Raya e o Último Dragão: um respiro durante a pandemia

Carolina Carettin
Lado M

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Que séries, filmes e lives têm preenchido nossas noites de fim de semana durante a quarentena — interminável — por conta da Covid 19 todo mundo sabe. Porém, poucas obras me fizeram sentir aquela pontinha de esperança na humanidade como Raya e o Último Dragão.

Lançado no Disney+ em março deste ano, a animação conta a história de Raya, uma guerreira que busca o último dragão que poderá ajudá-la a restaurar Kumandra, que foi dividida há mais de 500 anos.

Em Kumandra, humanos e dragões viviam em harmonia, venerando as criaturas mágicas. Quando uma força obscura, os Drums tomam conta da terra transformando todos em pedra, os dragões se sacrificam e salvam o pouco que resta. Porém, a terra que antes era Kumandra se divide em cinco: Coração, Garra, Presa, Coluna e Cauda.

Raya segue a tendência da Disney em trazer personagens femininas como protagonistas que fogem do estereótipo da princesa tradicional, como já fez em Frozen (2013) e Moana (2016), por exemplo. O roteiro não tem grandes surpresas, inclusive me lembrou Moana em alguns momentos, e as lições que ficam no final já foram apresentadas em outros filmes do estúdio como confiança, trabalho em equipe, a importância da amizade, entre outras.

Porém, o que mais toca é que Raya começa sua jornada sozinha ao lado do simpático Tuk Tuk, uma espécie de tatu bola que serve de veículo e melhor amigo, e ao longo da história vai se encontrando com outras pessoas solitárias, que perderam suas famílias e esperam reencontrá-los em algum momento.

Sisu, o último dragão que pode ajudar Raya, é uma salvadora, uma deusa improvável. Enquanto todos a veneram como a que se sacrificou para que os humanos vivessem, Sisu se mostra atrapalhada e divertida. Ela insiste que é a partir da confiança que Raya conseguirá atingir seu objetivo: trazer de volta os que viraram pedra e unir Kumandra novamente.

O filme não fala sobre uma nacionalidade específica (até porquê se trata de uma terra fictícia), mas traz muitos elementos da cultura do sudeste asiático e a maioria dos atores que fizeram a dublagem original também são asiáticos. Além disso, em seu estilo há referências claras aos animes e a produções do Studio Ghibli. Tuk Tuk lembra o Catbus de Meu Vizinho Totoro (1988) e algumas cenas remetem à Princesa Mononoke (1997).

Enfim, Raya e o Último Dragão é um lembrete de que é possível, ainda, se unir para um propósito maior. Em meio a discursos que flertam (e muito) com o fascismo, com notícias cada vez mais absurdas, Raya vem como uma pontinha de luz a qual é possível — e recomendável — se apegar se você estiver vivendo no Brasil em 2021.

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Carolina Carettin
Lado M
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Jornalista, caipira de Araras, interior de São Paulo. É bailarina desde criança, ama ler e é fã da Rita Lee.