Orphan Black: uma série de empoderamento que vale uma maratona

Ana Carolina Müller
Lado M
3 min readApr 6, 2017

--

Inicialmente produzida pela BBC desde 2013, Orphan Black teve seus direitos comprados no ano passado pela Netflix — que não demorou a mostrar que seus originais realmente possuem uma fórmula para o sucesso. Mais do que episódios cuidadosamente produzidos e finais bem amarrados, a série traz um novo olhar para a ficção-científica, levando o público a um mundo de conspirações assustadoramente reais.

Logo nos primeiros minutos da série, somos apresentados a Sarah Manning, uma jovem presa num relacionamento abusivo com um traficante de drogas e tentando retomar o contato com a filha pequena, deixada há anos sob os cuidados da avó. Enquanto espera o trem após uma discussão com sua mãe adotiva, ela presencia o suicídio de uma mulher que, segundos antes de pular na plataforma, olha para Sarah e revela que ambas possuem rostos idênticos. Imediatamente, ela foge da estação com todos os pertences da desconhecida, Elizabeth Childs, e descobre que roubar sua identidade poderia ser a solução perfeita para todos os seus problemas financeiros. O plano muda ao descobrir que Beth era uma policial profundamente envolvida em uma investigação que também interessava a Sarah: ambas são fruto de uma experiência genética, junto com uma quantidade incalculável de outros clones.

Imersa nesse mundo, Sarah é levada até outras de suas “irmãs” e, com elas, passam a tentar entender suas origens e o motivo do suicídio de Beth. Essa investigação leva a respostas dolorosas — a existências dos clones é propriedade privada das instituições de pesquisa científica, os clones estão correndo risco de vida e até mesmo pessoas próximas e amadas podem não ser confiáveis. As irmãs têm apenas umas às outras para enfrentar algo muito maior que elas e, com tantos talentos e conhecimentos diferentes, se saem muito bem nisso.

É com essa temática que Orphan Black vai além daquilo que agrada os fãs de qualquer ficção científica e consegue cativar até mesmo os mais exigentes. Por mais que as pesquisas atuais sobre clonagem ainda não tenham chegado no nível de tecnologia exigido pelo roteiro, o caminho seguido leva a conflitos e soluções plausíveis, fazendo a mente do público viajar com diversas teorias da conspiração e suas possibilidade. Além disso, há uma discussão ética que permeia toda a história, já que a ciência não é a arma apenas dos “vilões”: Cosima, uma das clones, faz o papel perfeito como exemplo de mulher cientista e como nossa guia por esse mundo, explicando conceitos a suas irmãs — e, consequentemente, ao público leigo.

Mas, para falar das clones, é impossível deixar de falar da atuação brilhante de Tatiana Maslany, um dos principais motivos para acompanhar Orphan Black. A atriz canadense já interpretou, ao longo de quatro temporadas, oito personagens diferentes (sem contar algumas aparições rápidas) que, apesar de ganharem vida através da mesma atriz, têm personalidades, aparências, sotaques e até mesmo olhares totalmente diferentes. Como se não bastasse, em alguns momentos do roteiro, uma irmã precisa se passar por outra, o que possibilita Maslany pegar o desconforto da personagem com essa situação e criar uma nova interpretação para ela que não se assemelha com nenhuma das duas clones envolvidas. Parece confuso e até impossível, mas o número crescente de prêmios por sua atuação está aí para mostrar que Tatiana consegue.

Com toda essa diversidade de personagens incríveis, é fácil entender porque Orphan Black consegue trazer para o mundo das séries de ficção científica e mistério quem nunca se interessou pelo assunto. O relacionamento das clones entre si (e até mesmo com outros personagens) evolui ao longo das temporadas até o ponto em que uma família surge. Todas as irmãs — sejam cientistas, mães ou criminosas — ajudam umas às outras em primeiro lugar, na luta contra uma empresa que declara ter direitos sobre seus corpos e para sair dos relacionamentos abusivos em que se encontram. A série não falha em mostrar ao público o significado da palavra “sororidade” entre personagens fortes e muito humanas.

A quinta e última temporada de Orphan Black está com estreia prevista para 10 de junho de 2017.

Originally published at www.siteladom.com.br on April 6, 2017.

--

--