Sheila Abdus-Salaam, 1ª juíza negra e muçulmana dos EUA, é encontrada morta

Helena Vitorino
Lado M
Published in
3 min readApr 13, 2017

Sheila Abdus-Salaam, uma juíza de 65 anos que servia à Suprema Corte de Nova York, foi encontrada morta boiando sobre o Hudson River, no Harlem, horas depois de seu desaparecimento ter sido relatado à polícia por seu esposo. Sheila foi a primeira juíza negra e muçulmana nomeada nos Estados Unidos, onde trabalhou arduamente pela causa dos direitos civis durante toda sua carreira. O corpo foi encontrado sem sinal de trauma ou lesões, e a polícia segue investigando as causas da morte.

O legado de toda a vida da jurista Sheila Abdus-Salaam foi dedicado a luta por direitos civis no serviço público. Cidadã da cidade de Washington, uma das sete filhas de um casal negro de classe média, Sheila se interessou pela luta por direitos civis após uma visita de Frankie Muse Freeman à sua escola. Frankie, que hoje tem 100 anos, foi a primeira mulher indicada à Comissão de Direitos Civis dos Estados Unidos, em 1964, por seu ativismo intenso e inspirador. A Comissão é responsável por investigar casos de discriminação e crimes raciais, e foi uma grande conquista da população negra dos Estados Unidos. Sobre o encontro com Frankie, Sheila descreveu: “Ela me fascinava… ela estava fazendo exatamente o que eu queria fazer: usando a lei para ajudar pessoas”.

Sheila formou-se em direito para Universidade de Columbia em 1977, e trabalhou como advogada antes de iniciar sua carreira na Corte Civil da cidade de Nova York, em 1992. No ano seguinte, juntou-se à Suprema Corte, e vinte anos depois foi indicada pelo então governador de Nova York para a Corte de Justiça de Nova York, tornando-se a primeira mulher afro-americana e muçulmana a ocupar um cargo nesta corte. Sua indicação foi aprovada sem nenhuma oposição em 6 de maio de 2013, onde fez história em termos de representatividade a tantas outras mulheres no campo da justiça e do direito.

A morte da juíza Sheila é um evento que abala imensuravelmente não só as comunidades negra e muçulmana, mas afeta diretamente as mulheres de todo o país e do mundo. Uma fonte de inspiração para milhares de mulheres que sonhavam seguir carreira pública, Sheila era ainda uma peça fundamental para que crimes de ódio, crimes de racismo, violência doméstica e crimes contra minorias fossem vistos com maior precisão. Sem a presença jurídica de peso de Sheila, movimentos como o Black Lives Matter ficam relegados a jugos cada vez mais distantes de seus pertencentes, considerando ainda que o atual governo federal dos Estados Unidos é majoritariamente branco, masculino e conservador.

A cidade de Nova York é conhecida como a mais pluricultural do mundo. Lá habitam cidadãos de todos os tipos, americanos ou não, e é palco de diversas ações para que a coexistência cultural entre raças e gêneros seja cada vez mais igual. Personalidades como a juíza Sheila garantiam às comunidades que suas reivindicações e que suas existências não seriam abandonadas em prol das ditas prioridades nacionais. Para a juíza Sheila, o povo era a prioridade. Os mais carentes eram a prioridade. Bisneta de escravos na Virgínia, costumava dizer “[Para mim] Vinda de Arrington, na Virginia, onde minha família era propriedade de outra pessoa, ocupar um assento no mais alto tribunal do estado de Nova York é surpreendentemente gigantesco”. E para nós, ter uma mulher negra e muçulmana desbravando com inteligência e potencial os mais conservadores assentos nos Estados Unidos, abrindo caminho para as novas gerações, também foi grandioso e belo.

Originally published at www.siteladom.com.br on April 13, 2017.

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