Põhjala e o mercado de cerveja artesanal na Estônia

Victor Kling
Ladobier
Published in
5 min readNov 19, 2019
Cervejas da Põhjala. Foto: Iauri Iaan.

No extremo norte, há uma terra de caos e escuridão, habitada por terríveis criaturas. É muito frio e lá está a fonte do mal. Este lugar horrível pertence à mitologia finlandesa e estoniana. Talvez você esteja familiarizado com o nome, pois muitos artistas locais prestam-lhe homenagem. De escritores a bandas de rock. Há alguns anos atrás, uma cervejaria decidiu engrossar a lista ao adotar também o nome, e ficou conhecida como cervejaria Põhjala.

O significado literal de Põhjala é “terras do norte”, mas a palavra refere-se também diretamente a este lugar mítico descrito acima. Enn Parel, um dos fundadores da cervejaria, diz que escolheu este nome para brincar com o elemento geográfico, já que estão localizados no 59º paralelo norte, separados da Finlândia e da Suécia pelo Mar Báltico. “Outros preferem nomes de ruas, bairros, cidades ou mesmo de países. Queríamos brincar com a geografia, mas não de forma limitante, uma vez que Põhjala é um local abstrato”.

“A Estônia é um país tradicionalmente cervejeiro, e não do vinho. As pessoas não têm medo de provar coisas novas aqui. Ao contrário da Bélgica, por exemplo, estamos muito abertos às novas tendências”.

Já há algum tempo a Estônia vem se destacando como um país cervejeiro, figurando constantemente entre os 10 primeiros colocados em relação ao consumo de cerveja per capita em todo o mundo. Com a missão de recolocar o país no mapa mundial da cerveja, em 2013 é fundada a Põhjala. Em 6 anos, conseguiram construir uma marca sólida, ganhando múltiplos mercados, exportando agora para aproximadamente 40 países.

Põhjala taproom. Foto: Renee Altrov.

Como tudo começou

Um país de pequenas proporções, com uma gigantesca cultura cervejeira. Em uma disputa com os poloneses, a cidade de Tartu afirma ser o lugar onde nasceu o estilo Baltic Porter. Independentemente, se isso é verdade ou não, o que importa é que eles são muito orgulhosos de ter histórias em torno da cerveja.

Enn Parel. Foto: Iauri Iaan.

Há cerca de 17 anos atrás, Enn começou a beber e se interessar pela bebida. Ele costumava pesquisar e viajar, apenas para provar e saber mais sobre cervejas. O interesse tornou-se cada vez mais profundo, até que ele se transformou em um homebrewer.

Quando surgiram com a idéia de fundar uma marca de cerveja, todos os sócios tinham outros empregos, e este era apenas um projeto paralelo. Tudo começou bem devagar e com cuidado. Eles primeiro testaram como as cervejas eram recebidas pelos clientes, fazendo produção cigana. Depois de um começo muito bem sucedido,

decidiram construir a sua própria fábrica. Ao mesmo tempo, continuaram produzindo cerveja sob contrato. Tiveram que investir bastante. Quando a fábrica estava prestes a ficar pronta, Enn e um parceiro abandonaram os seus empregos. Nos primeiros anos, sequer recebiam salário pela cervejaria.

Quando decidiram entrar no mercado, havia somente duas opções macro disponíveis se você quisesse beber localmente. Uma era a Viru, e a outra Olvi (que é finlandesa, por sinal). Cervejas importadas: apenas alguns carregamentos de Brewdog, Anchor e outros estavam chegando. Enn Parel diz que Põhjala foi definitivamente um dos principais responsáveis pelo rápido desenvolvimento da cena artesanal no país, colocando a Estônia na lista das cervejarias europeias high-end.

O fator chave para o sucesso

Algumas cervejarias alcançam o sucesso com o que chamamos de “hero-beer” (cerveja-herói), uma cerveja que se destaca na multidão, elevando a marca a outro patamar, fazendo a cervejaria ganhar fama entre os bebedores. Mas para a Põhjala, o sucesso deve-se a um “herói Brewmaster”. Quando o novo mestre cervejeiro se juntou à Põhjala, a cervejaria saltou anos à frente de qualquer outra no país, tanto em termos de qualidade, como de criatividade e execução. Enn não nega que as suas cervejas eram de um nível inferior, se comparadas com as do Chris, “Não estaríamos onde estamos hoje, se não fosse pelo Chris”.

Chris Pilkington. Foto: Iauri Iaan.

Chris Pilkington é ex-cervejeiro da Brewdog, na Escócia. Eles se conheceram quando um dos sócios da Põhjala foi para Aberdeen realizar um estágio. Lá, tiveram a chance de provar as cervejas do Chris. O convidaram para Tallinn e acabaram fazendo uma oferta: ganhar o mesmo salário e tornar-se sócio da marca. Num piscar de olhos, Chris já estava lá, preparando receitas incríveis na Estônia.

Hoje, ele é a mente por trás de todas as receitas. Enn e seus associados às vezes criam o conceito para algumas cervejas, mas Chris transforma as ideias em receitas. Desta forma, os fundadores ainda estão envolvidos de alguma forma no processo de fabricação, mas de acordo com Enn, eles nem sabem como utilizar o novo equipamento “é como uma nave espacial”.

A nova cervejaria. Foto Renee Altrov.

Essencialmente estoniano

As IPAS são cervejas fantásticas, vendem bem. Mas o que eles realmente gostam de fazer é experimentar. O país está coberto de floresta, cerca de 60% de todo o território. Então as pessoas estão acostumadas a viver perto da natureza. Ir aos bosques colher cogumelos, por exemplo, é uma tradição. Por causa disso, a Põhjala decidiu desenvolver uma linha especial chamada “Forest Series”.

Para este conjunto de cervejas, foram buscar todos os ingredientes na floresta. “É uma das coisas mais interessantes que fazemos”. Que tal uma Porter com Porcini? Para sobremesa você também pode ter uma Brown Ale com baunilha e pinha.

Enn não sabe realmente se este é o “auge” do que eles fazem, mas afirma que sem dúvida estas são umas das cervejas mais essencialmente estonianas que você poderia provar. Confira aqui a lista completa de cervejas.

Em alta

Em 2013, a Baltic Porter foi um sucesso imediato. Os primeiros lotes foram sempre esgotados em poucas horas. Mas agora, as vendas de Pilsen batem a de Baltic Porter todos os dias. Mas seu best-seller atual é a Virmalised, ou Aurora Borealis — uma American IPA.

Fatos e números

2019 foi o seu primeiro ano na nova e grande cervejaria.

A Aurora Borealis é de longe o seu best-seller.

Volumes de produção:

Ano passado 5500 Hl.

Este ano 11000 Hl.

Mercado: A Estônia representa 30% do seu mercado. Dos 70% restantes para exportação, o maior comprador é a França. Finlândia é o número 2, China 3.

Fachada da fábrica nova. Foto: Iauri Iaan.

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