Rainha de Katwe: um filme sobre empoderamento feminino na África

Graci Paciência
Lado M
Published in
3 min readNov 29, 2016

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A pobreza extrema e a falta de perspectiva podem se apoderar de inúmeros aspectos da vida de uma pessoa. O mais impactante é quando a crença ou vontade de mudar uma situação degradante corre o risco de ser ofuscada por essas dificuldades, e é isso que encontramos em Rainha de Katwe, o novo filme da Disney.

Phiona Mutesi, nascida em Katwe (região de Uganda), teve o primeiro contato com o xadrez ainda muito pequena, mas por acaso. Depois de abandonar a escola para ajudar a mãe a vender milho, a garota passou a frequentar as aulas de xadrez do missionário Robert Katende com interesse no mingau dado no fim das aulas. Já que estava ali, Phiona teve acesso às regras do jogo e se destacou entre os outros alunos.

Mas isso não foi o suficiente para mudar a vida da garota. Além de aprender a lidar com diversos oponentes, Phiona precisou encontrar equilíbrio entre a vontade de vencer, a modéstia e o egocentrismo.

Desde cedo, percebeu também que o mundo tem o costume de tratar o sexo masculino com superioridade. Prova disso é a comemoração efusiva de todos quando Phiona vence um garoto, como se, aparentemente, ele fosse superior intelectualmente, o que o tornaria um rival mais difícil de ser vencido.

Porém, os problemas da jovem jogadora de xadrez não se limitam às dificuldades do esporte, mas se estendem aos obstáculos da vida real. Sua mãe, Nakku Harriet, é viúva e tem que se virar dia após dia para conseguir criar os filhos sozinha. Em sua cabeça, não existe a opção de mudar de vida, afinal são anos de sofrimento e uma vida de pobreza. Qualquer coisa que não seja a luta diária pela sobrevivência é um capricho.

A partir de Nakku, conhecemos, aos poucos, a dura realidade feminina da região. Há poucas opções de se manter, além das vendas nas ruas. Muitas mulheres acabam se rendendo à prostituição ou ao casamento por conveniência e quem não adere a essas opções acaba sendo julgada e tratada com desdém.

As diversas maneiras como as personagens podem ser compreendidas formam o grande trunfo de Rainha de Katwe. Várias situações são retratada a partir da jovem Phiona, o que deixa em maior evidência que esse é um filme feito para exaltar o poder feminino diante da árdua tarefa de sobreviver dia após dia. O missionário Robert Katende é essencial na história, mas como temos o costume de ver acontecer com personagens femininas de destaque, ele é a escada de Phiona, que é a estrela do filme.

O elenco incrivelmente talentoso é o coração de Rainha de Katwe. A estreante Madina Nalwanga dá vida à protagonista, enquanto David Oyelowo (conhecido por interpretar Martin Luther King em Selma: Uma Luta Pela Igualdade) vive o missionário e professor essencial na vida de Phiona. E, como já virou costume, Lupita Nyong’o (de 12 Anos de Escravidão) brilha e rouba todos os olhares. Ela interpreta a batalhadora Nakkur, mãe de Phiona e de outros filhos, viúva e sobrevivente.

A direção do filme também é feminina. Mira Nair é uma indiana que trabalha com cinema há décadas e responsável por filmes como Feira das Vaidades e Um Casamento à Indiana.

Por fim, é evidente a qualidade de Rainha de Katwe no quesito técnica, mas a história é tão tocante e inspiradora, que transcende as questões visuais. É uma mistura de força, crença e vontade.

Originally published at www.siteladom.com.br on November 29, 2016.

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Graci Paciência
Lado M

Gosto terror e rock. Autora de "Confissões de uma Adolescente Grávida" e host do podcast Soul do Rock. Twitter: @gratona_ https://medium.com/@cronicasdagraci