Salomé Karwah, um exemplo de resistência feminina na África

Carolina Pulice
Lado M

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Salomé Karwah, 26 anos, nascida na Libéria, na África. Foco do vírus da ebola, os que não foram contagiados eram sobreviventes. E ela, foi uma heroína. Reconhecida por sua luta contra a doença, foi considerada, em 2014, a pessoa do ano pela revista americana Time.

Auxiliar de enfermagem, Salomé Karwah contraiu a doença junto com milhares de africanos, em 2014. Mas ela sobreviveu ao vírus. Após perder seus pais e outros membros de sua família, ela, com 23 anos, decidiu se dedicar aos doentes em seu país.

Na época, a Libéria era o país com maior número de pessoas com a doença, que deixou 4,8 mil mortos.

Contudo, o descaso com a saúde da mulher ainda fala alto: Salomé Karwah faleceu há uma semana, poucos dias após ter seu quarto filho. Com complicações no parto, foi levada para o hospital. Chegando lá, teve uma convulsão, e os médicos, segundo sua prima contou, se recusaram a encostar nela, por seu histórico com o vírus do Ebola.

Ainda não é certo se houve negligência médica, mas o fato é que Salomé não sobreviveu.

Sua história me veio como um lembrete da situação na África, aquele continente tão esquecido. Seu caso me fez lembrar que, devido às condições extremamente precárias na saúde e na educação, milhares de africanos sofrem e morrem todos os dias. São muitas as imagens que me vêm à cabeça quando lembro dessas questões. E aposto que na cabeça de muita gente também aparece a imagem de crianças subnutridas, da violência, do sofrimento. São imagens que tentamos esquecer, porque dói ver a humanidade em seu mais precário estado.

Pensando mais um pouco neste continente, me lembrei da situação das mulheres africanas. Numa breve pesquisa, encontrei situações péssimas das mulheres no continente africano: correlacionados, a situação econômica e social, os conflitos entre tribos, grupos rebeldes e ditaduras e as condições de saúde geram o pior cenário para uma mulher naquela terra.

Em uma nova pesquisa pela internet, achei uma pesquisa realizada pela ONU que apontou aos seguintes fatos:

  • A mulher africana continua sendo vítima de inúmeros abusos, principalmente físicos e sexuais.
  • Em um estudo sobre as mulheres no Egito, 47% das vítimas femininas de violações depois foram assassinadas devido à desonra que se acha que lhe trouxe a sua família.
  • Na Nigéria, um centro médico reportou que 15% das pacientes que precisaram de tratamento contra as infecções de transmissão sexual eram menores de cinco anos.
  • Na África do Sul, um a cada quatro homens reporta ter tido relações sexuais com uma mulher contra sua vontade antes de ela ter cumprido 18 anos de idade.

A imagem é ainda pior quando sabemos, estatisticamente, do quanto uma mulher naquele continente pode sofrer.

E então me lembrei de Salomé Karwah. E me doeu mais uma vez pensar em como ela morreu. Me entristeci em pensar que ela não poderá criar seus filhos, que ela não verá o mais novo crescer. Me doeu pensar que uma peça essencial no combate ao Ebola deixa o continente mais uma vez esquecido.

Mas Salomé me fez criar uma nova imagem em minha mente sobre a África. Ela me fez pensar na resistência, na luta, na dedicação, acima dos problemas. A imagem que tenho agora da África é de todas as mulheres que lá vivem, com suas famílias, e que, mesmo com todos os desafios diários da sobrevivência, são fortes.

Salomé foi a personalidade do ano de 2014, mas não somente daquela data: ela será sempre o exemplo de personalidade feminina a seguir. Uma figura excepcional, assim como muitas mulheres africanas no continente deixado de lado por todos nós.

Fonte: Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD), 2015.

Originally published at www.siteladom.com.br on March 3, 2017.

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Carolina Pulice
Lado M
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Jornalista que adora discutir sobre tudo com todo mundo, e de escrever sobre todas essas coisas que se tem pra se discutir