Por que “Sobre Fotografia”, de Susan Sontag, é um livro tão importante?

Carolina Carettin
Lado M

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Publicado no Brasil em 1983, Sobre Fotografia é um dos mais conhecidos livros da filósofa e escritora americana Susan Sontag. A autora nasceu em 1933, em Nova York, e cresceu em Tucson, no Arizona. Cursou filosofia na Universidade de Chicago e fez pós-graduação em filosofia, literatura e teologia em Harvard. Faleceu em 2004, mas deixou uma obra extensa sobre os mais diversos assuntos.

Em Sobre Fotografia, Susan Sontag vai abordar, em seis ensaios, a forma como a prática fotográfica foi mudando a sociedade, desde seu surgimento, no século 19 até os anos 70. A autora faz uma leitura a partir do modo como lidamos com a fotografia, como a usamos e como nos relacionamos com ela. Apesar de fazer 40 anos desde sua publicação original, em 1977, o livro traz reflexões extremamente atuais.

“Uma sociedade capitalista requer uma cultura com base em imagens. Precisa fornecer grande quantidade de entretenimento a fim de estimular o consumo e anestesiar as feridas de classe, de raça e de sexo”.

Se trouxermos essa afirmação para os dias de hoje, é possível perceber como o consumo de imagens só aumentou e tornou-se cada vez mais presente em nossas vidas. Se nos anos 70 a população tinha o cinema, a fotografia, a televisão e a pintura; hoje temos a internet somada a todas essas formas de consumo de imagem, com suas redes sociais que se baseiam fortemente em fotografias. Em uma passagem, Sontag diz que “as pessoas de países industrializados procuram ser fotografadas — sentem que são imagens e que as fotos as tornam reais”. Hoje, arrisco-me em dizer que são mesmo as fotos — ou vídeos — que tornam não só as pessoas, mas os lugares e as experiências, reais.

A banalização do sofrimento

Um ponto importante abordado por Sontag, que aparece em vários dos ensaios, é a banalização do sofrimento do outro como consequência do mundo-imagem. Segundo ela, “o choque das atrocidades fotografadas se desgasta com a exposição repetida”. Podemos observar isso não só na fotografia, mas também em programas jornalísticos, por exemplo, em que a morte de uma pessoa é rapidamente esquecida e dá espaço para outra notícia.

Em relação a isso, a autora expõe o dilema ético do fotógrafo que não intervém na situação, preferindo registrá-la para mostrar ao mundo.

“Enquanto pessoas reais estão no mundo real matando a si mesmas ou matando outras pessoas reais, o fotógrafo se põe atrás de sua câmera, criando um pequeno elemento de outro mundo: o mundo-imagem, que promete sobreviver a todos nós.”

Para quem gosta de fotografia, Sobre Fotografia é um livro essencial. Para aqueles que não se interessam diretamente pelo tema, mas gostam de ler e refletir sobre fenômenos contemporâneos, também vale a pena, já que como pontua a autora, “hoje, tudo existe para terminar numa foto.”

Originally published at www.siteladom.com.br on June 4, 2018.

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Carolina Carettin
Lado M
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Jornalista, caipira de Araras, interior de São Paulo. É bailarina desde criança, ama ler e é fã da Rita Lee.