Uma viagem feminista no tempo: grandes personalidades ao redor do mundo

Maria Alice Gregory
Lado M
Published in
7 min readJan 22, 2015

Muito se fala em feminismo hoje em dia: quem é feminista de verdade, quem não é, o que querem, onde vivem, o que comem. Há quem diga que o feminismo hoje em dia nada mais é que pura histeria de mulheres que querem mais privilégios e não direitos — e que o feminismo “de verdade” só teria acontecido no século passado, quando mulheres de diversos cantos do mundo resolveram se levantar para garantir seu lugar de direito na política e na sociedade.

Pessoalmente, eu não poderia discordar mais: a gente ainda tem uma longa estrada a percorrer para chegar na igualdade de gênero. Ainda assim, é inegável a influência e a relevância do que as feministas do passado fizeram pela sociedade, lutando contra um patriarcado que desde sempre vinha pregando o mantra de que cada gênero tinha o seu lugar e que o da mulher era sempre ou na cozinha, ou nos braços de um homem que a bancasse, ou em qualquer outro lugar que nem sempre ela queria estar. Com tanta polêmica e novas frentes de militância nos dias de hoje, contudo, algumas das principais expoentes dessa luta e histórias de grandes acontecimentos dentro desse campo acabam se apagando e se perdendo entre tantas outras no mar de chorume da internet e da convivência social.

Fica, então, uma proposta: relembrar alguns nomes de grandes mulheres que, à sua maneira, lutaram para que as suas realidades e as de tantas outras mulheres se aproximassem um pouco mais do nosso ideal de equidade de gênero e fim do patriarcado moderno. O critério para cada grupo de grandes mulheres foi inteiramente baseado em seus aniversários ou datas de falecimento, mas sempre vale a sugestão: se você conhece alguma grande feminista que tenha nascido ou realizado algo de relevância na militância nos próximos meses, manda pra gente!

Vale lembrar, ainda, que as feministas apresentadas abaixo são apenas algumas das milhares que possuem dentro de si histórias únicas e vivências bastante diferenciadas. Toda mulher que luta por seus direitos é digna de orgulho e exaltação por parte da sociedade, mas infelizmente só uma parcela bastante reduzida acaba recebendo esse reconhecimento, e muitas vezes mascarado de críticas machistas e opressões de diversos tipos.

Anália Franco (Brasil)

Começando nossa introdução às grandes feministas da história, nada melhor que uma bela representante tupiniquim da nossa história de inclusão social da mulher na sociedade! Anália Franco Bastos foi professora, jornalista, poetisa e filantropa brasileira que fundou mais de setenta escolas e asilos para crianças órfãs. Seu papel enquanto feminista se destaca com a criação, em São Paulo, de uma importante instituição de auxílio a mulheres e instituto educacional que se denominou “Associação Feminina Beneficente e Instrutiva”. A Associação Feminina mantinha ainda um bazar na rua do Rosário nº 18, para a venda dos artefatos produzidos nas suas oficinas, e uma sucursal desse estabelecimento na Ladeira do Piques nº 23. Em seguida, inaugurou o chamado “Liceu Feminino”, destinado a instruir e preparar professoras para a direção de escolas também fundadas por Anália, com o curso de dois anos para as professoras de “Escolas Maternais” e de três anos para as de “Escolas Elementares”. Além de seu papel de apoio à educação e capacitação de mulheres para exercer cargos na área da educação, a moça chegou ao fim de seus dias com um total de 71 Escolas, dois albergues, uma colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças órfãs, uma Banda Musical Feminina, uma orquestra e um Grupo Dramático criados por conta própria. Haja fôlego!

Adelaide Cabete (Portugal)

Adelaide de Jesus Damas Brazão Cabete foi uma das principais feministas portuguesas do século 20, sob as facetas de médica obstetra, ginecologista, professora, pacifista, abolicionista, defensora dos animais e humanista.Vale lembrar aqui que o “humanismo” ao qual Adelaide se filiava envolvia os conceitos da valorização humana sobre os aspectos sobrenaturais. Sobre a luta de gênero, a Adelaide era feminista sim e direcionou toda a sua luta aos direitos das mulheres, sendo uma pioneira em seu país. Durante mais de vinte anos, presidiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas — organização de mulheres dedicada à defesa dos direitos sociais e políticos das mulheres, sendo a mais importante e duradoura organização feminista da primeira metade do século 20 em Portugal -, onde reivindicou para as mulheres os direitos ao descanso pré-parto e ao voto feminino, sendo em 1933 a primeira e única mulher a votar a Constituição Portuguesa.

Kanno Suga (Japão)

Kanno Sugako foi uma jornalista e autora japonesa que publicou uma série de escritos em torno da opressão de gênero e da defesa da igualdade de direitos e liberdades entre homens e mulheres. Nascida em Osaka, perdeu a mãe aos dez anos de idade e seu pai casou-se novamente. Além dos maus-tratos de sua madrasta, Kanno foi estuprada aos quinze anos e teve seu primeiro contato com o socialismo ao ler um ensaio sobre vítimas de abusos sexuais. Mais tarde, Kanno começou trabalhar como jornalista e logo começou a se envolver em movimentos feminino contra o sistema abusivo de bordéis que oprimiam suas profissionais física e psicologicamente. Em 1910 foi acusada de traição pelo governo japonês por seu suposto envolvimento na tramitação do assassinato do imperador Meiji, sendo a primeira mulher com o status de prisioneira política a ser executada na História do Japão moderno.

Lucretia Mott (Estados Unidos)

Lucretia Mott foi uma quaker americana à qual é atribuído o crédito de primeira feminista americana. Em 1821, Lucretia se tornou ministra Quaker, sendo reconhecida por suas habilidades em oratória. Bastante politizada e envolvida nos debates sociais de sua época, mostrou-se totalmente avessa à escravidão e recusava-se a consumir qualquer tipo de produto que tivesse passagem em estabelecimentos com mão de obra escrava. Suas crenças levaram ao interesse em comparecer à Convenção Mundial Anti-Escravocrata de Londres em 1840, tradicionalmente frequentada apenas por homens da elite e que não permitia a participação plena de mulheres em suas bancas de discussão. Indignada, Lucretia teria então criado, ao lado de sua colega Elizabeth Cady, a famosa Convenção de Seneca Falls em Nova York, divisor de águas para começar sua luta pelos direitos das mulheres. Mais tarde, em 1850, Lucretia publicou seu primeiro manifesto feminista, intitulado Discourse on Woman.

Sarojini Sahoo (Índia)

Sarojini Sahoo é uma escritora feminista indiana, expoente e formadora de opinião em feminismo na literatura indiana contemporânea. Serojini acredita que o feminismo seria uma condição total de feminilidade, o que é completamente desvinculado do mundo masculino. Suas ficções sempre projetam a sensibilidade feminina desde a puberdade até a menopausa, levando em conta os principais sentimentos e vivências femininos, como restrições morais na adolescência, gravidez, o medo de ser estuprada ou ser condenada pela sociedade e o conceito de menina má. Seu feminismo é sempre conectado com as políticas sexuais de uma mulher: ela nega os limites patriarcais de expressão sexual para uma mulher e identifica a liberação sexual feminina como o motivo real por trás do movimento das mulheres.

Simone de Beauvoir (França)

Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, mais conhecida como Simone de Beauvoir, foi uma célebre filósofa feminista francesa que escreveu romances, monografias e ensaios que ofereciam uma visão reveladora não só de sua vida e de seu tempo como também da figura da mulher nesses contextos. As teses existencialistas, segundo as quais cada pessoa é responsável por si própria, introduzem-se também em uma série de quatro obras autobiográficas, além de Memórias de uma moça bem-comportada (1958), destacam-se A força das coisas (1963) e Tudo dito e feito (1972). Sua relevância no repertório feminista contemporâneo encontra seu ápice entre seus ensaios críticos, dentro dos quais vale destaque O segundo sexo (1949), profunda análise sobre o papel das mulheres na sociedade.

Virginia Woolf (Reino Unido)

Virginia Woolf foi uma escritora, ensaísta e editora britânica, conhecida como uma das mais proeminentes figuras do modernismo. Dentre suas obras, valem destaque aquelas que abordavam temas feministas e lésbicos como forma de libertação da opressão patriarcal e homofóbica, como na coleção de ensaios críticos de 1997, Virginia Woolf: Lesbian Readings. Os livros de ensaios mais famosos de Woolf, Um Teto Todo Seu (1929) e Três Guinéus (1938), examinam a dificuldade que escritoras e intelectuais mulheres enfrentam graças ao fato dos homens deterem desproporcionalmente o poder legal e econômico, assim como o futuro das mulheres na educação e sociedade.

Originally published at www.siteladom.com.br on January 22, 2015.

--

--