Para Educar Crianças Feministas será o seu novo livro de cabeceira

Mariana Miranda
Lado M

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O que você faria se uma amiga, que acabara de se tornar mãe de primeira viagem, te perguntasse o que ela deveria fazer para criar a filha como feminista?

Foi exatamente esse questionamento que Ijeawele faz a Chimamanda Ngozi Adichie. Honrada com a nobre missão de ajudar a amiga, a renomada autora redigiu uma carta com 15 sugestões de como criar, educar e empoderar a pequena Chizalum. O resultado desses belos ensinamentos podem ser encontrados no livro Para Educar Crianças Feministas — Um Manifesto, novo lançamento da Companhia das Letras.

O primeiro conselho de Chimamanda vai diretamente para a nova mãe: “seja uma pessoa completa”. As mulheres ainda abrem mão de realizações pessoais e profissionais por conta da maternidade, ação que é bem vista por parte da sociedade mais “tradicional” da Nigéria. Além disso, a pressão exercida para que as mães dêem conta de tudo — casa, família, trabalho, casamento — as faz acreditar num falso ideal de “super-mulher”.

Em Para Educar Crianças Feministas — Um Manifesto, Chimamanda mostra-se contra essa postura:

“Permita-se falhar. Uma mãe de primeira viagem nem sempre sabe como acalmar um bebê que está chorando. Não ache que precisa saber tudo. Leia livros, procure coisas na internet, pergunta a mães e pais mais velhos ou, simplesmente, vá por tentativa e erro. Mas, acima de tudo, concentre-se em continuar uma pessoa completa. Tire tempo para si mesma. Atenda a suas necessidades pessoais”

O segundo conselho é que o casal divida os cuidados e a educação da filha. A autora mostra a importância de abandonar o termo “ajudar” quando se trata de contar para os outros algo que o pai fez em relação à casa ou ao cuidado dos filhos. É obrigação do pai exercer sua paternidade e ser presente.

“Chudi não merece nenhum elogio ou gratidão especial , nem você — ambos escolheram pôr uma criança no mundo, em ambos têm igual responsabilidade por essa criança”

O terceiro conselho dado é ensinar que “papéis de gêneros” são absurdos. Chimamanda explica que usar a frase “porque você é menina” não é justificativa para nada e é também extremamente nociva para o desenvolvimento da garota. Frases como essas polarizam o universo das crianças, fazendo com que elas comecem a aprender logo cedo que a sociedade impõe algumas funções baseadas apenas em seu gênero e não nas suas habilidades.

“Lembro que me diziam quando era criança para ‘varrer como uma menina’. O que significava que varrer tinha a ver com ser mulher. Eu preferiria que tivessem dito apenas para ‘varrer direito, pois assim vai limpar melhor o chão’. E preferiria que tivessem dito a mesma coisa para os meus irmãos”

Esses e os outros conselhos de Chimamanda devem ser lidos por todos que têm uma criança em suas vidas: para mães e pais de primeira viagem ou já experientes, para quem exerce um papel de educador ou até mesmo para os que querem ajudar a dar exemplos positivos para as crianças a sua volta, seja mostrando para sua priminha que azul não é cor de menino ou falando para o filho do colega de trabalho que não há nada de errado em ser amigo das meninas e que elas, assim como ele, merecem respeito.

É importante ressaltar que o livro se chama Para Educar Crianças Feministas, portanto não se fecha apenas na educação das meninas. A ideia é que, através dos conselhos de Chimamanda, pais e mães de meninos também possam colaborar para uma educação mais igualitária, afinal os meninos também não saem ilesos dos estereótipos de gênero. É preciso quebrar essas barreiras de ambos os lados.

Com exemplos didáticos e pitadas de bom humor, a autora cumpre mais uma vez o importante papel de se comunicar com diversos públicos e não apenas com a militância feminista. Em Para Educar Crianças Feministas — Um Manifesto, o feminismo é ensinado através de situações vividas e de explicações bem embasadas e argumentadas, sem terminologias da militância ou palavras rebuscadas.

Para Educar Crianças Feministas — Um Manifesto é leitura obrigatória para todos que acreditam que é através da educação das crianças que alcançaremos mudanças positivas para nossa sociedade.

Chimamanda Ngozi Adichie é também autora do best-seller internacional Americanah e do livro Hibisco Roxo, ambos publicados no Brasil pela Editora Companhia das Letras.

Originally published at www.siteladm.com.br on April 24, 2017.

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Mariana Miranda
Lado M
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Formada em Jornalismo pela ECA-USP e cofundadora do Lado M