Microcervejaria artesanal em Munique: Hopfenhäcker
“Hacker é aquele que tenta fazer torradas em uma máquina de café”.
Hopfenhäcker — ou Os Hackers do Lúpulo
Uma verdadeira raridade. A microcervejaria Hopfenhäcker se destaca pela qualidade e variedade de rótulos, em bairro próximo ao centro de Munique, cidade marcada pela tradição das cervejarias seculares.
O movimento ainda é tímido, muita gente entra desconfiado, sem saber do que se trata, mas alguns clientes já são fiéis, e buscam não só uma garrafa, mas engradados cheios. Afinal, afirma um deles, “temos que aproveitar, pois a cervejaria só abre em curtos espaços de tempo, às sextas e sábados”. Apesar da cena craft estar se desenvolvendo a passos rápidos no país recentemente, Werner Schuegraf, o mestre cervejeiro e criador da marca, alerta para o fato de que ainda há muito chão a ser percorrido por aqui.
O potencial de inovação no país era imenso, então porque não tentar? Esse passou a ser o lema da Hopfenhäcker. Apesar disso, Werner sabia que “inovação” era uma palavra que deixava os mais tradicionais bebedores alemães de cabelo em pé, mas quis aceitar o desafio assim mesmo. A tradição, muitas vezes pode ser um fator de atraso no desenvolvimento do cenário cervejeiro artesanal.
Como tudo começou
A história da marca começa em 2013, quando Werner conhece Matt, um estudante e homebrewer norte-americano, que está de passagem por Munique, fazendo estágio numa pequena cervejaria e planejando o seu mestrado na Doemens Akademie. Eles decidem unir a criatividade de Matt com a experiência e obsessão pela perfeição de Werner, que tem um profundo conhecimento e interesse em tecnologia do processo produtivo cervejeiro. Soluções não-convencionais para novos ou antigos problemas são um verdadeiro fascínio para ele.
Werner se formou em Weihenstephan, e logo em seguida começou a trabalhar num pub local chamado Isa-Bräu. Após participar do processo de expansão do bar por diversas cidades alemãs, ele passou a trabalhar na venda e instalação de equipamentos para cervejarias ao redor do mundo. O trabalho acabou o levando para os Estados Unidos, na década de 90, quando o movimento craft estava em ebulição. A vivência neste ambiente pujante o inspirou por completo e mudou a sua forma de enxergar a bebida.
A difícil tarefa de formar bebedores de artesanais em Munique
Werner iniciou a construção de sua cervejaria no quintal de casa, mas em 2016 mudou para o atual endereço, no bairro de Haidhausen. A capacidade produtiva é mínima, se comparada às gigantes que habitam a cidade. Por ano, a cervejaria produz 1.000 hectolitros, em uma média de 2 novos batches de 10 hectolitros por semana. Apesar de sua cerveja favorita ser o último lote da IPL “IP Brothers”, o bestseller e flagship deles é a “Hadgehopfter”, a clássica lager de Munique, em uma versão lupulada com dry-hopping de Simcoe, Centennial e Perle.
“Uma das partes mais difíceis é fazer o cliente pagar o preço que vale o seu esforço. Os cervejeiros não estão acostumados a pagar um preço adequado pela bebida na Alemanha”
Neste ponto os alemães são mesmo mal-acostumados. As garrafas de 500ml das cervejas clássicas, como Paulaner, HB e Augustiner custam menos de 1 euro nos supermercados. Dessa forma, fica difícil para as artesanais competirem, quando conseguem no máximo praticar um preço médio de 3 euros para as suas linhas mais simples. Além da barreira do preço, outro ponto de conflito é a questão cultural da compreensão do que é, de fato artesanal.
“Culturalmente, o termo “cerveja artesanal” é compreendido pelo consumidor médio alemão como sendo um mix completamente louco de ingredientes, que estão distantes dos “benefícios” que uma cerveja tradicional feita sob a Lei da Pureza, supostamente apresenta”.
Mas nós sabemos bem que isso é apenas uma jogada de marketing, que se vale do desconhecimento técnico de muitos bebedores, e como bem diz Werner, também de muitos jornalistas, que acabam propagando este fato como sendo sinônimo de qualidade.
“Você tem que explicar muito sobre cerveja, mas no final, a maior parte dos clientes entende o que você está falando e gosta do sabor”.
Perspectivas
“É uma pena isso ocorrer em uma cidade que se diz ser o centro cervejeiro do mundo”.
A Hopfenhäcker conseguiria expandir levemente sua produção, mantendo os equipamentos que possui atualmente, não fosse o problema das vendas. Segundo Werner, a maioria dos bares e restaurantes da cidade estão ligados às grandes cervejarias, controladas por conglomerados, como Ab-Inbev (dona da Löwenbräu, Franziskaner dentre outras, e Heineken), o que torna difícil o acesso a este tipo de mercado. Dessa forma, para ele quem perde é o consumidor, que “não encontra cervejas interessantes nesses estabelecimentos”. As práticas de monopólio, portanto dificultam ainda mais a tarefa de formar novos bebedores de artesanais na Alemanha.
“Ainda há muito a ser percorrido por aqui”. Ele afirma que a escola cervejeira americana, que foi um ponto decisivo na sua escolha por fazer cervejas artesanais, ainda o inspira bastante. Ele comenta que ano passado visitou San Francisco e viu senhores de 70 anos pedindo IPAs no almoço. “Isso é incrível”.
Cervejas de linha
IP Brothers — IPL com Amarillo, Centennial, Citra, Chinook e Taurus.
Kill Bill — Weissbier com coentro, laranja, tangerina e cominho.
The Wuiderer — Imperial Red Ale com Amarillo, Centennial e Citra.
Smokey Sten — Rauchbier
Handgehopfter — Lager com Centennial e Simcoe.
Hanfblüte — Weissbier com Sorachi Ace, Citra e flor de Hänfblute (lembra a violeta, mas tem o mesmo nome da maconha).
Röter München — Märzen com Amarillo, Centennial, Citra e Taurus.