Resenha: Capitolina — O Poder das Garotas (vol. 1)

Natalie Majolo
Lado M
3 min readDec 21, 2015

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Logo que recebi o livro em minha casa para fazer a resenha, pensei “uau, que livro maneiro”. Todo colorido, cheio de ilustrações e coisas diferentes — tudo o que foge do padrão que estamos acostumados, principalmente depois que a gente “cresce”. Folheei e li a introdução. Veio à mente uma sensação: como eu gostaria de ter lido esse livro há alguns anos atrás.

Capitolina — O Poder das Garotas (vol. 1) é um apanhado de textos que foram publicados na revista online de mesmo nome. De forma colaborativa, meninas enviam seus textos de todo o Brasil para a revista. Os selecionados foram incluídos no impresso, tendo cada texto uma ilustração; também existe conteúdo inédito, feito exclusivamente para o livro. No total, são 31 textos sobre os mais diversos assuntos, escritos por 41 colaboradoras. E bota nessa conta mais 23 artistas! O Lado M também funciona de modo colaborativo. Tem como ser mais amor que isso?

Na verdade… Tem sim! Esses “mais diversos assuntos” citados ali em cima são realmente diversos: feminismo, questões de gênero, empoderamento, preconceitos, sonhos, sexo, identidade, moda, relacionamentos, beleza, medos, poder, família, artes, games, escola, profissão, viagens, e até mesmo magia (senta que lá vem Harry Potter). É muito amor pois tudo isso está numa linguagem simples, voltado para um público que precisa muito de atenção, o público feminino, jovem e adolescente.

Não acredito na falácia que a adolescência é um período de “transição” entre a infância e a vida adulta. Acredito, sim, que é um dos períodos mais importantes da nossa vida, e precisa ser reconhecido como tal. É quando começamos a ter conhecimento sobre como funciona o mundo, e sobre o grande questionamento humano: quem sou eu?. Para mim, foi o período em que eu comecei a ser “eu mesma”, ter meus próprios pensamentos e opiniões. Capitolina ensina que você pode ser quem você quiser, estar com quem quiser, e onde quiser. E se você quiser mudar tudo isso, tudo bem! Afinal, você não está sozinha.

A sensação de proximidade durante a leitura é contínua, flui como se estivéssemos conversando com uma amiga. O livro te aceita como você é. Te aceita tanto, que te possibilita também demonstrar o que você pensa sobre determinado assunto. Existem diversos espaços “faça você mesma” que interagem com o texto que acabou de ser lido. Desenhe, escreva, solte a imaginação! Tem como nos empoderar melhor do que nos permitirmos externalizar aquilo que realmente queremos fazer ou pensamos? E o melhor, sem julgamento de outras pessoas?

Por causa dessa pessoalidade que cada livro toma, creio que se assemelha muito com um diário. Tal como é um ponto positivo, também é um negativo: o livro contém muito do que é seu ali, e emprestar ou dar ele para alguém, depois de você ter externalizado tudo aquilo, pode ser constrangedor. Se não é constrangedor, pode ser dificultador, já que a próxima pessoa a ler talvez já não tenha espaço livre para interagir com totalidade. É um livro pessoal e único para cada uma.

A sensação de desejar ter lido esse livro há alguns anos antes me faz pensar o quanto minha vida poderia ter sido diferente caso eu conhecesse algumas coisas sobre feminismo já na adolescência. E não só nesse estágio da vida; agora, que o livro está terminado, vou emprestá-lo à minha mãe — não, não me sinto constrangida com as minhas pessoalidade ali. Ela tem quase 60 anos, e se interessa pelo tema, apesar de ter um pouco de receio. Teme o feminismo pois enxerga o quanto sofro, o quanto reclamo; admira pois vê que não aceito algo que não quero. Feminismo não tem idade para se conhecer. Nunca é tarde ou cedo demais para se empoderar, e Capitolina é uma ótima introdução nessa nossa luta diária.

Originally published at www.siteladom.com.br on December 21, 2015.

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