomes de mulheres que marcaram o Brasil e o mundo.

Ada Augusta Byron King (18151852)

Ada Augusta Byron King, Condessa de Lovelace, escreveu o primeiro algoritmo para ser processado por uma máquina, por esse e por outros trabalhos, é considerada a primeira programadora de toda a história.

Amelia Earhart (18971937)

Amelia Mary Earhart foi pioneira na aviação dos Estados Unidos, autora e defensora dos direitos das mulheres, além de ter sido a primeira mulher a voar sozinha sobre o oceano Atlântico.

Anita Garibaldi (1821–1849)

Anita Garibaldi participou de diversas batalhas no Brasil e na Itália. Lutou na Revolução Farroupilha (Guerra dos Farrapos), na Batalha dos Curitibanos e na Batalha de Gianicolo, na Itália.

Angela Davis (1944-atualmente)

Angela Davis é uma professora e filósofa socialista estadunidense que militou pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos.

Carolina Maria de Jesus (1914–1977)

Com base em sua vivência como catadora de lixo, Carolina escreveu o livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, que a consagrou como uma das mais importantes escritoras negras do Brasil.

Cecília Meireles (1901–1964)

Cecília Benevides de Carvalho Meireles foi poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira, considerada uma das personalidades mais importantes da literatura brasileira.

Chiquinha Gonzaga (1847–1935)

Primeira pianista de choro, autora da primeira marcha carnavalesca com letra (“Ó Abre Alas“, 1899) e também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil.

Clarice Lispector (1920–1977)

Clarice Lispector foi autora de romances, contos e ensaios sendo considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX e a maior escritora judia desde Franz Kafka.

Dandara dos Palmares

Descrita como uma heroína, Dandara dominava técnicas da capoeira e lutou em muitas batalhas consequentes a ataques ao Quilombo dos Palmares.

Elizabeth Arden (1884–1966)

Elizabeth Arden foi uma das grandes cosmetólogas e empresárias do mundo moderno. Formada em enfermagem, formulou cremes para queimaduras e elaborou loções e pastas cosméticas, utilizando gorduras, leites e outras substâncias.

Florence Sabin (1871–1953)

Florence Rena Sabin foi a primeira mulher a ocupar uma cátedra na Universidade Johns Hopkins de Medicina, a primeira mulher eleita para a Academia Nacional de Ciências, e a primeira mulher a chefiar um departamento no Instituto Rockefeller de Pesquisa Médica

Gertrude Bell Elion (1918–1999)

Foi pesquisadora e especialista em tratamentos de leucemia e gota. Também desenvolveu drogas para o tratamento dessas doenças, descobrindo novos e importantes princípios de quimioterapia, incluindo o dos betabloqueadores, o que resultou na conquista do Nobel de Fisiologia de 1988.

Harriet Tubman (1820–1913)

Harriet Tubman foi uma afro-americana natural dos Estados Unidos, abolicionista, humanitária, que lutou pela liberdade, contra a escravidão e o racismo.

Joana D’Arc (1412–1431)

Joana d’Arc foi uma chefe militar da Guerra dos Cem Anos, tornando-se uma mártir francesa e também heroína de seu povo, canonizada em 1920, quase cinco séculos depois de ter sido queimada viva.

Johanna Döbereiner (1924–2000)

Johanna Liesbeth Kubelka Döbereiner foi uma engenheira agrônoma pioneira em biologia do solo. Suas pesquisas, fundamentais para que o Brasil desenvolvesse o Proalcool e se tornasse o segundo produtor mundial de soja, a fizeram ser nomeada ao Prêmio Nobel de 1997.

Leila Diniz (1945–1972)

Leila Diniz foi uma atriz brasileira que quebrou tabus ao falar abertamente sobre sua vida sexual e também por utilizar palavrões sem o pudor exigido pela época.

Margareth Thatcher (1925–2013)

Margaret Hilda Thatcher, Baronesa Thatcher, foi uma política britânica, primeira-ministra do Reino Unido de 1979 a 1990.

Maria Anna Mozart (1751–1829)

Maria Anna Walburga Ignatia Mozart foi uma musicista na Europa do século XVIII. Irmã mais velha de Wolfgang Amadeus Mozart, fez grande sucesso até a adolescência, quando teve que se casar.

Maria Gaetana Agnesi (1718–1799)

Maria Gaetana Agnesi foi uma linguista, filósofa e matemática italiana. Agnesi é reconhecida como tendo escrito o primeiro livro que tratou, simultaneamente, do cálculo diferencial e integral.

Marie Curie (1867–1934)

Marie Curie fez grandes pesquisas no campo da radiotividade, descobrindo os elementos polônio e rádio. Devido às suas descobertas, recebeu dois Prêmios Nobéis: um de física (1903) e outro de química (1911).

Melanie Klein (1882–1960)

Melanie Klein foi uma psicanalista austríaca que trouxe diversas contribuições para a área de psicoterapia infantil.

Nise da Silveira (1905–1999)

Nise da Silveira foi uma renomada psiquiatra brasileira, aluna de Carl Jung, que dedicou sua vida à profissão e manifestou-se radicalmente contrária às formas agressivas de tratamento de sua época, tais como o confinamento em hospitais psiquiátricos, eletrochoque, insulinoterapia e lobotomia.

Olga Benário Prestes (1908–1942)

Olga Benário Prestes foi uma jovem militante comunista alemã de origem judaica, que participou da Intentona Comunista, no Brasil, e, depois de ser capturada, foi levada à Alemanha nazista, onde foi vítima da câmara de gás.

Simone de Beauvoir (1908–1986)

Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, foi uma escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social francesa.

Tereza de Benguela

Teresa de Benguela foi uma líder quilombola que viveu no atual estado do Mato Grosso, no Brasil, durante o século XVIII.Com a morte de seu marido, Teresa se tornou a rainha do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas.

Virginia Apgar (1909–1974)

Virginia Apgar foi uma médica norte-americana que se especializou em anestesia. É mais conhecida como a responsável pelo desenvolvimento do Índice de Apgar, um método de avaliação de saúde de recém-nascidos que reduziu drasticamente a mortalidade infantil em todo o mundo.

Zuzu Angel (1921–1976)

Zuleika Angel Jones ficou conhecida nacional e internacionalmente não apenas por seu trabalho inovador como estilista de moda, mas também pela procura pelo filho, Stuart Angel Jones, assassinado pelo governo da ditadura e transformado em desaparecido político.

Wangari Muta Maathai (1940–2011)

Wangari Muta Maathai foi uma professora e ativista política do meio-ambiente do Quênia, sendo também a primeira mulher africana a receber o Prêmio Nobel da Paz.

Originally published at www.siteladom.com.br on November 30, 2015.

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