Um Limite Entre Nós: o filme do aguardado Oscar de Viola Davis

Lado M
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3 min readMar 2, 2017

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Viola Davis foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante de 2017 pelo papel de Rose Lee em Um limite entre nós (Fences, 2016). Nele, ela interpreta uma mulher negra e periférica, casada há 18 anos com Troy Maxson (Denzel Washington), mãe de um filho adolescente e madrasta de um homem de mais de 30 anos.

Rose, como a personagem mesmo se define, para manter o casamento e ajudar o marido (com os serviços de casa), largou muitos de seus próprios sonhos, até aqueles que ela mesma nem teve tempo de sonhar, para ser “uma boa esposa”. Cuidou da casa, do filho e do marido e nunca se queixou disso, guardou todas as mágoas que essa vida lhe trouxe para si.

Apesar de não ser a protagonista do filme, Rose é o eixo de sustentação de uma família estadunidense negra e pobre dos anos 50 que convive diretamente com o racismo. Seu marido, Troy, por exemplo, é lixeiro, e, nesta função, questiona o fato de que só brancos são motoristas dos caminhões enquanto os negros são responsáveis por esvaziar as latas de lixo.

A partir daí conhecemos as personagens e suas vidas. Bono (interpretado por Stephen McKinley Henderson), amigo de Troy, desde o início do filme o questiona sobre seu interesse em uma mulher, Alberta. Ele, contudo, usa de toda sua simpatia, que é sua marca até meados do longa, para desmentir o amigo. Com uma personalidade ora amigável ora rude, Troy, além disso, se envolve com a história do filho mais novo e se impõe como um pai severo ao impedir que ele realize seu sonho de jogar beisebol, já que acredita que o garoto, por ser negro, não teria chances de se tornar profissional.

Baseado na premiada peça homônima de August Wilson, Um limite entre nós faz jus às suas quatro indicações ao Oscar (Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Roteiro Adaptado e, como já foi dito, Melhor Atriz Coadjuvante). O drama é intenso e envolvente do início ao fim, tudo apoiado em um roteiro muito bem escrito (adaptado pelo próprio August Wilson), com excelentes diálogos, e em atuações magníficas de Denzel Washington e Viola Davis.

O casal

Como quase todo negro de meia idade dos anos 50, tanto Rose quanto Troy tiveram uma vida difícil na infância. Quando, em algumas cenas de Um limite entre nós, contam sobre seu passado, podemos notar a presença de características racistas e machistas típicas da sociedade estadunidense daquela época. É em meio a esses relatos que Troy conta a história de como seu pai quis estuprar uma garota de 13 anos, e como isso o motivou a sair de casa (talvez não pela garota, mas pelo fato da garota ser “dele”).

Rose, por sua vez, fala do trauma que foi ter sido criada em meio a meio-irmãos, pois, em sua casa, nem todos tinham o mesmo pai e ou a mesma mãe. O passado dos dois, a forma como se conheceram e os motivos pelos quais permaneceram juntos mostra o quanto os laços do casamento eram importantes, não como meios e fins sentimentais, mas como meios e fins para se manterem vivos, “na linha”.

Mas não é por conta disso que Rose, dentro do casamento, deixa de se impor em algumas questões. Por mais que tenha abandonado sua vida pessoal e seus próprios sentimentos para se dedicar ao marido, com relação às questões da família, ela não abaixa a cabeça, questionando as decisões de Troy quando não concorda com elas, cuidando das finanças da casa e não se submetendo a responder questões como “Onde você vai e a que horas você volta?”.

Dirigido pelo próprio Denzel Washington, o longa traz a fundo questões familiares e, paralelamente, discute questões de gênero e raça, esta última de forma explícita, fazendo com que o filme seja completo: tecnicamente muito bom e com discussões bastante relevantes.

Originally published at www.siteladom.com.br on March 2, 2017.

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