Você precisa assistir Enola Holmes, da Netflix

Cris Chaim
Lado M

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Detetive, na minha cabeça, é uma daquelas profissões que me remetem a uma personagem masculina, apesar de séries de televisão terem exemplos maravilhosos com Olivia Benson de Law and Order. Boa parte dessa percepção é culpa de Sherlock Holmes, protagonista de uma dezena de livros e contos do escritor Arthur Conan Doyle e diversas adaptações para TV, cinema, e por aí vai. Porém, com Enola Holmes, novo filme da Netflix, a coisa é diferente.

Enola Holmes é a irmã mais nova de Sherlock e traz uma nova visão para a palavra “detetive”, além de ser inspiração para o público infanto-juvenil feminino. Enola é uma menina de 16 anos que é inteligente, perspicaz, não leva desaforo para casa e desafia o famoso irmão, ao mesmo tempo que é atenciosa e solidária.

A Tradicional Família Britânica

O novo longa da Netflix conta a história da família Holmes em 1884, na Inglaterra. Uma época tomada por mudanças políticas e sociais, que provocavam discussões em todos os lugares, as quais a família também vive — sempre rola uma tretas na família, né?! De um lado a sociedade tradicional com suas regras e etiquetas, do outro os primeiros respiros feministas e a luta por reformas na legislação.

Enola é criada pela mãe, Eudoria, no interior do país após a morte do pai e da ida dos dois irmãos mais velhos para Londres. Sua educação é bem peculiar: ao invés de bordado e culinária, a garota aprende a lutar, lê escritoras contemporâneas e faz experimentos químicos. Tudo está ótimo até que a mãe some em seu aniversário de 16 anos. É aí que começa o mistério.

O irmão mais velho, Mycroft, é seu tutor legal e quer enviá-la para um colégio interno super rígido e tradicional. Já Sherlock parece um tanto aéreo, sem se importar muito com a irmã.

O outro núcleo do filme é composto pelos Tewkesburry, em que Viscount, herdeiro também jovem e sonhador, foge de casa para não servir o exército, uma tradição familiar. Enola e Tewkesburry se encontram e acabam formando uma dupla.

E o romance?

Nos anos 90, eu assisti muita Sessão da Tarde e filmes da Disney. Resultado: em qualquer cena da Enola com Viscount, já achava que ia rolar um beijinho e um “felizes para sempre”.

Porém não há romance. Não há nenhum momento em que a protagonista dependa de um homem. Além disso, não percebi esse comportamento por parte de nenhuma personagem feminina. Há sim homens tentando impor suas vontades, mas Enola aparece como uma salvadora ao mesmo tempo que ajuda Tewkesburry em diversas situações.

E, principalmente, há o crescimento e amadurecimento de uma menina em mulher de forma leve e que nos faz apaixonar por ela.

As mulheres de Enola Holmes

Millie Bobby Brown, 16 anos é famosa pela série Stranger Things. Ela interpreta Enola e é símbolo de sua geração: foi a pessoa mais jovem até hoje a ser eleita como uma das cem pessoas mais influentes do mundo pela Revista e também a ser escolhida como Embaixadora da Boa Vontade na UNICEF.

Já Eudoria, a mãe, é Helena Bonham Carter, uma super hiper atriz que está incrível na produção. Percebi que ela está presente em praticamente todos os filmes ingleses ou que se passam na Inglaterra que assisti: As Sufragistas, série Harry Potter, A Coroa, Sweeney Todd… Recentemente li uma crítica sobre como a cinematografia inglesa se prende a uma pequena bolha de atores e não dá muito espaço para os novos.

Apesar de ter lido algumas críticas um tanto severas sobre o filme, eu acredito que Enola Holmes é um bom exemplo de como a mentalidade das grandes produtoras absorveu a pauta feminista e começou a trazer protagonistas empoderadas. Além disso, é um filme protagonizado por uma menina que não busca por uma história de amor adolescente, trazendo um fim para o “felizes para sempre”.

Ao meu ver, esse filme vale ser assistido e até criar esperanças para uma continuação. Já pensou se daqui 100 anos estaremos discutindo uma dezena de livros e contos um milhar de adaptações para TV, cinema, e o que mais puderem inventar sobre Enola?

Trailer

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Cris Chaim
Lado M
Writer for

Empoderamento feminino, aceitação corporal, drinks e livros