Sobre Lemonade, Beyoncé e a luta da mulher negra

Catarina Ferreira
Lado M
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3 min readMay 2, 2016

Quando a música Formation foi lançada, ela preparou o terreno e atiçou a curiosidade dos fãs que ficaram cada vez mais ansiosos pelo lançamento de Lemonade. A cação evoca questões raciais, e fala sobre empoderamento negro e feminino, mas isso foi apenas o começo do que estava por vir. O álbum Lemonade foi lançado no dia 23 de abril, um sábado, e além das doze faixas musicais, vem em forma de álbum visual também. O filme foi exibido na HBO americana e está disponível na plataforma Tidal, da qual Jay-Z é sócio.

O álbum se tornou trend no twitter muito rapidamente. Os índices de downloads foram absurdos, todos queriam ver como a diva exploraria suas músicas nessa produção visual, na qual cada uma das canções aparece associada a um sentimento específico. Mas sua construção não é apenas estética, Lemonade vai além disso.

Durante uma hora, Beyoncé nos faz mergulhar em mundo que é conhecido por muitas: a solidão e a luta da mulher negra. Ela mescla questões de sua trajetória pessoal a temas como relacionamentos, o peso de uma traição, padrão estético, luta de gêneros e luta racial.

O filme Lemonade começa com a introspecção de uma mulher numa jornada de autoconhecimento. Ela passa pela desconfiança, negação, raiva. Até reconstruir-se. Em uma das cenas, ela literalmente mergulha, no que parece ser seu interior, buscando por respostas. A principal questão nesse ponto do álbum é a traição.

Na letra da música Sorry, Bey trata tanto de traição como de padrão de beleza quando termina a canção com a frase “He better call Becky with the good hair” (“É melhor ele ligar pra Becky do cabelo bom”). A música fala sobre uma mulher que foi traída pelo marido, mas superou a situação e agora não se sente mal com isso. “Becky” é uma gíria comum nos Estados Unidos para designar o estereótipo de uma mulher branca, de aparência padrão e com cabelo liso, ou seja, “bom”.

Em 2014, Jay-z e a irmã de Beyoncé, Solange Knowles, discutiram em um elevador acerca de um suposto caso do rapper. A moça acusada de ser amante de Jay-z foi a designer Rachel Roy, que após o lançamento da música postou a seguinte frase “Cabelo bom pouco importa, mas nós aceitaremos boa luz para selfies, ou para verdades internas, sempre. Viva na luz #semdramaqueens” em uma foto no instagram. Instantaneamente os fãs da cantora a acharam e começaram uma caçada online à moça. Rachel Roy se pronunciou novamente no twitter a respeito do ocorrido, mas reações dos fãs continuaram.

Nas músicas Don’t Hurt Yourself e Freedom há a presença de menções a Malcom X e ao movimento “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam). Além de citar conquistas civis dos negros e das mulheres, a estética afro-americana é muito presente a todo momento nas roupas, na maquiagem, no cabelo da própria Beyoncé e nas bailarinas e modelos que compõem a cena remetem às raízes africanas.

Lemonade termina com um tom reconciliatório: a música Sand Castles confirma isso ao mostrar cenas de Beyoncé e Jay-Z, junto à filha. Além de reconciliatório, o álbum termina com uma mensagem de empoderamento negro e é uma reafirmação da estética africana em meio à cultura pop.

A cantora afirmou em entrevista que Lemonade é um “projeto conceitual baseado na jornada de toda mulher por autoconhecimento e cura”. A própria disposição das músicas pode confirmar isso, pois a faixa inicial Pray You Catch Me se aproxima de um sussurro. Ela é o início da introspecção e das dúvidas postas em cheque no filme. Já a faixa final Formation tem um tom muito mais forte, uma letra que fala de ancestralidade, representatividade e negritude.

Assista ao trailer

Originally published at www.siteladom.com.br on May 2, 2016.

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Catarina Ferreira
Lado M
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Preta, estudante de jornalismo, apaixonada pelo poder das palavras e das imagens. instagram.com/catarina_sferreira