A Starkbierfest e as origens da Doppelbock

Victor Kling
Ladobier
Published in
4 min readMar 22, 2019
Biergarten da Starkbierfest 2019

A Starkbierfest, o festival da cerveja forte, já começou em Munique e dura até abril. É tida pelos locais como a melhor celebração boêmia da região, sendo na opinião deles melhor que a Oktoberfest. O evento é descentralizado e ocorre nos bares de algumas das mais clássicas cervejarias da cidade, tendo como o ponto mais visitado a Paulaner Nockherberg. A “peregrinação anual para a Salvator”, como a Paulaner amigavelmente descreve o evento, foi inventada e sediada pela primeira vez por eles, para celebrar o que chamam de “cerveja forte”. Além de poder provar a famosa Doppelbock Salvator em chope, é possível se deliciar com comidas típicas da região e muita música tradicional da Baviera.

Maß (caneca de 1L) de Salvator

Origens e importância da Starkbierfest

O que começou como uma tradição oficial dos governantes no século XVIII, a de abrir o primeiro barril de Starkbier todo mês de abril, acabou transformando-se numa celebração, depois que foi permitido o consumo público de cerveja neste período do ano. Em meados do século XIX, quando modificou-se a data do evento para março, o período da festa foi extendido e passou a ser conhecido como Salvator-Ausschank, o “serviço da Salvator”.

Starkbierfest-Zeit significa “é tempo de Starkbierfest”. Assim falam os cidadãos com alegria quando se aproxima a época do evento, que marca a transição do rigoroso inverno da região para a primavera, sendo encarado como a “quinta estação do ano” por eles. Dessa forma, é possível perceber a importância da festa para os alemães. Os três principais endereços da celebração à cerveja forte são a Paulaner Nockherberg, a Augustiner Keller e a Löwenbrau Keller. As três cervejarias produzem lotes especiais e ultra frescos de suas Doppelbocks para o evento. Escuras e bastante maltadas, com sabores e aromas de frutas secas e caramelo, possuem muita potência alcoólica, girando em torno de 7 a 9% de ABV.

Espaços lotados e mesas disputadas

Salão com palco de música típica da Baviera

Há quem acredite que tomar um Maβ de Festbier na Oktoberfest é suficiente para subir nas mesas e dançar as canções típicas alemãs. Imagina então um Maβ de Salvator? Os relatos de histórias surreais durante a Starkbierfest são muitos, principalmente daqueles que não estão acostumados a beber nada além das leves e clássicas Helles. O jargão mais utilizado pelos frequentadores é “você sabe como chegou, mas nunca lembra como saiu da festa”.

Há um salão com banda, que toca as músicas tradicionais bávaras e pop alemão, e outro com mais cara de boate, que toca músicas da atualidade. Além disso, o Biergarten está sempre ali fora caso você precise pegar um ar fresco.

Os espaços ficam lotados e as mesas são altamente disputadas. É necessário chegar bem cedo para conseguir sentar, e posteriormente ficar em pé nos bancos, que ocasionalmente acabam quebrando. Mas não tem problema, faz parte do ritual da festa

É possível fazer reservas on-line com antecedência, mas há de se pagar um preço salgado (em torno de 129 euros pela mesa para 10 pessoas, com direito a uma cerveja para cada um). Os preços (10,90 euros por litro de cerveja) são caros se comparados com qualquer supermercado local, onde uma Salvator custa apenas 1 euro.

O surgimento da “Starkbier”, a Doppelbock Salvator

Diz a lenda que a primeira receita do estilo Doppelbock foi criada por monges em torno de 1629, na região de Munique, e logo batizada de Salvator. A explicação para o nome remete ao período da Quaresma, entre a quarta-feira de cinzas e a Páscoa, onde os religiosos ficavam 40 dias jejuando, porém era permitido o consumo de cerveja. Dessa forma, a potente “Starkbier”, também conhecida como “pão líquido” à época, era generosa em calorias e álcool, o que garantia uma boa sustância para aguentar os quase dois meses que os monges ficavam sem ingerir comida. Assim, ela se transformou numa verdadeira “salvadora”. Além disso, o nome também homenageava àquele o qual os monges veneravam, o “Salvador” dos homens, Jesus Cristo.

Por quê o nome de todas Doppelbocks terminam em -ator?

Sabemos o quão orgulhosos os alemães podem ser quando o assunto é cerveja. Com a fama que a Salvator começou a ganhar na época, todos os mosteiros da região passaram a batizar as suas Starkbiers, que viriam a ser as Doppelbocks, de Salvator. Posteriormente, com a aquisição dos direitos exclusivos de exploração do nome pela Paulaner, as outras cervejarias tiveram que adaptar seus rótulos, e para não se distanciar totalmente do nome original que deu fama ao estilo da cerveja, acabaram criando uma nova tradição, a de manter a última sílaba “ator” no final dos nomes para continuar fazendo referência à Salvator original. Dessa forma, temos hoje por exemplo, a Triumphator da Löwenbrau, a Maximator da Augustiner, a Animator da Hacker-Pschorr, além de centenas de outras Doppelbocks com “ator” no final.

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