Virginie Nguyen: uma fotojornalista na Faixa de Gaza

Carolina Carettin
Lado M
3 min readJan 31, 2017

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Nessa segunda reportagem da série Linha de Frente, apresentamos o trabalho da belga Virginie Nguyen que tem um extenso trabalho cobrindo a região de Gaza e trabalha para veículos de todo o mundo, como o Le Monde e o The Washington Post.

Virginie terminou seus estudos em jornalismo na IHECS, em Bruxelas, e sua formação em fotojornalismo na Escola Dinamarquesa de Mídia e Jornalismo.

“Considero meu trabalho sobre Gaza o mais importante, já que foi a primeira vez que realizei uma história longa em um lugar que não moro e esse é um assunto do qual devemos tratar”, afirma.

Por meio de suas fotografias, Virginie espera fazer o local ser lembrado. “Mesmo que não haja uma guerra lá no momento, é realmente impossível ter uma vida ‘normal’ em Gaza por conta dos danos causados pela guerra”, diz. “Com meu trabalho, eu espero que as pessoas na França, Bélgica, em qualquer lugar possam, ao menos, pensar sobre isso e estarem alertas sobre como é a vida fora de suas casas”. Virginie afirma que quer contar histórias, especialmente aquelas sobre exclusão social e as consequências de um conflito na população local.

Apesar dos momentos tensos passados em Gaza, Virginie diz que nunca teve problemas no local. “Em 2014, por conta dos ataques aéreos israelenses, foi muito difícil ver todas aquelas vítimas”, diz. “Quando voltei depois da guerra, a atmosfera já era diferente. Pessoas estavam pensando em reconstruir Gaza, eles me receberam de forma tão acolhedora e calorosa. As pessoas de Gaza são muito resilientes, eu sempre admirei isso”.

Além de Gaza, Virginie também realizou reportagens na Bélgica, Síria, Egito, Turquia, Líbia, Ucrânia, Vietnã, nas Filipinas e na República Centro-Africana. Foi na Síria, sob ataque aéreo do regime Bahar Al Assad, e no Egito, quando as autoridades egípcias disparavam balas reais nos manifestantes, que a fotógrafa acredita ter passado pelas situações mais perigosas. “No Egito, eles atiravam independente de ser jornalista ou não. Nesses momentos, foi realmente por pouco”.

Ser jornalista de guerra não é um trabalho fácil, seja para homens ou para mulheres. Porém, em várias situações, as fotógrafas são impedidas de realizar seu trabalho. Virginie conta da vez em que um soldado de uma milícia da Líbia recusou que ela e uma amiga fotojornalista estivessem em campo.

“Ele não queria nenhuma mulher na linha de frente, eu não tive nem tempo de entender o porquê, mas ele parecia ser um pouco conservador. Eu acho que nós não tivemos sorte em conhecê-lo, já que outra fotojornalista cobriu o confronto algumas semanas depois e ela não teve nenhum problema”, diz.

Por outro lado, quando as reportagens são mais familiares e o fotojornalista precisa conhecer mais a fundo a história das pessoas, as fotógrafas são bem-vindas e têm mais facilidade.

“É mais fácil para a mulher se nós quisermos contar uma história sobre uma família na sociedade muçulmana, por exemplo. Eu teria acesso mais fácil a mulheres e crianças do que os homens”, afirma.

A zona de guerra é outro lugar que vem sendo cada vez mais ocupado por mulheres. Por isso, Virginie acredita que as pessoas estão deixando de acreditar que esse é um “trabalho para homens”. “Tem sempre pessoas me perguntando se ‘Não é muito difícil para uma mulher estar lá?’, talvez seja curiosidade, mas eu não acho que hoje as pessoas se surpreendem tanto em ver mulheres em zonas de guerra”.

Você pode conferir mais sobre o trabalho de Virginie no site dela.

Originally published at www.siteladom.com.br on January 31, 2017.

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Carolina Carettin
Lado M
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Jornalista, caipira de Araras, interior de São Paulo. É bailarina desde criança, ama ler e é fã da Rita Lee.