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Polarização política mostra lado machista da violência: a agressão à mulher

Carolina Pulice
Lado M
Published in
3 min readOct 11, 2018

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Casos de ameaças de estupro são os mais comuns, em várias cidades do país

A polarização política começou a mostrar seus traços misóginos. Somente nesta semana, três dias após a votação do primeiro turno, relatos de agressões físicas e ameaças contra mulheres, do país todo, começaram a circular pela internet. Boatos ou não, os verdadeiros casos de agressões já foram levados à polícia, e Boletins de Ocorrências junto com fotos e horrorosos relatos dão o tom do cenário em que uma mulher brasileira pode viver.

Os casos tomaram proporções tão grandes que Organizações tomaram iniciativa e estão mapeando os relatos no país todo. O Mapa da Violência Eleitoral, por exemplo, foi criado com o intuito de armazenar denúncias sobre violência. Os relatos são na maioria de mulheres, anônimas. Já a pesquisa Violência Política no Brasil, elaborada pelo professor Haroldo Ceravolo Sereza, em parceria com Opera Mundi, mostra as denúncias por região. Por enquanto, a região com maior número de relatos de agressão foi o Nordeste.

Vale lembrar o terrível caso do mestre de capoeira que foi morto a facadas em Salvador, na Bahia, após se declarar petista. Sereza, que trabalha há 9 anos compilando relatos de violência em períodos eleitorais, afirma que o memento no país “está fora da curva”. “Me parece que a violência atual está fora do nosso padrão, e dos outros países latino-americanos”, disse.

Na segunda (08), a vítima foi a irmã de Marielle Franco, Anielle Franco. Ela afirmou ter sofiro agressões verbais no Rio de Janeiro. “Sai daí feminista”, “Piranha” foram alguns dos xingamentos relatados pela irmã da ex-vereadora do Rio, em seu Twitter.

O último relato e que mais chamou minha atenção foi o da jornalista pernambucana, que foi agredida com um tipo de faca, e ameaçada de estupro. Segundo ela, dois homens a teriam atacado, xingando-a de “riquinha” de “esquerda”. Ela é jornalista do Jornal do Commercio, que fica em Recife.

Isso porque, como jornalista, coloco-me no lugar dela, e no de tantos outros jornalistas já agredidos neste ano. Como jornalista e como mulher, penso nos prejuízos e nos traumas de viver este período político do país.

Quanto vale uma ideologia? Quanto vale fazer “de tudo” para seu candidato vencer as eleições? Com quem dialogamos? Quando o discurso político ultrapassa o racional e começa a atingir pessoas, especialmente mulheres, começo a questionar a sanidade social do nosso país, e até nossa maturidade política. Estamos realmente prontos para votar, para escolher o governo de um país?

Casos que citam o estupro como maior fonte de ameaça revelam um lado assustador da sociedade brasileira: o lado que vê o corpo da mulher como um objeto que pode ser violado a qualquer momento, por culpa da própria mulher. Me parece que esta ainda é a imagem mais difundida da mulher, que merece ser punida por desafiar, por divergir, ou por simplesmente exercer seu trabalho em um momento polarizado. Elas são as maiores vítimas desse pensamento, relatado no Rio de Janeiro, em Pernambuco, em São Paulo…

Os relatos de violência mostram uma ferida profunda que se abre na sociedade brasileira: a ferida de conflitos, que escancaram mais uma vez nossa veia violenta, nosso apoio à agressão física como forma de se “resolver as coisas”. Temos mais 18 dias pela frente, com o temor de novos conflitos, novos casos de violência e de ameaças. Passados os 18 dias, teremos que conviver com as mesmas pessoas que nos ameaçam. O desafio, portanto, será o de lidar com os receios de que um governo, ou um simples vizinho possam ser esses agressores. Estaremos prontas para isso?

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Carolina Pulice
Lado M

Jornalista que adora discutir sobre tudo com todo mundo, e de escrever sobre todas essas coisas que se tem pra se discutir