Vandana Shiva: indiana, filósofa, física feminista e ativista

Vanessa Panerari
Lado M
4 min readMar 13, 2017

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Vandana Shiva nasceu em 5 de novembro de 1952, em Dehradun, na Índia. Feminista, ativista ambiental, PhD em filosofia, além de ser uma das físicas mais importantes da Índia, Vandana Shiva participou, na década de 70, do movimento que ficou conhecido como Movimento das Mulheres de Chipko, um movimento ecológico formado majoritariamente por mulheres que buscavam a proteção das florestas como forma de salvar, de maneira sustentável, seus meios tradicionais de subsistência. Como tática, as mulheres se amarravam as árvores para impedir desmatamentos e despejos de lixo atômico.

Foi por meio do movimento que essas mulheres tomaram mais consciência de seus lugares e passaram a exigir participação nas decisões da comunidade já que, até então, ainda que sendo as maiores responsáveis pela agricultura e pela geração de renda no campo, elas permaneciam, culturalmente, à sombra dos homens.

De acordo com o site Farming First,

“As mulheres são a espinha dorsal da economia rural, especialmente no mundo em desenvolvimento. No entanto, elas recebem apenas uma fração da terra, crédito, insumos (como sementes melhoradas e fertilizantes), formação agrícola e informação em comparação com os homens. Capacitar e investir nas mulheres rurais tem demonstrado aumentar significativamente a produtividade, reduzir a fome e a desnutrição e melhorar os meios de subsistência rurais. E não só para as mulheres, mas para todos”

Segundo os dados levantados por eles, em muitas sociedades, as leis e tradições impedem as mulheres de possuírem ou herdarem terras. Além disso, onde as mulheres possuem terra, suas parcelas são geralmente menores, de qualidade inferior e com direitos menos assegurados do que os detidos pelos homens. A grande maioria dos estudos afirma que as diferenças nos rendimentos entre homens e mulheres não existem porque as mulheres são menos qualificadas, mas porque têm menos acesso às tecnologias.

Em 1987, Shiva fundou o movimento Navdanya, ONG que promove a biodiversidade de sementes, as plantações orgânicas e os direitos de agricultores. Em depoimento ao documentário O tempo e o modo, ela declarou:

“Para mim está errado simplesmente dizer [que] ‘essas plantas são nossas invenções, portanto são nossas propriedades. Vocês devem pagar royalties por elas’. Por isso decidi iniciar um movimento para preservação das sementes. Para defender a nossa soberania sobre as sementes e sobre os alimentos.”

Na época, Shiva foi convidada para uma conferência de biotecnologia sobre as novas tecnologias emergentes que visavam modificar recursos vivos, e toda a indústria química. Assumiu-se que era necessário que haver um novo sistema através da criação de patentes, como detentores da vida. Para isso, teriam de investir em engenharia genética, a fim de que pudessem dizer que eram agora inventores e criadores de vida nova, e além disso, era preciso remover restrições em termos de mercado, investimento e de leis. Ficou definido como problema os agricultores estarem guardando sementes.

Para Shiva, que passou toda a infância em meio à biodiversidade com os pais, e a juventude como uma estudante na Chipko, foi inadmissível ouvir “essa biodiversidade é nossa propriedade”. Ela achou a ideia tão violenta e obscena que decidiu que era isso que iria defender, a vida na sua diversidade. Essa era sua missão.

Durante sua militância e suas falas, a ativista destaca também a importância das mulheres justamente como fatores fundamentais para a economia rural. De acordo com Vandana Shiva, o homem tornou-se a maior força neste planeta, mas neste modo capitalista e patriarcal, transformou-se numa força destrutiva. Ela acredita que as mulheres são uma força criativa, pacífica e não violenta. E o que as mulheres trazem são outras formas de conhecer que foram subjugadas, formas ecológicas, holísticas, relacionais. Um tipo de conhecimento que está agora a ser validado pelo melhor da ciência.

Já nas entrevistas, Vandana Shiva costuma dizer que ou se tem 80% de desemprego sob uma economia centrada na finança e nas corporações, ou se diz: não, isso não é economia. Economia, em sua concepção, seria preservar a vida na Terra e proteger todas as espécies do planeta. Ela acredita que só protegeremos os recursos que a Terra, desde que nos vejamos como parte dela. Acima de tudo, seria necessária uma economia de cooperação entre as pessoas. Ainda afirma que:

“Esta competição está nos matando, e ela provém desta forma militarizada, masculinizada de pensar que tem sido uma distorção de sentido que damos a ser humano. A violência não é um indicador de humanidade, mas de desumanidade. A ganância e a acumulação de bens não são medidas da nossa humanidade, A partilha e o cuidar, são esses são os valores que as mulheres trazem para formar um mundo determinado apenas pela convergência do patriarcalismo com o capitalismo. ”

Dentre muitas honrarias internacionais, a indiana já recebeu por seu ativismo o Right Livelihood Award, considerado um Prêmio Nobel Alternativo e já esteve presente no Top 100 mulheres ativistas, do jornal britânico The Guardian. Hoje, Vandana Shiva é reconhecida internacionalmente como destaque no movimento antiglobalização, além de estar envolvida com atividades pela preservação das florestas da Índia e programas sobre biodiversidade.

Originally published at www.siteladom.com.br on March 13, 2017.

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