Por um mundo onde as brasileiras não sejam vistas só como peito e bunda
“E uma daquelas moças era toda tingida de baixo a cima, daquela tintura e certo era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha tão graciosa que muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições envergonhara, por não terem as suas como ela”
(Carta de Pero Vaz de Caminha)
O trecho acima faz parte da carta produzida por Pero Vaz de Caminha, em 1500, destinada ao Rei D. Manuel. É o primeiro documento que temos sobre o Brasil e as mulheres do nosso território. Podemos até dizer que é a primeira imagem das “nossas” mulheres para o mundo.
A mulher exótica, com lindo corpo e sem nenhum embaraço em andar nua são as definições de Caminha para as indígenas. É interessante observar como essas imagens ainda são familiares para as brasileiras que viajam ou vivem no exterior, ainda que o contexto seja outro e que haja diversas considerações históricas a serem feitas.
No entanto, de 1500 até o momento, pouca coisa mudou em relação à imagem da mulher brasileira no exterior. As brasileiras ainda continuam sendo exóticas e sexualizadas na visão de muitos gringos. A indígena, com forte apelo erótico, representada na carta de Caminha, passou para a mulher negra, também erotizada e objetificada, em notícias e publicidades sobre o carnaval e o turismo no exterior.
A erotização das brasileiras virou atrativo para divulgar o Brasil para o restante do mundo. Com isso, uma série de estereótipos, que são imagens generalizadas e simplificadas, foram criados: a imagem da brasileira com grandes curvas, forte apelo sexual, sempre sorrindo, sambando e festeira. Para identificar isso, não é preciso ir longe, basta pesquisar no Google a palavra “brazilian”.
Por conta desses estereótipos, no exterior diversas brasileiras acabam passando por situações extremamente desagraveis. Alguns gringos acreditam que elas são mulheres “fáceis” e que isso os dá liberdade de ter atitudes não consentidas, como toca-las e falar coisas desagraveis.
Além disso, há relatos de brasileiras que são casadas com estrangeiros e que são taxadas como interesseiras pelos familiares e amigos. Um estereótipo enraizado tanto na questão da mulher “fácil” quanto no fato de ser latina.
Nem toda brasileira é bunda: o que precisa ser feito para provar isso?
Apenas o conhecimento, interação e conscientização podem mudar o atual cenário. Se faz necessário e urgente é a mudança da representação da mulher brasileira no exterior.
É importante que tanto que o Ministério do Turismo (Mtur) quanto as empresas que trabalham nesse setor mudem suas estratégias de comunicação e parem de incentivar esses estereótipos.
Além disso, nós também podemos fazer nossa parte por meio da mobilização. Hoje a rede é nossa maior aliada. Não podemos mais ficar em silêncio quanto somos vítimas de estereótipos, precisamos falar e expor essas situações para que elas cheguem cada vez mais adiante e possam conscientizar o máximo de pessoas possíveis.
Assista ao mini-doc “Brazilian Girls On Identity” de Regina Lemaire-Costa
Leia também: Não sou mercadoria: não me chame de “Morena Tipo Exportação”
Originally published at www.siteladom.com.br on June 16, 2017.