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Sobre perdoar e esquecer

Odhara Caroline
Published in
3 min readNov 22, 2018

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Isto já deve ter acontecido com você também. Quando alguém magoa a gente, os conselhos que ouvimos sempre giram em torno do “deixa isso pra lá… esquece essa história… perdoa fulano… vida que segue”.

Bom, eu trago notícias: “perdoar e esquecer” é um dos conselhos mais bestas que eu já ouvi. Porque “perdoar e esquecer” é um conselho burro.

Primeiro de tudo: se existe uma receita pra seguir em frente, perdoar e esquecer não são passos consecutivos. Na verdade, esquecer não deve nem ser um passo nessa receita.

Perdoar é a melhor coisa a se fazer, sempre.

Cada vez que a gente se machuca de alguma forma, acontece uma espécie de luto. Geralmente, as quatro primeiras etapas vem todas misturadas, numa torrente só. A gente fica com raiva, a gente nega, a gente tenta negociar e fica com raiva de novo quando a negociação não dá certo, a gente fica deprimido quando a raiva não leva a lugar nenhum, a gente nega a dor, a gente nega a raiva. É uma bagunça sem fim, até que no fim a gente aceita o que aconteceu. E aceitar é perdoar.

Mas uma coisa muito importante nessa história que sempre esquecem de contar: perdoar não é pros outros. Perdoar é pra gente.

Você não precisa conversar com ninguém, você não precisa aceitar as desculpas de ninguém. Perdoar é aceitar e não carregar mais a bagagem perdoada. Por esse mesmo motivo, ninguém pode te perdoar. A única pessoa que pode lidar com a tarefa espinhosa de perdoar os próprios erros é quem os cometeu.

E sabe o que tudo isso tem a ver com esquecimento?

Nada.

Quando a gente esquece a lição que aprendeu, nós estamos fadados a repeti-la. É assim com a história, é assim com as coisas que acontecem na nossa vida. Se a gente deixa pra lá tudo o que nos magoa, não presta atenção nos nossos próprios sentimentos, a gente nunca vai conseguir estabelecer os nossos próprios limites.

Tem uma coisa que eu li há um tempo e cada dia que passa fica um pouco mais verdadeira pra mim: a gente ensina pras pessoas como elas podem nos tratar. Tudo depende do que a gente aceita que façam com a gente. E quando pisam na bola com a gente uma, duas vezes… A terceira vai ser automática. Tanto pra quem pisar quanto pra você. E se tem uma coisa escrita na Bíblia que eu afirmo com toda a certeza que é balela (tem um milhão de coisas, né, mas isso aqui não é uma tese) é a história de dar a outra face.

Não dê a outra face porra nenhuma.

Junta as suas trouxas e vai embora.

Não aceite que te tratem como menos do que você é.

E perdoa, sim. Mas jamais esqueça.

Não vale a pena ficar se machucando de novo, de novo e de novo pelo mesmo motivo.

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Odhara Caroline
Lado M
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