Tudo que você precisa saber sobre o estilo Belgian Tripel

LadoBier
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6 min readMay 14, 2018
foto: divulgação Westmalle

“É uma sinfonia cervejeira, se em algum momento existiu tal coisa”.

O famoso escritor de homebrewing, Charlie Papazian, usou esta expressão para ressaltar a enorme complexidade sensorial que o estilo Belgian Tripel apresenta. Geralmente com o colarinho denso, podendo variar da cor amarelo claro ao dourado intenso, é uma cerveja que tem como protagonistas o malte e a levedura. As características sensoriais marcantes são as notas frutadas, que podem trazer aromas que vão desde banana, pêra e melão à laranja, e condimentadas que remetem a cravo e pimenta. O malte contribui dando um toque sutil de mel e cereais à cerveja. O final pode variar de suavemente doce à seco, com um evidente aquecimento alcoólico.

“A grande diferença entre a Bélgica e outras nações cervejeiras é a variedade. Os belgas têm mais de 25 estilos nativos com incontáveis variações regionais, e escolhem cerveja como os franceses escolhem vinho”.

Michael Jackson, grande teórico e crítico de cerveja, já dizia que a riqueza do portfólio belga é incontestável. São tantas cervejarias, marcas e estilos, cada qual com um perfil diferente de aroma e sabor, que dá pra se perder. É a bebida nacional do país, como o vinho na França. Praticamente toda cidade belga tem uma cervejaria.

Porquê o estilo se chama Tripel?

Historicamente, as abadias belgas passavam a água pela caldeira de mostura três vezes, usando os mesmos grãos, o que gerava cervejas de intensidade alcoólica e sabor diferentes. A primeira passagem extraía mais açúcares, e gerava uma cerveja forte, que era a Tripel. A segunda e terceira passagens, geravam respectivamente cervejas menos intensas, que eram as Dubbels e as Blonds.

Outra explicação sobre a origem do nome Tripel, remete à marcação de barris nas antigas adegas, para indicar a potência alcoólica das cervejas. Nos locais de guarda, utilizavam-se cruzes de ferro coladas nos barris, com uma, duas ou três hastes (para marcar as Tripels).

Há ainda no imaginário popular, a ideia de que Tripel, Dubbel e Quadruppel dizem respeito à quantidade de vezes que a cerveja foi filtrada. Atualmente, nenhuma dessas explicações faz mais sentido. Cada um dos estilos (Blond, Dubbel, Tripel e Quadruppel) são produzidos de forma independente, e estocados de maneira mais moderna.

Cerveja La Trappe Tripel servida em um Goblet. divulgação La Trappe.

No copo ideal é ainda melhor

A etiqueta do copo para os belgas é coisa séria. A tulipa é o modelo mais versátil, se adequando às Tripels, Saisons, Blonds, Lambics, Red e Brown Ales de Flandres. O corpo arredondado captura os aromas, e a borda voltada para fora, faz o encaixe perfeito com a boca. Outro copo recomendado para degustar a Tripel é o Goblet (servindo a La Trappe na foto). Indicado para cervejas de Abadia e Trappistas, sua boca larga ajuda a propagar os aromas destas cervejas que são intesas. Como o seu visual é elegante, ajuda a tornar a experiência ainda mais especial. Além disso, a haste evita que o calor das mãos passe para a bebida.

Harmonizações

A Tripel é uma cerveja versátil para criar harmonizações. Pode-se, por exemplo optar pela matriz de complementaridade ou semelhança, e harmonizá-la com pratos de carne com tempero picante, como um frango ou um peixe apimentado. Nesse caso, a picância da carne vai combinar com as notas condimentadas da cerveja, potencializando ainda mais o sabor dos dois. A sensação de ardência será atenuada pelo forte teor alcoólico que geralmente apresenta, o que também ajudará a reduzir a sensação de untuosidade (gordura) na boca, caso a carne escolhida seja gordurosa. A Tripel combina também com queijos mole e de sabor intenso, como um brie. Outra harmonização possível é parear a Tripel com vegetais in natura, pois dessa maneira a cerveja vai servir como um verdadeiro tempero para eles.

foto: divulgação Chimay

Toda Tripel é trappista?

Um ponto que gera dúvida para muita gente é o selo Trappista. A diferença entre uma Tripel Trappista e uma Tripel de Abadia é puramente legal, e está baseada na certificação ATP (Authentic Trappist Product), emitida pela associação internacional trappista, que valida algumas cervejarias quanto à sua forma de produção. Para serem trappistas, elas devem obedecer aos seguintes critérios: devem ser produzidas em um mosteiro trappista, sem visar o lucro, revertendo os ganhos para custear as depesas dos monges. O que sobra vai para obras de caridade. Tripel de Abadia é toda cerveja feita seguindo as diretrizes do estilo Tripel, mas que não possui o selo trappista.

As Tripels com melhor avaliação do Brasil

Abaixo segue a relação das Melhores Belgian Tripel do Brasil, na data de publicação desta matéria, segundo o ranking popular do aplicativo Untappd. A média das avaliações, variam de 0 a 5:

1 — Bodebrown — Tripel Montfort Wood-aged series Merlot (2014) — 4.05;

2 — Bodebrown — Tripel Montfort Wood-aged Chardonnay — 3.93;

3 — Bodebrown — Tripel Montfort — 3.88;

4 — Wäls — Madlab Tripel Barrel-aged — 3.87;

5 — Wäls — Tripel — 3.86;

6 — Wäls — Madlab Fruit Vintage — 3.83;

7 — MF — Tripel Sorachi Ace — 3.83;

8 — Falke Bier — Monasterium — 3.81;

9 — Bodebrown — Tripel Montfort Rum Wood-aged — 3.79;

10 — Anner — Maria Degolada — 3.74.

Melhores Belgian Tripel do Mundo

Na data de publicação desta matéria, segundo o ranking popular do aplicativo Untappd:

1 — Brouwerij Van Steenberge — Tripel Van de Garre — 4.12;

2 — Sante Adairius Rustic Ales — Meh… — 4.09;

3 — Monkish Brewing Co. — Caffè Della Vita — 4.07;

4 — Funky Buddha Brewery — Saint Toddy — 4.06;

5 —Le Trou du Diable — La Buteuse Brassin Spécial Brandy — 4.06;

6 — Warped Wing Brewery — Pirogue Belgian Black Tripel — 4.06;

7 — Allagash Brewing Company — Curieux — 4.06;

8 — American Solera — Man-made Earthquake — 4.05;

9 — Bodebrown — Tripel Montfort Wood-aged series Merlot (2014) — 4.05;

10 — Browerij Bosteels — Tripel Karmeliet — 4.03.

Já segundo o site Ratebeer, a campeã do ranking é a Tripel Karmeliet, com uma média de 3.93, e mais de 3 mil avaliações. E pra você, qual é a melhor?

Receita

É cervejeiro caseiro? Então confira abaixo a receita sugerida por Dave Law e Beshlie Grimes, em seu livro de receitas publicado no Brasil pela Publifolha.

Descrição: Nesta receita, os lúpulos ajudam a reforçar o aroma de cravo, combinando com o sabor arredondado do malte, que disfarça bem o alto teor alcoólico.

Densidade Original: 1082

Água: 23 litros

Grãos do Mosto: Malte Pilsen (3,35kg), Malte 2-row pale (1,7kg), Carapils (335g), Malte de centeio (335g), Açúcar candi belga claro (1kg).

Tempo de Brassagem: 1 hora.

Lupulagem: East Kent Goldings (38g) — 60 minutos, Hallertauer (21g) — 60 minutos, Saaz (19g) — minuto final. Whirfloc 1 pastilha nos 15 minutos finais.

Duração da fervura: 1 hora

Levedura: Belgian Abbey WY-1214.

Densidade final esperada: 1014

ABV estimado: 8.9% álcool.

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