Foto: Globo/ Divulgação

‘Todas as Mulheres do Mundo’ é um lembrete de amor em tempos de cólera

Julia Biagini
Lado M
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4 min readApr 26, 2020

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Domingos dizia que “só um idiota não sabe que o fim da festa é a festa”. Felizmente Todas as Mulheres do Mundo nos deixa com um gostinho de quero mais.

A série de comédia romântica que estreou nesta quinta-feira (23/04) no Globoplay, escrito por Jorge Furtado com Janaína Fischer e direção artística de Patricia Pedrosa, é um compilado de filmes, poemas e roteiros de Domingos Oliveira. O amor é o tema que conduz a trama, transformando os diálogos em explanações filosóficas - frases lindas e emolduráveis.

O escritor, ator e diretor que morreu aos 82 anos, em março de 2019, passou por nossas vidas sem que talvez percebamos. Se você não recorda deste nome, Domingos foi o roteirista de Confissões de Adolescente (1994), baseado nos diários de sua filha Maria Mariana, que inclusive aparece na série atual. Todas as Mulheres do Mundo tem como inspiração principal o filme do diretor, de 1967, que leva o mesmo nome e carrega a história dos amores de Paulo (Emilio Dantas), um arquiteto carioca, apaixonado pelas mulheres.

Ao longo de 12 episódios conhecemos Maria Alice (Sophie Charlotte), Adriana (Samya Pascotto), Elisa (Marina Provenzzano), Laura (Martha Nowill), Martinha (Verônica Debom), Dionara (Lília Cabral), Renata (Maria Ribeiro), Pâmela (Sara Antunes), Gilda (Mariana Sena), Sara (Maeve Jinkings), Natália (Natasha Jascalevich) e Pink (Naruna Costa). Mulheres poderosas, delicadas, casadas ou solteiras, mais novas ou maduras, assexuadas ou até mesmo loucas por sexo. Cada uma delas têm uma personalidade, história de vida, desejos e ideais que as distinguem. A única coisa que têm em comum é se envolver com Paulo e, por fim, deixá-lo. As formas como esses finais se dão, são resultados da dinâmica de cada episódio e do que cada relação representou.

“A vida é uma aventura maravilhosa. Mas a fatalidade é soberana” diz Estela, interpretada por Fernanda Torres.

Dentre todas, a que permanece do começo ao fim é a bailarina Maria Alice, dona de dois episódios. Especialmente nesta relação mais duradoura, é possível observa um Paulo ciumento, controlador e incoerente por pregar a liberdade de relacionamentos, já que quando vê a possibilidade de perder o que ama, retrocede todo seu discurso.

Se você assiste apenas ao primeiro episódio pode ter a sensação de que ele é o típico esquerdo-macho que tentamos evitar em nossas vidas. Na realidade, ele é! Porém, ao longo da série esses pontos negativos são evidenciados pelas pessoas que o rodeiam, fazendo-o reconhecer suas reações frente às emoções exclusivamente humanas como as dores de amor.

Em coletiva de imprensa (online, claro), Emilio Dantas destacou que seu personagem é um apaixonado. “É um personagem muito honesto. Um ser masculino honesto dentro daquele lugar. Vão ter erros, acertos, hábitos antigos, hábitos descontrolados, mas eu tentei ser o mais verdadeiro possível, ainda mais [eu] sendo um cara que não teve esse contato com o Domingos. O Paulo é essa confusão masculina que a gente enxerga hoje no mundo”.

Foto: Victor Pollak

Além de Paulo, outros dois papéis importantes são Laura e Cabral (Matheus Nachtergaele). Os três amigos, apesar de muito diferentes, se sustentam ao longo dos altos e baixos da vida. Eles também são uma homenagem a Domingos: suas características são alter egos do artista. Paulo representa o lado intenso e apaixonado do autor, Laura é sua faceta feminina e Cabral mostra sua singularidade sábia. Martha Nowill diz que Laura é a junção de todas as onze mulheres, o que a ajudou durante a construção da personagem.

“Um brinde à amizade. O amor que nunca morre”.

A trilha sonora é um show a parte. Cada episódio é inteiro cantado por uma artista mulher que combina com a individualidade da personagem que o nomeia: no quinto, Rita Lee canta para Martinha, uma mulher agitada, dependente de remédios. Já no oitavo, Gilda, uma aspirante a cantora, é forte, dona de si e tem sua melodia interpretada por Elza Soares. O resultado é perfeito! Para abertura, todas cantoras gravaram Carinhoso, original de Pixinguinha. “Foi uma sugestão da Marisa Monte”, revela a diretora. Ouça todas as músicas aqui!

O objetivo da série não é te prender por muitas temporadas. Assim como todo amor, ela tem um final. Na verdade, você vai querer que os episódios não acabem. Vai querer saber um pouco mais sobre quem são aquelas mulheres e quais são suas motivações. Com um enredo redondo, Todas as Mulheres do Mundo vai te deixar com fome, água na boca, mas acima de tudo, satisfeita. Este é um verdadeiro tributo à obra de Domingos. “A gente conseguiu manter o espírito, a essência do Domingos ali e o seu amor pelo ser humano. Nesse momento que o Brasil e o mundo estão enclausurados, e as pessoas não podem se beijar, se abraçar, se lamber, a série é um respiro de felicidade e traz um pouco de beleza, de esperança e de amor nesse período tão difícil”, pontua Jorge Furtado.

Quem nos dera viver nesta realidade de Domingos em que as mulheres são o que elas querem ser: livres de amarras, rótulos, regras. Esta série é feminina porque, no final das contas, Paulo é só o coadjuvante da história dessas doze personagens que amam como querem, quem querem e onde querem. Com certeza você vai se identificar com alguma narrativa dessas paixões múltiplas.

pa: vai bater uma saudade de dar uns beijos, viu minha filha…

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Julia Biagini
Lado M
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a relações públicas que só consegue acalmar a mente quando escreve